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O que os técnicos de pesquisa e extensão sabem e o que se pede deles

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 21/11/2003

19 MIN DE LEITURA

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Erneste Enio Budke Krug1 , Sergio Rustichelli Teixeira2 e Marlice Teixeira Ribeiro2

Resumo

Geralmente o que se considera como resultado do empenho da pesquisa agropecuária é a publicação do resultado de pesquisa enquanto que da extensão rural é o trabalho junto à comunidade produtora, principalmente pequenos produtores. Esta relação fez diferença para que a pesquisa agropecuária alcançasse melhores resultados em termos de sua manutenção como parte essencial no processo produtivo enquanto a extensão pública vem definhando. Evidências para esta afirmação são a diminuição no mundo de organizações públicas de extensão rural e o aumento do número das instituições de pesquisa. Por outro lado, o setor leiteiro continua considerando a extensão rural como parte importante do setor agropecuário. Uma pesquisa eletrônica do site MilkPoint, buscando identificar o que mais vem limitando a melhoria dos índices de desempenhos técnicos de produção de leite no Brasil registrou, na opinião de 89 participantes, a extensão rural como um fator mais limitante à melhoria dos índices de desempenhos técnicos do que a pesquisa aplicada (MilkPoint, 2000). Para melhorar sua ação junto ao setor produtivo, organizações de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) estão buscando novos caminhos para aperfeiçoar os seus modelos de identificar demandas e transferir tecnologias. Os novos esforços são abordagens participativas junto ao setor produtivo, aumentando a utilização de metodologias do construtivismo , no sentido de conseguir maior interação e uma adequada aplicação dos resultados de P&D junto ao setor produtivo (SDP, 1998) (Vilela, 2001).

Este artigo tem carater exploratório com objetivo de apresentar os resultados de três estudos de caso descrevendo as opiniões de pessoas do setor leiteiro que mais as preocupa nas unidades produtoras de leite e quais seriam suas prioridades se fossem gerentes de organizações de pesquisa ou extensão. As opiniões dos participantes foram comparadas com os treinamentos proporcionados aos extensionistas e produtores de algumas cooperativas no sul do Brasil e da região subtropical da Austrália. Um estudo foi conduzido na Australia - Costa norte do Estado de New South Wales (NSW) e dois no Brasil, no Rio Grande do Sul, especificamente nas microregiões de Santa Rosa e Alto Jacuí. Os resultados evidenciam demandas por ações nas áreas de conhecimento relacionadas a Gerência, Finanças, Trabalho, Comunicação, Pastagens e Nutrição. Apresenta ainda dados de como os técnicos de uma indústria de laticínios vem sendo treinados, evidenciando a necessidade de reestruturar o preparo dos mesmos.

Palavras-chave - leite, extensão rural, pesquisa & desenvolvimento, demandas, treinamento

Introdução

Os governos da Austrália e do Brasil deram suporte para a criação da extensão rural nos dois países (Russell, 1989, Olinger, 1996). Na Australia os Departmentos de Agricultura e os DPI (Departamento da Indústria Primária), ambos governamentais, deram o principal suporte à criação e manutenção da extensão rural. Na Austrália, entretanto, o foco não é o pequeno produtor, mas qualquer produtor (Hamilton, 1995, Russell, 1989). A extensão na Austrália continua a ser gratuita mas está mudando de gratuita com atendimento individual para gratuita para grupos e, dependendo da situação, a assistência é cobrada (Wegener, 2003). No Brasil, desde as "semanas do fazendeiro" em 1930, depois com a criação da ACAR (Associação de Crédito e Assistência Rural), até a criação da Embrater, o governo brasileiro foi o principal investidor em extensão rural. Em 1990 a extensão rural pública brasileira, gerenciada pelo Sistema Embrater, tinha 26 Organizações Estaduais, 310 escritórios regionais, 3.201 escritórios locais, 262 escritórios distritais, 27 centros de treinamento. As Emateres atendiam a 1.119.939 produtores (Olinger, 1996). Infelizmente, na década de 90, o Sistema Embrater foi desativado e a escassez de recursos provocou o fechamento de muitas dessas unidades. Alguns estados optaram por encerrarem suas atividades de extensão rural, como por exemplo os estados do nordeste. Em outros estados, as organizações de extensão se uniram às de pesquisa, como foi o caso de Santa Catarina, Mato Grosso e Goiás. E, em outros estados, a extensão rural continua a prestar seus serviços, tais como, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. A Emater, além do enfoque de produção, sempre contou com um quadro de funcionários com formação social, geralmente chefiados por técnicos das ciências agrárias.

