Real valorizado muda perfil de exportação de lácteos

Real valorizado, mercado interno aquecido e preços firmes da matéria-prima têm desestimulado as exportações brasileiras de lácteos. Para Marcelo Pereira de Carvalho, diretor da AgriPoint e coordenador do MilkPoint, "se quiser ser um exportador consistente, o Brasil terá de reduzir custos na produção de leite para ganhar competitividade. Do contrário, continuará refém dos humores do câmbio".

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Real valorizado, mercado interno aquecido e preços firmes da matéria-prima têm desestimulado as exportações brasileiras de lácteos e criado uma situação inusitada: as vendas de leite condensado ganharam importância no total exportado superando o leite em pó, historicamente o lácteo mais relevante nas exportações brasileiras.

Entre janeiro e abril deste ano, o Brasil exportou US$ 51,418 milhões em lácteos. Desse total, US$ 12,155 milhões foram leite em pó, uma fatia de 23,6%, e US$ 14,621 milhões, leite condensado, ou 28,4%. No mesmo período do ano passado, essa participação era bem diferente. Com as exportações brasileiras alcançando US$ 73,189 milhões, 52,2% eram leite em pó e 20,8%, leite condensado. Os percentuais foram calculados a partir de dados de exportações compilados pela AgriPoint Consultoria.

Ainda que os preços do leite em pó estejam em recuperação no mercado internacional e, portanto, pudessem estimular as exportações brasileiras, o câmbio tira vantagem competitiva do Brasil. Atualmente, a tonelada está na casa dos US$ 4.000 na exportação. "Mas o mercado interno está pagando o equivalente a US$ 4.500", diz Jacques Gontijo, presidente da Itambé. De acordo com ele, com um dólar entre R$ 1,70 e R$ 1,80 não é viável exportar.

Mesmo tendo preços inferiores (a tonelada é exportada a US$ 1.600) ao do produto em pó, o leite condensado, vendido principalmente para Angola, Peru e Nigéria, garante mais rentabilidade ao exportador porque se utiliza menos matéria-prima em sua fabricação. Gontijo explica que enquanto são necessários oito litros de leite para produzir um quilo de leite em pó, são necessários dois litros para produzir um quilo de leite condensado.

Em volume, o Brasil exportou 3,112 mil toneladas de leite em pó e 7,750 mil de leite condensado entre janeiro e abril deste ano. No mês passado foram apenas 25,3 toneladas de leite em pó e 3,124 mil toneladas de leite condensado. "Não exportamos nada de leite em pó em abril", diz o presidente da Itambé.

Outro efeito da crônica questão do câmbio é que as importações de lácteos também cresceram, uma vez que o produto do exterior fica competitivo em relação ao leite nacional. Além disso, está mais difícil exportar lácteos para a Venezuela, um cliente tradicional. Hoje, o país está se abastecendo na Argentina e Uruguai, mais competitivos que o Brasil.

Para Marcelo Pereira de Carvalho, diretor da AgriPoint e coordenador do MilkPoint, "se quiser ser um exportador consistente, o Brasil terá de reduzir custos na produção de leite para ganhar competitividade. Do contrário, continuará refém dos humores do câmbio".

Nota MilkPoint

"Complementando, na realidade para sermos exportadores consistentes teremos de ter maior competitividade, que poderia em tese vir via câmbio, como no passado recente, via custos (como sintetizado na matéria) ou ainda acreditar que os preços no mercado internacional serão mais altos do que os atuais". (Marcelo P. de Carvalho)


A matéria é de Alda do Amaral Rocha, publicada no jornal Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe MilkPoint.
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Leonardo Medeiros Alvim
LEONARDO MEDEIROS ALVIM

CONSELHEIRO LAFAIETE - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 26/05/2010

As expectativas do produtor de leite eram as melhores para o ano de 2010, com fim da crise iniciada em 2008 nos Estados Unidos criou se um ânimo diferenciado dos demais anos e crises produtivas passados. As industrias investiram no consumo interno durante o ano de 2009 o que chamou o consumidor brasileiro de a "bola da vêz", foi investimento correto e bastante lucrativo, o ano foi bom. Tais fatores foram importântes para que o produtor acreditasse que 2010 fosse um ano diferenciado, com preços do produto em alta e insumos em baixa, tudo que o produtor deseja. Mas durou pouco, acho que o ano está apenas começando, alguma coisa nova pode vir acontecer, mas acredito que estamos iniciando um período de queda de preços do leite em plena entresafra, o que vai fazer o nosso produtor fazer algumas correções, deixar algum investimento pra depois, reduzir custos na produção e produzir leite de melhor qualidade para compensar a queda de preços em litro e mais barato.
Jose Ronaldo Borges
JOSE RONALDO BORGES

