Engenheiros agrônomos argentinos criaram o que chamam de "superleite", com um teor natural de gordura até 50% inferior ao normal e com altos índices de presença dos ácidos vacênico e linoleico - o que pode até ajudar na prevenção do câncer. A diferença em relação aos outros leites também conhecidos como saudáveis - como o desnatado e o enriquecido em ferro - está na primeira etapa de produção: é nesse momento que são adicionados borra de soja, óleo e azeite de girassol ao alimento das vacas. "Isso faz com que o leite já saia diferenciado, sem precisar de nenhuma complementação depois", explicou Roberto Castañeda, diretor da parte de lácteos do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária da Argentina (Inta).
Sérgio Salomon, professor de bovinocultura de leite na Universidade de Brasília (UnB), mostra como o alimento enriquecido melhora o leite. "A vaca consome esse alimento rico em óleos. Ele passa pelo estômago e a absorção acontece no intestino, que muda o perfil do que vai ser o leite", explica Salomon. Gerardo Gagliostro, desenvolvedor do projeto e pesquisador do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária da Argentina (Inta), aponta a possibilidade de que os ácidos presentes no "superleite" e nos produtos desenvolvidos previnam principalmente o câncer de mama. "O relevamento bibliográfico sugere que o câncer mamário é um dos mais sensíveis ao efeito citotóxico dessas moléculas", diz Gagliostro.
Os resultados benéficos foram pesquisados pelo Inta Balcarce e pelo Inti Lácteos. De acordo com os dois órgãos, o consumo de 90g do queijo sardo argentino ou de 140g do queijo tybo argentino produzidos a partir do novo leite estimularia a prevenção contra o câncer. Para o consumidor brasileiro, a descoberta argentina é positiva. É o que diz Bruno Lucchi, assessor técnico da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). "Há estudos que comprovam que, além de prevenir o câncer, os ácidos presentes também ajudam a manter a forma", afirma Lucchi.
Apesar de parecer fácil introduzir óleos, existe um limite para manipular a ração: a grande quantidade de óleo pode atrapalhar a digestão de fibras. "Quando a grama é ingerida, os micro-organismos vão digerir essa fibra. Se, porém, há muito óleo, ele cobre a fibra e dificulta a digestão", explica Lucchi.
Projeto nacional
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) possui uma linha de pesquisa parecida com a argentina, baseada na nutrição animal. "A gente faz um trabalho similar, mas usando o nosso capim", compara Marco Antônio Sundfeld, pesquisador de produção animal da parte de gado de leite da Embrapa. Ele explica que o estudo consiste em ver o potencial das plantas forrageiras brasileiras para alimentar as vacas. "O Brasil é um país com vários tipos de plantas forrageiras, e podemos associar essas plantas aos óleos vegetais para conseguir resultados parecidos com os da Argentina", conta Sundfeld.
Os primeiros resultados da pesquisa da Embrapa mostram um aumento de 2,5% do ácido linoleico. "Falta aumentar esse percentual e conseguir reduzir a quantidade de gordura, como fez o Gagliostro", analisa Sundfeld. Sérgio Salomon, da UnB, vê algum futuro na produção brasileira. "Os estudos na área das oleaginosas para combustíveis talvez revelem algum tipo de óleo vegetal. Ainda há muito material no Brasil para ser estudado", acredita Salomon.
Já Bruno Lucchi alerta que as indústrias brasileiras pagam o leite que adquirem baseados na qualidade - e ela está relacionada ao volume, ao teor de proteínas e de gordura e à higiene. E o ácido linoleico diminui a quantidade de gordura do leite, o que significaria uma perda de qualidade e, portanto, menor preço. "Mas nada impede que uma empresa tente pagar o produtor pela concentração de ácido linoleico e vacênico. Com certeza, essa mudança estimularia a produção do leite no Brasil", conta Lucchi.
As informações são do Correio Braziliense-DF, resumidas e adaptadas pela Equipe MilkPoint.
Pesquisadores da Argentina criam "superleite"
Engenheiros agrônomos argentinos criaram o que chamam de "superleite", com um teor natural de gordura até 50% inferior ao normal e com altos índices de presença dos ácidos vacênico e linoleico - o que pode até ajudar na prevenção do câncer. A diferença em relação aos outros leites também conhecidos como saudáveis está na primeira etapa de produção: é nesse momento que são adicionados borra de soja, óleo e azeite de girassol ao alimento das vacas.
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