Na Austrália o governo e a iniciativa privada deram grande impulso a pesquisa desde a década de 30 (1930), particularmente ao setor leiteiro (ADIC, 1996). Por outro lado, no Brasil, principalmente o governo investiu em pesquisa desde o império (ABAG, 2002) depois com os IPEA (Instituto de Pesquisa Agropecuária) A partir de 1973 a Embrapa centralizou a pesquisa agropecuária no Brasil. Em 1984 a Embrapa contava com 1.614 pesquisadores, e um total de 7.792 funcionários. Em 2003 a Embrapa atua por intermédio de 37 Centros de Pesquisa, três Serviços e 11 Unidades Centrais, estando presente em quase todos os Estados da Federação, nas mais diferentes condições ecológicas. Para chegar a ser uma das maiores instituições de pesquisa do mundo tropical, a Empresa investiu sobretudo no treinamento de recursos humanos, possuindo, hoje, 8.619 empregados, dos quais 2.221 são pesquisadores (Embrapa, 2003).

Entretanto, apesar do sucesso da pesquisa junto ao poder público, as empresas de pesquisa e os cientistas do setor agrícola estão sob pressão na Austrália para produzirem mais resultados que beneficiem Indústrias de Beneficiamento e Transformação de Leite e unidades produtoras (Carberry, 2001). A pesquisa brasileira também está sob pressão para produzir resultados mais objetivos agregrando valor a produção ou ainda, tornar mais fácil o acesso aos resutados já conseguidos. Não há dúvida sobre a capacidade técnica dos pesquisadores brasileiros, porém é preciso simplificar a informação gerada pela pesquisa para uso no setor produtivo (Carvalho, 2000).

O jornal eletrônico MilkPoint publicou matéria que reforça a necessidade de qualificar a informação facilitando o acesso aos resultados da pesquisa. A pesquisa foi para identificar o que mais vem limitando a melhoria dos índices técnicos de produção de leite no Brasil. 89 atores do setor leiteiro participaram da pesquisa. A Tabela 1 mostra que a extensão rural foi considerada mais importante do que a pesquisa aplicada (MilkPoint, 2000).


Para melhorar os serviços que presta ao setor produtivo, organizações de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) na Austrália e no Brasil estão buscando novos modelos para aperfeiçoar o D do P&D. Os novos esforços são abordagens participativas ao setor produtivo, aumentando a aplicação de metodologias do construtivismo, no sentido de conseguir melhor interação e melhor retorno dos resultados de P&D para os próprios setores produtivos. Neste sentido Paulo Freire publicou contribuições valiosas em seu livro "Extensão ou Comunicação". Uma contribuição valiosa é no sentido de Pesquisa & Desenvolvimento, e principalmente da Extensão rural, desafiar o cliente, que geralmente é o produtor. O desafio é fazer o produtor sair do papel de espectador anestesiado, e passar a pensar junto com técnicos de P,D&E, fazendo parte do processo de identificação da demanda ou problema, gerando ou adaptando tecnologias e transferindo ou comunicando novas idéias ou tecnologias à comunidade produtiva (Freire, 1992).

Essa ação esbarra na formação dos pesquisadores e extensionistas envolvidos, baseada, principalmente, em tecnologias de produção . São principalmente agrônomos, veterinários, zootecnistas e técnicos agrícolas, usando uma abordagem mais quantitativa e reducionista . As organizações de P&D precisam reforçar os conhecimentos de seu quadro técnico em ciências voltadas a comunicação e ciências sociais, de forma a facilitar a integração entre pesquisa, extensão e unidades produtoras. Essa é uma tendência mundial observada em estudos voltados para "!adult learning, construtivist aproach, participatory learning, grounded theory, farming systems research", entre outros (Hamilton, 1995).

