"Em algumas regiões do Estado, será a pior sequência [safrinha de milho-safra de soja-safrinha de milho] em pelo menos dez anos", diz Rita Regina Rocha, diretora da Sociedade Rural do Paraná (SRP). Pecuarista e produtora de grãos em Umuarama, no noroeste paranaense, ela resume um sentimento comum, ilustrado por números. Nos cálculos do Ministério da Agricultura, o valor bruto da produção ("da porteira para dentro") de soja deverá cair 21,4% em 2019 em relação ao ano passado, para R$ 19,1 bilhões. O do milho poderá subir 31,7%, para R$ 7,9 bilhões. Mas são os mesmos produtores que investem nas duas culturas, e a soma dos VBPs aponta para uma queda de quase 11%, para R$ 27 bilhões. Mais de R$ 3 bilhões a menos de receita total conjunta, e isso se a safrinha de milho for de fato robusta. Em tempos de comércio fechando as portas em polos como Londrina, é uma má notícia.
O Paraná é o segundo maior Estado produtor de grãos do país, atrás apenas de Mato Grosso. Por causa da falta de chuvas e do calor escaldante no verão, especialmente no noroeste, no oeste e no norte, perdeu nesta safra o segundo posto na soja para o Rio Grande do Sul, o que não acontecia desde meados dos anos 1990. "O oeste levou fumo no verão, mas deve ter uma boa safrinha. Mas no norte e no noroeste a situação é preocupante", diz o produtor Ricardo Gomes de Araújo, que planta soja e milho no verão e milho e trigo no inverno em Bela Vista do Paraíso, município vizinho a Londrina, um dos principais polos do norte paranaense.
Até agora, o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura do Paraná estima que a produção estadual de soja registrará queda de 16% em 2018/19, para 16,1 milhões de toneladas, e que a safrinha de milho crescerá 42%, para 13 milhões. Marco Antonio de Paula, gerente de negócios da Cocamar, cooperativa com sede em Maringá e atuação no norte e no noroeste do Paraná, além de São Paulo e Mato Grosso do Sul, torce para que essa recuperação se confirme, pelo bem dos 13 mil associados do grupo. "Já vimos a inadimplência de alguns cooperados crescer depois das quebras da safrinha passada e da soja agora", afirma.
Na safrinha de milho do ciclo 2017/18, observa o agropecuarista Hugo Virmondes Borges, o custo de produção subiu para R$ 55 por saca de 60 quilos colhida por causa da quebra da produção - seria bem menos em caso de colheita cheia -, e hoje, no mercado, a venda sai por cerca de R$ 32. Sem uma estrutura sólida de seguro rural, que é um dos focos de Tereza Cristina à frente do Ministério da Agricultura, trata-se de um rombo difícil de ser tapado.
Carla Sanches Rossato, que produz grãos nos municípios de Sertaneja e Santa Mariana, no extremo norte paranaense, é um termômetro de como o clima tem sido irregular mesmo em uma mesma região do Estado - o que muitas vezes, diante dos grandes volumes produzidos, mascara problemas localizados. "Em lavouras distantes 7 quilômetros uma da outra, a diferença de produtividade da soja chegou a 30% nesta safra", disse.
Antônio de Oliveira Sampaio, presidente da SRP, usa esses exemplos para chamar a atenção para a necessidade não só de gestões de propriedades eficientes, mas também de uma política agrícola oficial sólida e ágil, com seguro e crédito disponíveis e capazes de oferecer alguma proteção às margens dos produtores. "E o risco agronômico hoje cresceu", completa Luiz Meneguel Vilela, sócio da holding SL. "Antes a soja era estável e o milho oferecia risco. Agora, com as sementes precoces e superprecoces, plantar soja também é arriscado".
As informações são do jornal Valor Econômico.