CUIABÁ - MATO GROSSO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 26/05/2010

Da Agência Estado
Déficit externo é recorde desde 1947

Refletindo o forte ritmo da atividade econômica e o câmbio valorizado, o saldo das contas externas, incluindo operações de comércio, serviços e transferência de rendas entre o Brasil e o exterior em abril, foi negativo em US$ 4,58 bilhões. O valor do déficit na chamada conta corrente do balanço de pagamentos foi recorde para o mês de abril na série iniciada em 1947, segundo informou ontem o Banco Central.

Mês após mês a conta corrente brasileira tem registrado déficits recordes. Com isso, no acumulado de janeiro a abril, o saldo negativo somou US$ 16,73 bilhões, mais de três vezes (246,4%) acima do déficit verificado no primeiro quadrimestre de 2009. Dessa forma, somas cada vez mais elevadas de dólares têm deixado o País por meio dessa conta.

Mas o que realmente preocupa nas contas externas brasileiras é que esse crescente saldo negativo tem cada vez menos sido financiado por dólares voltados para a produção, os chamados investimentos estrangeiros diretos (IED). Por exemplo, nos quatro primeiros meses deste ano, o IED foi suficiente para cobrir apenas 47,1% do déficit externo. Em igual período de 2009, a situação era bem diferente: os investimentos produtivos foram quase duas vezes superiores ao déficit na conta corrente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Marco Antonio Parreiras de Carvalho
MARCO ANTONIO PARREIRAS DE CARVALHO

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS

EM 24/05/2010

Muito boa a matéria original e, também, os comentários.
Na simplicidade de minha participação na pecuária leiteira, vejo que nos resta como alternativa, talvez única, a REDUÇÃO NOS CUSTOS. Redução nos custos, a meu ver, significa algo entre o programa "balde cheio", onde se procura leite á pasto e os confinamentos impecáveis. Penso que a silagem de milho sendo trocada pela cana x uréia, o concentrado " 1 para 3" + feno+ caroço de algodão etc, etc por um concentrado mais econômico (tipo alta energia mas com proteína tipo 20%). Que nossas vacas saibam pastar, sobretudo à noite (que é mais fresca). Creio que as situações intermediárias seriam as mais corretas, porque realmente esperar que o nosso real seja depreciado, isto não acontecerá...
Pensar no "ótimo econômico e não no ótimo produtivo". Talvez nossa vaidade tenha que se contentar com lactações de 4-6 mil Kg de leite, mas com despesas bem menores!
O resultado final, possivelmente, seria queda de produção da ordem de 30-40%.
Se o corte nos custos de produção mesmo assim continuassem, apesar da recuperação dos preços (que sempre acontecem), não voltaríamos a ter tantas oscilações. Enfim, teríamos mais paz para trabalhar, sem grandes solavancos!
Antônio Elias Silva
ANTÔNIO ELIAS SILVA

CAMPO ALEGRE DE GOIÁS - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 24/05/2010

Caro Marcelo,

Concordo que o único caminho é a redução de custos... O comportamento histórico do câmbio tem sido este: quando as commodities estão em alta, entra muitos dólares e o Real se valoriza; quando as commodities estão em baixa, entra poucos dólares e o Real se desvaloriza. Então, há um efeito compensação do câmbio em relação aos preços das commodities, pelo que não podemos contar com ele no longo prazo...

Graças às discussões de que tenho feito parte no Milkpoint, estou certo de que há espaço para que se reduzam custos de produção no país. No entanto, não creio ser possível a adoção de tecnologias mais racionais pelos produtores de forma massiva e no curto prazo. A resistência cultural é muito forte, e esse processo é lento. A não ser que haja uma política estatal forte de apoio ao setor, no sentindo de difundir tecnologias mais racionais, com crédito barato e farto para aqueles que adotem tecnologias mais adequadas, o setor não se tornará competivo nem mesmo no médio prazo.