Problema

Existe um duplo desafio em questão. O primeiro é da comunidade de pesquisa, para ser mais preciso, uma parcela da comunidade que tem a função de estar fazendo a ligação entre pesquisa, extensão rural e produtores. Essa parcela precisa exercitar constantemente seus conhecimentos de abordagens participativas e a se colocar na posição de ouvinte e parceiro na identificação de idéias e na organização de ações. O segundo é desafiar o setor produtivo a criar ou co-participar no processo de seleção do que a pesquisa deve fazer e no planejamento da ação. Essa afirmação não significa que as pessoas do elo produtivo da cadeia do leite devam entender da teoria ou das metodologias de pesquisa.

Os objetivos deste artigo são: (a) desafiar pessoas de regiões produtoras e das próprias UPs (Unidades Produtoras) a expressar suas opiniões sobre o que mais os preocupam em uma Unidade Produtora, (b) como essas pessoas agiriam se fossem gerentes de organizações de P,D&E, e (c) identificar junto a organizações que oferecem treinamentos no Brasil e na Austrália, quais treinamentos os técnicos de campo e produtores receberam nos últimos 4 anos. A forma de coleta de dados está descrita no tópico métodos.

Métodos
A estratégia usada nos três estudos de caso está descrita na Figura 1. Partes da estratégia estão descritas nos itens a seguir.

Identificação de treinamentos oferecidos por organizações do setor leiteiro a técnicos e produtores
Foi feito levantamento junto a gerência de uma indútria brasileira de laticínios que participou do estudo, quanto a que tipo de treinamentos foram oferecidos aos técnicos de campo nos últimos quatro anos. O mesmo procedimento foi feito junto a organização que trabalha como elo de ligação entre produção e orgão provedor de recursos para pesquisa no setor leiteiro na Austrália.

Identificação de áreas de preocupação em Unidade Produtora e como entrevistados agiriam como gerentes de P&D ou Extensão

Abordagem da comunidade produtora
A preocupação inicial da pesquisa foi conseguir dos atores-chave no estudo, o entendimento do objetivo da pesquisa, a confiança dos participantes nas entrevistas e atingir um clima de descontração durante as entrevistas. Para obtenção desses resultados a estratégia de trabalho foi iniciada com apresentação do trabalho a ser feito para pessoas da extensão e alguns produtores nos três estudos de caso. Em seguida houve contato mais direto com alguns produtores selecionados, e suas famílias, através do trabalho dia a dia nestas propriedades. De acordo com Tattersal (2001) "... o contato através de convívio regular no lugar de interesse da pesquisa, é a melhor oportunidade de se conseguir as situações reais e cooperação desejados ".

Figura 1 - Estratégia de identificação de subsistemas(6) de preocupação em uma Unidade Produtora e prioridades de ação dos entrevistados se fossem gerentes de organisação de P&D ou extensão

Entrevistas semi-estruturadas
Foram feitas entrevistas semi-estruturadas com atores do setor produtivo, usando uma abordagem participativa, em três comunicades leiteiras, uma na Australia - Costa norte do Estado de New South Wales (NSW) e duas no Brasil, no Rio Grande do Sul, especificamente nas microregiões de Santa Rosa e Alto Jacuí. O critério de escolha dos primeiros produtores entrevistados foi: interesse em progredir na atividade, abertura para diálogo, e alguns pequenos produtores. Nenhum produtor de assentamento rural foi ouvido. A variedade de entrevistados foi definida primeiro pelo uso de amostras direcionadas ou intencionais (purpusive sampling) para produtores (Burns, 1997, Neuman, 1999), e, segundo pela indicação dos entrevistados, principalmente produtores, de outras pessoas para entrevistar. Usou-se a técnica de bola de neve (snow ball technique) {Crowder, 2001 #234;Neuman, 1999 #199}. Perguntou-se ao produtor o nome de algumas pessoas da sua comunidade com quem ele se comunica para discutir assuntos do setor, não necessariamente produtores. Poderiam até ser pessoas de fora do setor mas que costumam ter boas idéias sobre o setor leiteiro. Usando essas técnicas foi identificada a rede de comunicação dos produtores. As perguntas feitas aos participantes foram:
1 - Quais os subsistemas de uma Unidade Produtora que mais lhe preocupam?
2 - Se você fosse gerente de uma organização de P&D ou de extensão onde concentraria suas ações?

