Pesquisas que revolucionam o setor

Do laboratório para a fazenda: como a pesquisa de ponta contribui para aumentar a produtividade na pecuária de leite. Conheça alguns trabalhos que a Embrapa Gado de Leite está desenvolvendo para agregar à produção de leite.

Publicado por: MilkPoint

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Há 35 anos, quando a Embrapa Gado de Leite foi criada, o objetivo das ciências agrárias no Brasil era apresentar respostas para as questões cotidianas dos produtores. Hoje, a pesquisa aplicada continua tendo um papel importante nas ciências agrárias, mas a pesquisa básica, que busca expandir a fronteira do conhecimento, ocupa um espaço proeminente no cotidiano de uma instituição como Embrapa.

Na última década as técnicas de Fecundação In Vitro (FIV), clonagem e transgenia tiveram um salto significativo e se apresentaram como uma importante ferramenta para o melhoramento genético dos rebanhos. O Centro Nacional de Recursos Genéticos da Embrapa (Cenargen) é um dos grandes atores dessa evolução. Há seis anos, uma equipe de pesquisadores do Cenargen foi responsável pelo primeiro clone produzido no Brasil, a bezerra Vitória. Atualmente existem no país cerca de 100 animais clonados. O país é também o que mais utiliza o método de FIV para reprodução de bovinos no mundo, respondendo por mais de 80% dos procedimentos.

A Embrapa Gado de Leite realiza estudos para melhorar a qualidade do processo de FIV e dar mais eficiência à técnica de clonagem de bovinos. A evolução destes estudos permitirá a criação de animais transgênicos. O pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Luiz Sérgio Camargo afirma que a transgenia poderá trazer uma série de benefícios para a pecuária como o desenvolvimento de animais resistentes aos carrapatos, ao estresse térmico e a uma infinidade de doenças. O teste de progênie, realizado há várias décadas, também tem esta finalidade, mas a transgenia é um método mais rápido de melhoramento animal se comparada à seleção realizada a partir do cruzamento de animais superiores.

O melhoramento por meio do teste de progênie se baseia na seleção de animais com características econômicas desejáveis. Através dessa seleção, os touros escolhidos transmitem para seus filhos e filhas tais características genéticas. No espaço de algumas gerações, tem-se um rebanho superior. Além de ser mais rápida neste fim, a transgenia pode incorporar vantagens jamais pensadas anteriormente. Uma de suas aplicações, por exemplo, é a produção de biofármacos e alimentos nutracêuticos: os animais poderão produzir leite com características nutricionais e medicinais, ou até um remédio específico para tratar algum tipo de doença.

Outros exemplos da aplicação da transgenia: por meio da engenharia genética é possível colocar no genoma da célula que vai ser clonada o transgene da insulina humana. A partir daí, ações de engenharia genética são desenvolvidas para que a insulina humana se expresse apenas na glândula mamária e seja secretada no leite. Assim, quando a vaca for produzir o leite, produzirá também a insulina que poderá ser processada pela indústria farmacêutica. Do ponto de vista nutricional, pode-se inserir um ou vários genes capazes de alterar a composição do leite da vaca, tornando-o parecido com o leite humano, o que seria de grande importância, principalmente, para lactantes.

Genoma bovino
A propósito do melhoramento genético, as pesquisas que envolvem o genoma bovino preparam um salto significativo nesta área. A Embrapa Gado de Leite deverá divulgar em breve o sequenciamento genético de três raças zebuínas - Gir Leiteiro, Guzerá e Sindi (Bos tauros Indicus) - e uma raça sintética - Girolando. O pesquisador Marcos Vinícius Barbosa da Silva, explica que a partir do sequenciamento, será possível identificar os marcadores genéticos específicos para as raças zebuínas que possam estar associados às características de interesse econômico para a atividade como a produção de carne e leite, a resistência a parasitas, ao estresse térmico, à mastite etc.

Embora possa parecer uma ação meramente científica, restrita aos laboratórios, o estudo do genoma está bem próximo de se tornar um importante aliado do produtor rural. Segundo o pesquisador, dentro de três anos as ferramentas de seleção genômica já estarão disponíveis para os programas de melhoramento genético, como os testes de progênie. O produtor também poderá analisar os bezerros da propriedade e estabelecer o seu próprio modelo de seleção, descartando animais que irão apresentar desempenho abaixo do esperado no futuro. Será possível realizar a seleção genômica enquanto o animal ainda é um embrião, como já ocorre na Europa, com vacas da raça Holandesa.

A preocupação da Ciência, neste momento, é tornar as ferramentas de seleção genômica acessíveis ao produtor. Atualmente, é possível obter informações sobre o genótipo de até 777.000 marcadores moleculares para um animal, por meio do uso de um chip, cujo valor pode chegar a 320 dólares. Os estudos estão identificando um número menor de marcadores capaz de definir com a mesma eficiência as características de interesse econômico dos bovinos analisados. Isto poderá reduzir os custos da seleção genômica, tornando-a acessível à grande maioria dos produtores.

