Além do ranking das 500 maiores companhias do setor, feito em parceria pelas equipes da revista "Globo Rural" e da Serasa Experian com base em resultados financeiros e em relatórios de responsabilidade social e ambiental, o tradicional anuário apresenta as "Melhores do Agronegócio" em 2017. E no ano passado a maior foi também a melhor. Em uma rara combinação, o braço brasileiro da multinacional americana Cargill foi o grande destaque da premiação realizada na noite de ontem em São Paulo.
Presente desde 1965 no Brasil, onde mantém ativos em 17 Estados e no Distrito Federal e conta com cerca de 10 mil funcionários, a Cargill é a décadas uma das maiores originadoras, processadoras e exportadoras de grãos em atividade no mercado local. Em 2017 liderou as exportações brasileiras de soja, carro-chefe do agronegócio no país, e obteve receita líquida total de R$ 34,2 bilhões, 6% a mais que em 2016, e encerrou o exercício com lucro líquido de R$ 532 milhões.
À "Globo Rural", ainda sem saber que a Cargill havia sido escolhida como "a melhor" do setor, Luiz Pretti, presidente da empresa no Brasil, realçou a importância de um bom planejamento para a conquista dos resultados observados. "Estamos vivenciando no Brasil um período crítico, mas a demanda por alimentos está crescendo. Não vamos ficar parados aguardando esse momento passar", afirmou o executivo à revista. Para não perder o bonde, lembrou Pretti, a Cargill investiu R$ 4,7 bilhões no mercado brasileiro nos últimos seis anos.
Boa parte desses aportes foi aplicada em logística, sobretudo para incrementar a infraestrutura necessária para facilitar o escoamento das exportações de soja e milho pelo chamado "Arco Norte". E está na logística uma das maiores preocupações atuais da múlti no mundo. Como informou o Valor em diversas oportunidades, a Cargill é uma das companhias que lideram as críticas ao tabelamento dos fretes rodoviários no país, que, para atender a uma demanda dos caminhoneiros - que fizeram ampla greve em maio - elevou custos e tirou parte da competitividade das rotas de escoamento pelo Norte.
Também por causa dessa "turbulência" nas estradas, Pretti garante que a múlti ainda aguarda a definição do modelo de construção da Ferrogrão, ferrovia entre Sinop, no norte de Mato Grosso, a Miritituba, no Pará, para confirmar se participará dos investimentos necessários, previstos em cerca de R$ 14 bilhões. Para alcançar o posto de maiores melhor do agronegócio em 2017, conforme o novo anuário, a Cargill liderou o ranking da indústria de soja e óleos. De quebra, a Cargill Nutrição Animal foi considerada a melhor no segmento de rações.
Conforme o anuário, a escolha das melhores empresas em cada área foi realizada com base em demonstrações contábeis enviadas à consultoria Serasa Experian e nos questionários da pesquisa.
Assim, ficaram no topo, além da Cargill, Louis Dreyfus Company (alimentos e bebidas), C.Vale (atacado e varejo), Nutriza (aves e suínos), Copersucar (bioenergia), Gavilon do Brasil (comércio exterior), Ihara (defensivos agrícolas), Screw (ferramentas e implementos), Yara Brasil (fertilizantes), Agroterenas Citrus (frutas, flores e hortaliças), 3corações (indústria do café), Minerva Foods (indústria da carne bovina), Bela Vista (laticínios), Moinhos Anaconda (massas e farinhas), SLC Agrícola (produção agropecuária), Fibria (reflorestamento, celulose e papel), Vetnil (saúde animal), Jotabasso (sementes), e Jacto (tratores e máquinas).
Nas categorias especiais, a "campeã em sustentabilidade" foi a Usina Coruripe, de Alagoas, que criou toda uma estrutura para otimizar o uso dos recursos naturais e a preservação do ambiente, e a "campeã entre as cooperativas foi a catarinense Aurora Alimentos, grupo que rivaliza com as gigantes BRF e Seara (controlada pela JBS) nos mercados doméstico e externo de carnes de frango e suína. Já a fluminense Café Favorito, que vem avançando no segmento de cafés de qualidade superior, foi a "campeã entre as pequenas e médias".
Continuar crescendo em meio às turbulências políticas e econômicas, como aconteceu em 2017, é o desafio das empresas de agronegócios que atuam no país neste e nos próximos anos. E para Sérgio lazzarini, professor titular de pesquisa e pós-graduação do Insper, o governo, qualquer que seja, tem responsabilidades para isso, por menores que sejam num setor em que diversas cadeias estão integradas globalmente, guiadas por preços formados no mercado externo.
Em entrevista à "Global Rural" que está chegando às bancas, ele defende que o governo brasileiro tenha uma participação menos ativa no que tange às políticas setoriais, mas mais inteligente. "Na área de pesquisa e desenvolvimento, mirando coisas que tenham ganhos sociais, funções de bem público, que são mais arriscadas. Pesquisas em sustentabilidade ambiental, por exemplo, que podem ter menos interesse do setor privado", afirma o professor.
E, claro, em infraestrutura de transporte para facilitar o escoamento das produções, com estímulos a investimentos. "É preciso criar um ambiente regulatório estável, com fortalecimento de agências reguladoras, redução de intervenção, para que o capital privado venha e possa investir de uma forma mais segura", concluiu.
As informações são do jornal Valor Econômico.