6 - É um conjunto de fatores que envolvem determinada área do conhecimento.

De acordo com Harmsen (2002), a interação com o entrevistado deve desafiar a maneira de pensar do mesmo e ampliar suas percepções quanto ao futuro. Por outro lado, o conselho de acadêmicos experientes foi de muita valia quanto ao relacionamento com os entrevistados. De acordo com o comunicado pessoal de Frank (2002) as entrevistas não devem seguir necessariamente uma ordem pré-estabelecida e deve-se alternar perguntas que exigem esforço mental com outras perguntas mais fáceis de se responder, o objetivo é manter um clima de descontração durante a entrevista. De acordo com comunicado pessoal de Chamala (2001) é preciso ter habilidade para evitar que o produtor de leite, que tende a lamentar sobre a atividade, "sequestre" o objetivo da entrevista.

Análise de conteúdo
Usou-se a análise de conteúdo, descrita por Neuman (1999) e Robson (2002), para organizar os dados. Esta análise tem o objetivo de reunir os assuntos relacionados aos principais códigos identificados e assim construtuir uma estrutura de códigos. Através da análise dos códigos e das contribuições referentes a cada um destes códigos, pode-se sumarizar os principais resultados da pesquisa.

Resultados

Os entrevistados tinham a opção de atribuir peso 3, 2 ou 1, nesta ordem, para os três subsistemas que mais preocupam em uma unidade produtora. As pontuações de subsistemas de preocupação foram ponderadas pelo número de entrevistados em cada estudo de caso. Foram entrevistadas um total de 124 pessoas. Na Australia, Costa norte do estado de New South Wales, 36 pessoas do setor leiteiro foram entrevistadas. No Rio Grande do Sul, Brasil, 88 pessoas foram entrevistadas, sendo 42 da região de Santa Rosa e 46 pessoas na região de Alto Jacuí. A Tabela 2 indica, com base nos dados dos três estudos de caso, uma concentração em subsistemas mais relacionadas à gerência do que a tecnologias de produção. Observe como o subsistema Trabalho aparece como uma das três principais preocupações para os participantes. A maioria dos entrevistados, 54%, foi de produtores.


Para a pergunta relacionada a prioridade de ação onde os entrevistados atuariam se fossem gerentes de organização de pesquisa ou de extensão, observa-se na Tabela 3 uma unanimidade de intenção de ação em duas áreas, Comunicação e Pastagem. Esses resultados indicam que os entrevistados valorizam o trabalho em tecnologias de produção mas que também colocariam mais esforço na divulgação ou comunicação dos resultados. Combinando as Tabelas 2 e 3, e considerando os três primeiros itens de cada uma, pode-se inferir que os entrevistados gostariam de ver as organizações de pesquisa e extensão intensificando suas ações em Gerência, Finanças, Trabalho, Comunicação, Pastagens e Nutrição. As Tabela 4 e 5 mostram onde realmente estão concentrados os esforços de treinamento nas organizações que participaram dos estudos de caso. Na Austrália, a Tabela 4 mostra onde se concentraram os esforços de treinamento para técnicos e produtores em uma organização de pesquisa e extenão, patrocinada pelos produtores e governo. No Brasil, a Tabela 4 mostra os treinamentos oferecidos por uma indústria brasileira de laticínios que também presta assistência técnica ao produtor.


