No início do ano, o MilkPoint entrevistou com exclusividade a equipe técnica da Fazenda São João, unidade da empresa True Type, localizada em Inhaúma, na região de Sete Lagoas (MG). Nessa ocasião, o projeto estava em início de implantação, com previsão de atingir 30.000 litros diários em agosto, com um rebanho holandês instalado em galpões free stall.

No último dia 28, a fazenda abriu suas portas e realizou seu primeiro dia de campo, apresentando o projeto a quase 1.000 pessoas. A meta de 30.000 litros foi atingida, com um rebanho constituído de vacas de primeira cria, vindas de Minas Gerais, São Paulo e Paraná.

A Fazenda São João, porém, vai além da produção de uma grande quantidade de leite, fato que por si só já coloca a propriedade entre as 3 maiores do país. Além da produção de leite de alta qualidade, a partir de um manejo sustentável e conduzido por uma equipe de técnicos e profissionais com grande experiência no setor, o projeto envolve outras iniciativas atreladas ao negócio principal: a Terral, uma empresa que produzirá compostos orgânicos a partir dos resíduos da produção de leite, e o Rehagro (Recursos Humanos para o Agronegócio), um centro de treinamento de recursos humanos, que pretende treinar estudantes, profissionais, funcionários de unidades rurais e empresas do setor para atuação não só na produção de leite, mas também para as diversas cadeias do agronegócio.

Além da unidade de produção em free stall, a Fazenda São João terá 120 vacas girolando em pivô central de tifton irrigado, com suplementação de cana-de-açúcar no inverno. Esta estratégia tem a ver com o projeto de treinamento, visto que, com esse sistema de produção, a fazenda se aproxima da realidade de um número maior de propriedades.

Abaixo, trazemos a entrevista original, feita no início do ano, com a equipe do empreendimento, bem como algumas fotos da True Type.

Fazenda São João - True Type Ltda.
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Planejamento detalhado para sair de zero a 30.000 litros por dia

Nestes tempos de crise no setor leiteiro, especialmente na produção especializada e tecnificada, desponta um projeto em Minas Gerais que está em plena fase de implantação. Trata-se da Fazenda São João, da empresa True Type Ltda., localizada no município de Inhaúma. Sob o aspecto de produção, a fazenda partiu do zero, no início deste ano, e pretende atingir 30.000 litros por volta de agosto, com 1200 animais em parição. Porém, como o leitor poderá acompanhar nesta entrevista exclusiva feita pelo site MilkPoint com a equipe técnica e administrativa do empreendimento, atrás de uma produção desta magnitude está um projeto técnico e econômico que começou há vários anos, nos permitindo concluir que o rápido aumento da litragem é a conseqüência final de um trabalho iniciado em 1994, planejado e implantado passo a passo.


O projeto de exploração de leite da Fazenda São João:

A Fazenda São João tem uma área de 762 ha e está localizada no município de Inhaúma, MG, a 125 km de Belo Horizonte. Tem hoje 50 funcionários, incluindo a área administrativa e pessoal em treinamento.

O projeto, em sua primeira etapa, prevê 1.200 animais em lactação, podendo chegar a 2.500 animais nas etapas subseqüentes. O sistema usado é de exploração intensiva em galpões de estrutura de concreto, podendo haver parte do rebanho em regime de pasto. Temos atualmente 3 galpões para 360 vacas e 2 galpões para 60 vacas cada um. Os galpões são dotados de contenções metálicas com colchões de raspa de pneus, climatização por ventiladores com aspersores em alta e baixa pressão e lavagem por sistema de fluxo de água (flush). A produção prevista nesta etapa é de 30.000 litros diários, com média de produção que deverá ficar entre 25 e 30 litros por vaca por dia, podendo variar dependendo das condições de preço do leite.



Sabe-se que a True Type foi fruto de um planejamento intenso antes de ser de fato implantada, ou de começar a ser implantada. Do que consistiu este planejamento ?

No planejamento está o grande diferencial da True Type. O projeto foi feito pelo médico-veterinário Dr. Fernando Corrêa de Andrade Urbano, e a sua implantação dirigida pelo administrador de empresas Dr. Bernardo Matos de Paiva, espelhando várias possibilidades de viabilização da produção leiteira. Ao contrário do que acontece em praticamente todas as fazendas, o gado só entrou na Fazenda após a implantação de todo o projeto agrícola. Este projeto teve início em 1994, com várias etapas. A primeira, foi a escolha do local, levando-se em conta a sua localização e proximidade de grandes centros, seguida da topografia, os recursos hídricos, a qualidade do solo e o clima. A construção da fertilidade física, química e biológica do solo teve início com o engenheiro agrônomo Dr. Marcelo Amorelli, acompanhada da implantação de um projeto técnico de irrigação através de 5 pivôs com registro de outorga da água captada, totalizando 240 ha de área irrigada, além de 70 ha por fertirrigação convencional. A fazenda tem preocupação com a sustentabilidade do ecossistema, utilizando somente o plantio direto, pulverização de baixa deriva (condor vortex), e a reutilização do esterco e do chorume para melhora da condição do solo. Está sendo implantado o manejo da irrigação através de controle via tensiômetros e da estação meteorológica.