Nanotecnologia
Outro estudo de ponta diz respeito à nanotecnologia. A instituição está desenvolvendo um produto veterinário para o tratamento da mastite bovina. Segundo o pesquisador Humberto de Mello Brandão, a Embrapa Gado de Leite é vanguarda na busca por produtos nanoestruturados para saúde de bovinos e esta é uma tecnologia com potencial de aceitação em todo o mundo. As pesquisas buscam novas características para os fármacos tradicionais. "Acreditamos que na próxima década, a nanotecnologia irá revolucionar os métodos terapêuticos para o tratamento da saúde dos rebanhos", prevê Brandão.

O pesquisador aponta algumas vantagens dos fármacos nanoestruturados:

- possibilita que o medicamento seja direcionado para os agentes infecciosos;
- torna o tratamento mais eficiente, com menos efeitos colaterais e diminui desenvolvimento de resistência ao produto, especialmente nos casos de infecções com Staphylococcus aureus;
- permite a utilização mais racional do medicamento, com a redução do número de aplicações;
- interfere menos na qualidade do leite, diminuindo o descarte do produto.

Outra vantagem é a possibilidade de novas vias de aplicação, com menor uso de agulhas. "Sem agulha, ocorre menos transmissão de doenças, como a Leucose Bovina, pelas vias hematogênicas", exemplifica Brandão. O pesquisador acredita ainda que, num futuro próximo, os novos tratamentos irão evitar a contaminação do leite e da carne por antibióticos e ivermectinas, favorecendo a exportação dos produtos nacionais.

A pesquisa com nanotecnologia na Embrapa Gado de Leite teve início em 2007, em parceria com a Escola de Farmácia da Universidade Federal de Ouro Preto. Os trabalhos contam com apoio da Rede Brasileira de Nanotecnologia para o Agronegócio, da Embrapa (Rede Agronano), da Rede Mineira de Nanotecnologia (NANOBIOMG)-FAPEMIG, além da colaboração da ABCGIL.

As pesquisas da Embrapa Gado de Leite
Nos últimos anos, o portfólio de pesquisa da Embrapa Gado de Leite vem se renovando. Do conhecimento aplicado aos estudos que expandem a fronteira do conhecimento, uma série de linhas de pesquisa é executada nos campos experimentais e nos laboratórios da instituição:

- Estudo da interação animal - ambiente utilizando metodologias inerentes às áreas de comportamento animal e bioclimatologia;
- Monitoramento e avaliação do impacto da cadeia produtiva do leite na qualidade da água e dos recursos hídricos, tratamento e destino final para efluentes do processo produtivo agropecuário e agroindustrial;
- Estudo das características produtivas e qualitativas de pastagens sob diferentes condições de manejo;
- Avaliação dos componentes solo, planta e animal em sistemas silvipastoris;
- Identificação e obtenção de cultivares forrageiras adaptadas às diferentes condições edafo-climáticas de bacias leiteiras do País;
- Desenvolvimento de sistemas consorciados de produção de alimentos e biocombustíveis;
- Identificação dos principais aspectos envolvidos na interação solo-água-nutrientes e seus reflexos nas plantas forrageiras em sistemas solteiros e com integração lavoura-pecuária-floresta;
- Caracterização da tolerância de genótipos de forrageiras a fatores de estresse biológico;
- Aperfeiçoamento da micropropagação e manutenção in vitro de espécies forrageiras;
- Estudo dos aspectos bioecológicos, mecanismos de resistência e viabilidade de métodos alternativos de controle de insetos-praga em forrageiras;
- Análise de fatores de risco e medidas para prevenir o desenvolvimento e a disseminação de doenças em bovinos de leite;
- Análise do perfil de risco de contaminantes químicos, biológicos e de patógenos veiculados pelo leite e derivados;
- Estudos de marcadores moleculares associados à resistência à mastite e a endo e ecto parasitos dos bovinos;
- Controle estratégico e biológico do carrapato dos bovinos e outras tecnologias em saúde animal para a produção orgânica de leite;
- Aplicação de métodos moleculares no estudo de agentes de doença de bovinos de leite;
- Promoção do fluxo das informações geradas pela pesquisa para os produtores primários;
- Interação animal/meio ambiente, com foco no bem estar animal;
- Avaliação de componentes de dieta e estratégias nutricionais para maximizar a produção;
- Caracterização e seleção de animais de genótipos superiores para produção de leite e seus constituintes;
- Identificação de genes influenciando características de resistência a doenças e termotolerância;
- Uso de técnicas computacionais, armazenamento e análise de dados genômicos;
- Desenvolvimento de biotécnicas reprodutivas avançadas e seu emprego em sistemas de produção;
- Análise da competitividade e sustentabilidade de sistemas de produção de leite;
- Estudo de impactos econômicos e sociais das tecnologias;
- Análise da conjuntura econômica e do mercado de leite e derivados;
- Estudos em geoprocessamento e georreferenciamento;
- Criação de banco de dados sócio-econômicos.