Austrália
No levantamento dos 15 treinamentos percebe-se uma concentração para tecnologias de produção (8 treinamentos). Existe porém, preocupação com aspectos de Gerência, manifestados pelos quatro treinamentos oferecidos. Estes cursos foram identificados e oferecidos principalmente por demanda dos produtores.


Brasil
No levantamento dos 47 treinamentos oferecidos pela indútria leiteira, Elegê Alimentos aos técnicos de campo nos últimos quatro anos, nota-se na Tabela 5 que os treinamentos concentraram-se principalmente em tecnologias de produção (32 treinamentos). Os treinamentos identificados como Genéricos contemplam diversas áreas do conhecimento, principalmente o de 2003. Pode-se observar cursos de Gerência em todos os anos, exceto em 2002. Não foi constatado um treinamento específico para Finanças, embora tenha sido observado nas regiões o uso de planilhas para levantamento de custos de produção e acompanhamento das Unidades Produtoras. Quanto a Trabalho, segundo opinião dos participantes, deveriam ser intensificados esforços no sentido de aumento de produtividade do produtor, e até, estudar formas do produtor ter férias. Quanto à Comunicação, a opinião dos entrevistados indica que deve-se ampliar o número de treinamentos. A segunda área de preferência dos entrevistados, Pastagem, já foi contemplada em treinamentos assim como Nutrição.

Observações de campo
No Brasil pode-se observar que técnicos que efetivamente trabalham com extensão rural aparentemente não gostam de serem chamados de extensionistas, dando preferência a títulos do tipo consultores técnicos. Entre os entrevistados foram coletadas opiniões como: "A maioria dos pesquisadores não tem uma visão do todo de uma fazenda" ou "gostaria que técnicos da assistência viessem a minha fazenda, tomassem um chá, e ai entendessem dos assuntos da fazenda (envolvendo os assuntos não relacionados a tecnologias de produção)".

Durante o estudo foi observado que todos os técnicos que gerenciam os extensionistas tem formação em ciências agrárias (Agronomia, Veterinária ou Zootecnia), o que não significa nenhuma surpresa diante da tradição da extensão rural ser feita por estes tipos de profissionais. Entretanto, os técnicos com formação em ciências agrárias gastam cerca de 50% do seu tempo em negociações de preço ou outros assuntos não relacionados às tecnologias de produção.

Durante o estudo, analisando o número de estudantes de Mestrado e Doutorado em Extensão Rural da Universidade de Queensland / Austrália, Escola de Gerência de Recursos de Sistemas Naturais Rurais, observa-se uma tendência de diminuição de estudantes neste curso e aumento de interessados em Desenvolvimento rural ou assuntos relacionados a educação ou ciências sociais. Foi também observada a diminuição de técnicos com graduação em ciência agrárias (Técnicos Agrícolas, Agrônomos, Veterinários e Zootecnistas) trabalhando com extensão rural na Austrália e aumento de técnicos com graduação em ciências sociais, em assuntos relacionados a comunidades rurais, onde produtores ou comunidades rurais costumam ser o foco do estudo.


Conclusões

Organizações que trabalham com extensão rural precisam definir que público e qual o perfil de necessidades deste público na definição do tipo de treinamento. Isto porque, não só tecnologias de produção foram demandadas pelos atores nos estudos de caso realizados. A fragilidade do presente estudo está no fato de que foram estudos de caso, não permitindo inferência mais abrangente. Pesquisadores e técnicos que atendam a produtores, similares aos escolhidos nos critérios deste estudo, precisam manter seus conhecimentos em teconlogias de produção, mas também aumentar seus conhecimentos em Gerência e/ou Finanças, compreender mais a natureza do trabalho na atividade leiteira, sistemicamente, assim como, adquirir mais conhecimentos aliados a práticas de comunicação com sistemas de produção. Ao comentário "A maioria dos pesquisadores não tem uma visão do todo de uma fazenda" deve-se somar também que o técnico de P,D&E deve ter uma visão sistêmica da cadeia produtiva do leite como um todo, visto que o setor leiteiro, está se integrando cada vez mais ao setor leiteiro internacional. Um exemplo dessa integração é a Aliança Láctea Global, da qual fazem parte principalmente países do hemisfério sul, inclusive o Brasil.


