![]() | Ramon Benicio Lima da SilvaRamon Benicio é engenheiro mecânico, trabalhou em empresas de alta tecnologia de sustentação a vida, como a alemã B. Braun Melsungen e a francesa Hospal - Rhone Poulanc. Atualmente gerencia a implantação de sistemas de TI ligados à administração financeira de empresas do setor de construção naval. Está desenvolvendo seu primeiro projeto ligado à pecuária de leite. |
MKP: Breve descrição pessoal e profissional.
Meu nome é Ramon Benicio Lima da Silva, sou engenheiro mecânico graduado em 1981 pela Universidade Federal Fluminense (RJ), e engenheiro de produção graduado em 1983 pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Recentemente apresentei minha tese de pós-graduação à COPPE (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia) da UFRJ para obtenção do grau de MSc em engenharia mecânica. Atuo há vários anos em gerência financeira e de TI em projetos de grande porte.
Trabalhei em algumas multinacionais e hoje desenvolvo um trabalho como consultor. Sou um entusiasta por modelagem matemática de problemas e no uso de Pesquisa Operacional. Estou desenvolvendo meu primeiro projeto ligado à pecuária de leite.
MKP: Como você imagina sua propriedade leiteira? E como está o andamento do projeto?
O projeto de propriedade leiteira no qual tenho trabalhado irá usar pouca terra; para isto, em 2007 eu adquiri cerca de 5 hectares próximo a Bacaxá, no Rio de Janeiro, comecei a limpar o terreno e a construir uma pequena infraestrutura para dar apoio quando iniciar a implantação do empreendimento.
Devido à minha formação e atividade, onde tudo tem que ser previamente modelado e testado, resolvi tentar aplicar estes mesmos princípios na produção leiteira e usar um modelo de produção utilizado hoje na indústria, de células de produção. Uma destas células seria responsável por "fabricar" comida para alimentar o gado, com o intuito de ser independente de grandes áreas de pasto ou de ficar vulnerável ao regime de chuvas e secas na região.
O Rio de Janeiro é um estado de clima difícil, no verão há temperaturas que chegam aos 40 graus, não há pasto e são poucas as raças de vacas que resistem a estas temperaturas, por isto a escolha inicial de animais Girolando que estão mais adaptados ao nosso clima.
O projeto está em andamento, atualmente estou visitando algumas fazendas aqui no Rio de Janeiro para aquisição de novilhas Girolando, mas como disponho de pouco tempo talvez ainda leve mais um ano até que tudo esteja pronto. Posso antecipar que a fase inicial será composta de 40 animais em lactação num sistema de semiconfinamento.
Quais são as principais dificuldades que você vê na atividade?
A pecuária leiteira é uma atividade muito complexa, pois lidamos com seres vivos, que embora sejam vacas têm suas manias, doenças, etc. Em uma indústria, é bem mais fácil implantar um projeto, porque o mesmo é previamente modelado, o que torna o erro de projeto muito pequeno.
Uma das atividades mais importantes na pecuária leiteira é a apuração de custos de produção; é sem dúvida uma das tarefas mais ingratas que existe, pois exige do produtor:
- Uma paciência de monge tibetano para anotar tudo que é gasto ou arrecadado no empreendimento e que esteja relacionado com a atividade. Lembrando que mesmo usando um software gerador de fluxo de caixa a tarefa é árdua.
- O produtor tem que se colocar na posição de "gestor" do empreendimento e não ter a visão de "dono" do negócio, o que muitas vezes é difícil, pois haverá sempre uma tendência em misturar os dois comportamentos.
- Utilizar ferramentas que permitam sempre a visão conjunta e ampla do empreendimento, por exemplo, elaborar um plano de contas financeiro que permita dentro de cada centro de custos saber o que tem maior participação nos custos e que de alguma forma tem grande impacto sobre todo o empreendimento.
O que está melhorando no setor?