Há algumas políticas de Estado que avalio sejam urgentes para que o Brasil ganhe o mercado internacional, quais sejam: estímulo creditício aos produtores que invistam em aumento de produtividade (melhoramento genético, irrigação, confinamento, etc); fortalecimento do cooperativismo; aprimoramento da comercialização; melhora da qualidade do produto; marketing do leite; dentre outras.

Não vejo, por outro lado, nada de positivo em limitar exportações, pois essa é uma política do govereno argentino, que vai levar aquele país a ser importador de carne em um futuro próximo, e é, portanto, deplorável. Queremos ter para o nosso leite o maior mercado possível, e não o contrário. O foco deve ser no produtor, e não no consumidor. Se aquele estiver feliz, os demais elos da cadeia serão sustentáveis.


Abraço,

Antônio Elias
Jose Ronaldo Borges
JOSE RONALDO BORGES

CUIABÁ - MATO GROSSO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 24/05/2010

Outro ponto.

O real valorizado está inviabilizando as exportações de vários setores da economia e não somente a produção de leite. Há um novo processo de desindustrialização no Brasil e o balanço de pagamentos do Brasil está sendo afetado. A correção do cambio irá ocorrer possivelmente após a eleição, seja com Serra ou Dilma presidente. Se não ocorrer, em poucos anos o Brasil terá que recorrer novamente a organismos internacionais (FMI,BM) para fechas as contas.
José Humberto Alves dos Santos
JOSÉ HUMBERTO ALVES DOS SANTOS

AREIÓPOLIS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 24/05/2010

Os torcedores do fluminense reclamam do juiz, que beneficiou o Corinthiana; os críticos esportivos refutam a seleção brasileira por falta de criatividade...
Ora, srs, temos um programa nacional de aumento de renda que vive sendo contestado por problemas ideológicos.
Esse sempre foi o caminho: aumento de renda= aumento do consumo.
O cambio, as proteções alfandegárias, são complementos; o principal é o aumento de renda.
Só para termos uma idéia: será que é verdade que somos o maior produtor de laranja do mundo, exportamos 80% da produção, centralizada em 03 empresas, e o produtor está satisfeito?
Fiquei assustado com o planejamento canadense quando tomei conhecimento; os USA tem todas as condições de abarrotar o mundo c/ sua produção excedente e está pensando em cotas de produção para atender o mercado interno.
Nós temos o mercado interno na nossa frente; só não encherga quem tem ranço ideológico.
Jose Ronaldo Borges
JOSE RONALDO BORGES

CUIABÁ - MATO GROSSO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 24/05/2010

Há dois itens fundamentais na formação do custo de produção de Leite:

1) Despesas com pessoal, que é um custo praticamente fixo, independente da produção. Para reduzir este custo, teremos que demitir os empregados e contratar outros com salario menor, porem há todo um trabalho de formação de pessoal especializado perdido. Não é a melhor a solução.

2) Alimentação do gado, que é um custo variável em função da produção. Para reduzir este custo fatalmente haverá queda na produção e esta é a alternativa mais viável e colocada em prática para a maioria dos produtores.

Há quem diga que é mais vável aumentar a produção para reduzir proporcionalmente os custos fixos, mas em tempos de excesso de produção fatalmente contribuirá para diminuir mais ainda o preço pago pelo leite ao produtor.

Finalizando, para reduzir custos, a unica alternativa é reduzir a produção!
Marcelo Pereira de Carvalho
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 24/05/2010

Roberto,

O que conversei com a Alda e que argumento é que, se pegarmos uma comparação histórica, o câmbio não nos dá mais a vantagem que tínhamos há 7-8 anos atrás. Em 2002-2003, tínhamos provavelmente o leite mais barato do mundo, mas de lá para cá o real foi a moeda que mais se valorizou. O câmbio continuará nessa trajetória, ou ao menos se manterá ao redor do patamar atual, ou será "corrigido"? O Warren Buffet acha que o real deveria valer mais do que o dólar...