A matéria é de Rubens Neiva, da Embrapa, resumida e adaptada pela Equipe MilkPoint.
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Salvador Alves Maciel Neto
SALVADOR ALVES MACIEL NETO

RIO PRETO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 13/02/2012

Prezado Guilherme, obrigado pelos elogios e caso queira conhecer a nossa Universidade esta feito o convite, é só se comunicar que estaremos ao seu dispor.

Contato direto docagropec@yahoo.com.br ou coordenação de agronegócio (24)24718200
Guilherme Alves de Mello Franco
GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 12/02/2012

Prezado Salvador Alves Maciel Neto: continuando... Assim, não há como evoluir seus sistemas de produção e, por certo, não há paciência que resista. Mas, por lado outro, falta aos técnicos, justamente, a persistência que você demonstra e os projetos como o que você dirige devem ser mantidos para o bem de nós todos.

Parabéns a esta instituição de ensino por atingir a seu objetivo primordial, que é, de forma indene de dúvidas, o de difundir o conhecimento justamente a quem mais precisa, mesmo na adversidade. Iniciativas como esta é que nos garantem, pelo menos, a esperança de que ainda temos algum futuro.

Um abraço,

GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

FAZENDA SESMARIA - OLARIA - MG

= HÁ SETE ANOS CONFINANDO QUALIDADE =
Guilherme Alves de Mello Franco
GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 12/02/2012

Prezado Salvador Alves Maciel Neto: Há, com certeza, este aspecto de que, grande parte dos produtores são como aquelas cozinheiras antigas que não aceitam novas receitas, mesmo que elas levem a resultados muito melhores e com muito menos trabalho. Preferem manter o que vêm fazendo - certo ou errado - desde os tempos de seus avós, sem sinalizar, em monento algum, com algum sintoma de evolução.
Salvador Alves Maciel Neto
SALVADOR ALVES MACIEL NETO

RIO PRETO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 09/02/2012

Oi Antônio, eu concordo com você que estamos com um pé no futuro e outro na idade média.

Sou professor dos cursos de Medicina Veterinária e Tecnologia em Agronegócio da Universidade Severino Sombra de Vasouras e ainda trabalho com produtores rurais da região com gestão em pecuária de leite e carne e forma pastagens pra equinos.

O que eu observo e aplico no meu trabalho é que eu só posso ajudar quem quer se ajudado.

Hoje existem programas de extensão em que os produtores da região que quiserem ser ajudados podem ser, e através de acompanhamento sério e programado o produtor deixa de ser "tadinho" e se torna um empresário do setor.

Aqui em nossa Universidade existe um programa Chamado Universidade na Fazenda onde alunos orientados e supervisionados por professores, acompanham propriedades rurais da região.

Não é um trabalho muito fácil pois, parte destes produtores não querem mudar e adotar nova postura frente  as necessidades de mercado.

Antonio Bovolento Jr.
ANTONIO BOVOLENTO JR.

SOROCABA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 08/02/2012

O mundo todo admira nossa condição de super-potência agro-alimentar, em que a participação da EMBRAPA é reconhecidamente determinante.

Lamentavelmente, no caso da cadeia do leite, apesar de termos um pé no futuro, beirando a ficção científica, temos o outro pé na idade média. Como disse o Paulo Mühlbach, estamos na terra dos contrastes...
Salvador Alves Maciel Neto
SALVADOR ALVES MACIEL NETO

RIO PRETO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 08/02/2012

Parabéns EMBRAPA esta empresa da orgulho de ser Brasileiro
Guilherme Alves de Mello Franco
GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 07/02/2012

Prezados Senhores: Que o brilhante trabalho dos pesquisadores da EMBRAPA é essencial para o setor produtivo, não resta a menor dúvida. O que é preciso é que o Governo Federal volte seus olhos mais profundos sobre a instituição e forneça meios para que estes trabalhos de escola sejam aplicados no campo nacional e, não, como sempre acontece, se quedem importados por Países mais desenvolvidos e muito mais conscientes que o nosso.  Temos tudo para ser, realmente, o celeiro do mundo, mas, sem incentivo aos estudiosos e difusão de seus resultados, jamais chegaremos a este patamar.

GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

FAZENDA SESMARIA - OLARIA - MG

Paulo R. F. Mühlbach
PAULO R. F. MÜHLBACH

PORTO ALEGRE - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 07/02/2012

Nosso País é mesmo um farto exemplo dos contrastes: de um lado um portfólio de pesquisa básica e aplicada ao nível de primeiro mundo, como esse que apresenta a nossa Embrapa Gado de Leite, e de outro a triste e anacrônica realidade de convivermos com 30% da produção da leite como sendo ainda "clandestino"!
Qual a sua dúvida hoje?