Muita coisa já foi feita para melhorar a pecuária de leite. Novas forrageiras foram desenvolvidas, sistemas de produção foram aperfeiçoados, os sistemas de gestão passaram a fazer parte do dia a dia do produtor, entre outras. E certamente, à medida que a qualidade do produto for melhorada, alcançaremos níveis de consumo e de produção compatíveis com o potencial produtivo do país.
Outro fator importante foi o aumento do nível de renda do brasileiro, temos que ter em mente que a elevação de renda, em análise macroeconômica, é e sempre será a solução para dinamizar o consumo interno de qualquer bem que esteja disponível no mercado.
O que acontece no mercado de lácteos é que a cadeia produtora tem que saber como vai atuar no mercado, de forma a fazer com que parte deste aumento de renda seja atraída para o consumo de lácteos. Parece que isto não tem sido o comportamento nos últimos anos, e em minha opinião, a razão é a falta marketing institucional. Se o leite não tem atrativos de prazer como bem colocado pelo trabalho de pesquisa recém elaborado pela Láctea Brasil e apresentado no MilkPoint, então temos que aproveitar os outros atrativos que o leite tem.
O que você acha que falta no setor?
Em termos de mercado, muito ainda há de se fazer. O marketing institucional será fundamental para o aumento de consumo. A cadeia produtiva tem que capitalizar o aumento de renda ocorrido nos últimos anos atraindo consumidores que antes, por questões econômicas, estavam fora do mercado consumidor.
Os governos, nos seus vários níveis, têm de implementar a fiscalização e normas sanitárias para produção, industrialização e venda de lácteos, de forma a garantir a qualidade e evitar a concorrência desonesta daqueles que passam ao largo destas normas.
Em relação à cadeia produtora de lácteos, o mais difícil será estabelecer um relacionamento ganha-ganha entre os agentes envolvidos. Se analisarmos a corrente de valores: custo de produção - preços pagos pelo comprador - custo de industrialização - preços pagos pelo varejista - preços pagos pelo consumidor - margem do varejista, tudo isto faz parte da estratégia dos agentes envolvidos.
Ninguém irá abrir suas planilhas de custo e de margens, pois faz parte de qualquer negócio este jogo de custos e preços, cada um vai sempre tentar enfeitar o seu pavão. O problema é que normalmente quem perde são os agentes que estão nas pontas, o produtor e o consumidor, e isto, infelizmente, é assim em qualquer ramo de negócio.
Falando agora especificamente dos produtores de leite, pude ler nos comentários do Espaço Aberto do MilkPoint que uma das principais preocupações é a falta de união dos produtores em torno do debate de objetivos comuns. A implementação de soluções que atentem para estes objetivos depende de grande desprendimento dos produtores e de se encontrar uma forma de delegar a um grupo a iniciativa de iniciar a discussão dos problemas. Num país como o Brasil, onde as distâncias geográficas são enormes e a diversidades de produtores é muito grande, realmente há de se estudar muito uma solução que promova, em princípio, a união dos produtores.
MKP: Qual a personalidade que admira no setor?
Considero o Roberto Jank um personagem importante neste setor.
MKP: Qual empresa admira no setor?
A Cooperativa Regional Agropecuária de Macuco Ltda, fundada em 1939 e que luta até hoje pela produção de leite no Rio de Janeiro.
MKP: Dica de sucesso ou frase preferida:
Gerenciamento financeiro do negócio pelo fluxo de caixa. Sempre. E minha frase preferida é do Albert Einstein: "A política serve ao momento, a ciência serve pela eternidade".
MKP: Quais os serviços do MilkPoint você utiliza mais, e como o MilkPoint lhe auxilia no dia-a-dia?
Preço do leite e editoriais. Num mercado instável como o de leite, manter-se bem informado é crucial.
Conheça mais sobre a participação do Ramon Benicio Lima da Silva no MilkPoint, visitando sua página pessoal no MyPoint.