Não vou especular sobre câmbio porque não entendo disso e nem sei quem entende a ponto de prever. Mas, considerando que os investimentos continuarão e que o Brasil é mesmo a bola da vez, faz sentido achar que estaremos mais para o câmbio atual do que para o do início da década passada. Nesse contexto, perdemos nossa competitividade e, em termos teóricos, a exportação permanente só se fará se conseguirmos reduzir custos (ou se os preços internacionais se mantiverem em patamares acima dos atuais, o que é pouco provável).

Pois bem, conseguiremos reduzir os custos? Há modelos de produção dignos no Brasil e que permitem expandir a produção a um custo competitivo internacionalmente? Seriam modelos como o tentado pelos neozelandeses na Bahia? Ou produções familiares no sul do país, desde que remunerando o produtor?

Enfim, no cenário em questão, considerando que o câmbio atual é tendência, se quisermos exportar temos de reduzir custos, o que não quer dizer que isso seja possível. Outra pergunta que se faz é se realmente vale a pena exportar. Há um movimento nos EUA que prega fechar o mercado, deixar de exportar e virar uma espécie de Canadá no leite...veja que já há uma proposta para ser aprovada que cria um mecanismo de cotas de produção.

Considerando que o mercado externo é ainda modesto, a produção cresce onde o consumo cresce e é um mercado ainda bastante distorcido, será que focar as exportações é um caminho tão interessante assim? São mais questões do que respostas.

Abraco,

Marcelo
Roberto Jank Jr.
ROBERTO JANK JR.

DESCALVADO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/05/2010

Concordo integralmente com você, Laercio; faltou apenas completar sua última frase, como segue: "Caso não ocorra, resta a última opção, que é a redução dos custos, que fatalmente provocará uma queda nos preços ao produtor" e cujos reflexos do desestímulo inerente á tal medida aparecerão na sequencia, na forma de queda da produção.
Excepcionalmente discordo um pouco do Marcelo, que diz abaixo:
"Para Marcelo Pereira de Carvalho, diretor da AgriPoint e coordenador do MilkPoint, "se quiser ser um exportador consistente, o Brasil terá de reduzir custos na produção de leite para ganhar competitividade. Do contrário, continuará refém dos humores do câmbio".
Somos de fato reféns do câmbio mas, a meu ver, sem capacidade para reduzir custos de forma absoluta, sem ajustes de ordem fiscal e setorial.
Tenho insistido neste ponto porque parte dos agentes do setor cita eventual incompetencia ou falta de escala do produtor como motivos para nossos "altos" custos de produção (em U$). Discordo disso; considero o produtor com escala um agente que trabalha em media com custos mais altos que o de subsistencia ou o de baixa escala, já que ambos sobrevivem (de maneira indigna) com custos de produção marginal. Basta ver a tragédia que é o perfil do produtor médio do Brasil.
Desta forma, considero que a perda de competitividade externa não será solucionada com ganhos de profissionalização. Nesta equação faltam repostas que ainda não foram dadas.

Laércio Barbosa
LAÉRCIO BARBOSA

PATROCÍNIO PAULISTA - SÃO PAULO - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 20/05/2010

Acendeu a luz vermelha no setor.

Mesmo com as recentes altas de preço no mercado internacional, no mes passado somente conseguimos exportar o formidável volume de 25 ton de leite em pó, o que se resume a apenas um container!

No ano passado tivemos um déficit significativo na balança comercial de lácteos, mas que passou despercebido pois a produção interna praticamente não cresceu.

Neste ano esperava-se uma recuperação nas exportações, e pelos dados até agora o resultado será bem pior que 2009, com um déficit ainda maior e as exportações praticamente paralisadas.

Sem exportações não há como sustentar o aumento da produção aqui no Brasil, que tem sido consistente neste ano, devido à combinação de bons preços ao produtor, baixos custos de ração e clima favorável.

Como bem apontou o Marcelo Carvalho na complementação da matéria, a solução para a exportação depende de 3 fatores: aumento do preço no mercado internacional, cambio ou redução de custos.

Com a atual crise na Europa, não se espera um aumento dos preços de commodities no mercado internacional, que, pelo contrário, podem até cair.

Vamos esperar e torcer para que o efeito da crise seja a correção do cambio aqui no Brasil, com a desvalorização do real, que a meu ver é a única saída para o setor neste ano.

Caso não ocorra, resta a última opção, que é a redução dos custos, que fatalmente provocará uma queda nos preçoa ao produtor.

Qual a sua dúvida hoje?