O quanto investir em comunicação, negociação e gerência em futuros treinamentos?. Certamente há necessidade de aumentar a formação social e o conhecimento em comunicação dos técnicos que lidam direto com o setor produtivo. Esta preocupação já existiu nas Emateres, mas talvez a forma de abordagem dessas ações não fosse a ideal já que eram gerenciadas por técnicos com formação acadêmica voltada para tecnologias de produção. No tocante a pesquisa, o envolvimento em comunicação deve ser exigido somente de uma parcela dos pesquisadores, aqueles que servirão de elo de ligação com a extensão rural das diversas regiões e os respectivos sistemas de produção. Não se está afirmando que toda ação deve ser baseada no construtivismo. A pesquisa com base no pensamento positivista tem, e sempre terá, seu lugar quando se exige foco em um item específico. Todavia, os resultados de uma pesquisa reducionista devem, a seu tempo, ser inseridos no sistema produtivo, ai se encontra o valor do construtivismo e de abordagens participativas.

As conclusões dos estudos de caso levantam uma outra discussão, o tempo dos pesquisadores para atuar em sistemas de produção. Uma solução a ser trabalhada seria a inclusão de escolas agrícolas e universidades em projetos de pesquisa. Essa solução traria: (a) Expansão da capacidade de resposta das instituições de pesquisa agropecuária à extensão rural regional e aos sistemas produtivos, (b) oportunidade de incluir a futura geração de técnicos em ciências agrárias nas ações do presente, (c) ampliar a capacidade de coleta e análise de dados, (d) ampliar a capacidade de produzir literatura com os primeiros artigos por parte dos estudantes que tenham pretenções a seguir a carreira de pesquisa, ou à ciência da extensão rural, sociais aplicadas ao meio rural.

Os entrevistados mostraram uma preocupação que vai além de simplesmente produzir. Eles pedem uma melhor interação entre pesquisa, extensão e unidades produtivas. Neste sentido, a seleção de unidade produtivas "benchmark", organisada pela extensão pública ou privada, em parceria com a pesquisa, seria uma forma de melhorar a visão realística da produção. O processo de seleção de unidades produtoras benchmark certamente estimularia o relacionamento entre pesquisa, extensão e unidades produtoras.

O comentário final é de que a concentração dos treinamentos não condiz com a demanda das pessoas do setor produtivo. Esse comentário não sugere que os treinamentos em tecnologias de produção não são necessários, mas que precisam ser melhor equilibrados com os tipos de conhecimento demandados pelas pessoas consultadas.

Referências

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1 Eng.Agr.M.Sc, Diretor de Planejamento e de Política Leiteira da Elegê Alimentos S.A; Professor Titular da UPF (Universidade de Passo Fundo); Presidente da AGL (Associação Gaúcha de Laticinistas); Presidente da ABAG (Associação Brasileira de Agribusiness) e Produtor de Leite.

2Pesquisadores da Embrapa Gado de Leite rusti@cnpgl.embrapa.br

3A idéia central do constructivismo é que a aprendisagem do ser humano é construida, e que o aprendiz constroi novo conhecimento sobre as fundações do que aprendeu antes. Esse ponto de vista contrasta com o ponto de vista de que aprender é uma forma passiva de transmitir informação de um indivíduo para outro, ou que recepção e não a construção do conhecimento é a chave do aprendisado Hill S., T. Dictionary of Sociology, Borgatta, E. F., Marie L. Borgatta Encyclopedia of Sociology, New York, Julius Gould, W. L. K. A Dictionary of The Social Sciences..

4Tecnologias de produção para este artigo são aquelas relacionadas a nutrição, pastagens, reprodução, genética, saúde e higiene, manejo animal

5O reducionismo é um processo que involve reduzir os componentes de um problema complexo em partes menores, analisar o problema a partir dessas partes menores, gerar resultados e fazer previsões mais genericas a partir desses resultados Pretty, J. N. (1994) IDS bulletin, 25, 37-48.

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