Foram implantadas culturas de milho, aveia, milho grão úmido, feijão, tifton, sorgo e soja, em regime de rotação, com 3 culturas anuais na área irrigada e uma cultura na área de sequeiro. Antes da chegada dos animais, foram produzidas e armazenadas 25.000 toneladas de silagem de milho de alta qualidade. Nossa média de produção tem sido de 44 toneladas de matéria verde por hectare, embora tenhamos ainda muito a fazer em relação à construção da fertilidade do solo.

As obras civis foram iniciadas 21 meses antes do primeiro parto previsto. Os animais foram adquiridos em sua maior parte no Paraná, pela compra de bezerras e novilhas testadas várias vezes, ao longo da recria, para brucelose e tuberculose, após período de quarentena, para assegurar a sanidade, garantindo o isolamento sanitário e visando o fechamento total do rebanho. As novilhas foram inseminadas na própria fazenda.

A fazenda conta com quais equipamentos disponíveis ?



Temos os equipamentos necessários para conduzir um projeto desta natureza. Entre eles, podemos destacar uma sala de ordenha paralela, com 48 unidades de ordenha, expansível até 80 unidades, com sistema de identificação eletrônica e controle de cio; uma sala de ordenha auxiliar em espinha de peixe, com 12 unidades de ordenha, para utilização por animais recém-paridos ou em tratamento com medicamentos e que está sendo utilizada no início do processo produtivo; 2 tanques de expansão de 2.500 e 3.000 litros, respectivamente, e 2 tanques isotérmicos de 20.000 litros cada, com resfriamento por placas; fábrica de ração completa; 2 vagões Totalmix; 2 plantadeiras pneumáticas pantográficas, que acompanham o relevo do solo; 9 tratores e estação meteorológica.



Quais as principais dificuldades encontradas até agora na colocação do projeto em prática ?

A obtenção de financiamentos a juros compatíveis com os benefícios sociais e o pioneirismo do projeto talvez tenham sido os maiores obstáculos. Também a mão-de-obra, embora abundante, não estava adequada à tecnologia existente nos equipamentos e máquinas utilizados na fazenda, especialmente no tocante à área de pecuária, onde não se pode treinar elementos sem os animais já em produção, ao contrário do que acontece na área agrícola.



Pelo andamento do projeto, é possível dizer que a implantação está seguindo com bom grau de fidelidade o projeto ?

A implantação segue religiosamente o cronograma, como não podia deixar de ser, pois as novilhas inseminadas não podem esperar para parir. Elas próprias ditam o ritmo da implantação. Os primeiros partos aconteceram na última semana de janeiro de 2002. Na primeira semana de abril, atingimos a produção diária de 5.000 litros, e devemos atingir a meta de 30.000 em agosto deste ano. As matrizes já estão todas dentro da fazenda, devidamente aclimatadas e adaptadas ao local, por terem sido adquiridas quando bezerras ou novilhotas.

Qual é a equipe técnica envolvida no projeto ?

A operação gerencial é feita pelo técnico agrícola Carlos Alberto Carvalho.

A orientação geral operacional da Fazenda está a cargo do médico-veterinário Dr. Clóvis Eduardo Corrêa. O responsável pela pecuária é o médico-veterinário Dr. Lívio Ribeiro Molina, auxiliado pelos Drs. Agenor Neto e Geraldo André Barcelos. A área agrícola está sob responsabilidade do Dr. Fábio Corrêa. O Drs. Bernardo Matos de Paiva e Guilherme Guarani respondem pela área administrativa, pelo setor de compras e pelo desenvolvimento de novos projetos. A área comercial é orientada pelo também administrador de empresas Dr. Guilherme Savassi Jardim.

Como a fazenda trabalha o planejamento financeiro para o projeto ?

O planejamento financeiro foi indispensável para a decisão de se implantar o projeto. São utilizadas em tempo real planilhas ideais e executadas, comparativas entre os valores previstos e realizados, e monitoradas para avaliar os preços dos insumos e de receita, a fim de evitar distorções.

São raros os projetos, no Brasil, que partem do zero e alcançam o número de matrizes que a True Type irá alcançar em tão pouco tempo. Muitos, aliás, acabam nem saindo do papel. Há muitos riscos envolvidos, especialmente pelo sistema de produção adotado ?

Os riscos foram devidamente avaliados, e a escala foi fator preponderante para permitir a contratação de corpo técnico competente para atingir as metas previstas. Acreditamos na viabilidade do projeto dentro dos princípios de uma exploração eficiente e altamente profissional.

O sistema a ser adotado definitivamente na fazenda pode ser desde confinamento todo o ano para todo o rebanho, como parte do ano as vacas estarem sob pastejo irrigado ou, ainda, parte do rebanho utilizar sempre o pastejo. Tudo depende das condições de preços oferecidas ao produtor. A fazenda espera que a escala e a qualidade do leite a ser oferecido possam colaborar na negociação de preços junto aos laticínios.