Em um vídeo que circulou entre membros da delegação brasileira na Conferência do Clima da ONU (COP), que ocorre na Polônia, Salles disse ainda que trabalhará em total sinergia com a Agricultura e com respeito absoluto ao produtor rural, gerando receio de que a pasta poderá ser submetida ao agronegócio no novo governo.
O material foi gravado na Granja do Torto ao lado de um dos articuladores do agronegócio na campanha de Bolsonaro, Frederico D’avila, eleito deputado estadual pelo PSL, e de Nabhan Garcia, presidente da União Democrática Ruralista e braço-direito de Bolsonaro no tema.
O presidente eleito tinha planos de fundir o Meio Ambiente à Agricultura, mas voltou atrás da decisão após críticas.
Durante a campanha, Bolsonaro disse que poderia retirar o Brasil do Acordo de Paris, o qual estabelece metas para os países signatários de redução da emissão de gases causadores do efeito estufa. O presidente eleito, no entanto, afirmou que o país pode permanecer no acordo climático se forem cumpridas certas condições. “A minha tendência... é dizer que nós não devemos deixar o acordo”, explicou Salles, que foi indicado no domingo por Bolsonaro para assumir a pasta no próximo governo.
“Mas, por outro lado, isso também não significa que nós devemos aceitar toda e qualquer sanção, restrição e programa de maneira indiscutível. Todos os países têm que respeitar a autonomia brasileira para gerir seu território e decidir suas políticas do meio ambiente internamente.”
No acordo, contudo, são os próprios países que definem suas metas de redução e como executá-las.
O Brasil assumiu o compromisso de cortar as emissões em 37% até 2025 e em 43% até 2030 como parte do acordo, apesar de ainda não ter apresentado um plano completo sobre como atingir as metas.
“O país usará o bom senso ao detalhar como lidará com o acordo, e até agora vem sendo responsável ao preservar uma grande porcentagem de sua vegetação nativa”, disse Salles.
Na COP-24 na Polônia, a secretária-executiva da agência de mudanças climáticas da ONU, Patricia Espinosa, demonstrou esperança ao falar à Folha sobre o novo governo brasileiro. “A agência acompanha de perto a situação, pois o Brasil é um parceiro importante. Até onde sei, o Brasil é parte do Acordo de Paris e deve continuar sendo”.
Ex-secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Salles disse que acredita na mudança climática, mas que não sabe dizer com certeza se ela é provocada pelo homem ou se é uma alteração que ocorre naturalmente. Contudo, a comunidade científica e os estudos realizados sobre o assunto apontam o papel determinante do homem na mudança climática.
Para Salles, o Brasil deveria deixar essa questão para os acadêmicos e seguir em frente com o negócio “menos charmoso” da proteção ambiental, o que inclui dejetos, questões do solo e a conversão da frota de veículos para combustíveis menos poluentes.
Salles afirmou que Bolsonaro não reduzirá o orçamento do ministério e das agências ambientais ligadas à pasta, entre elas o Ibama, mas que as agências ambientais não estão produzindo os resultados que deveriam. Ele disse que buscará corrigir essa “ineficiência”.
Indagado se o Brasil deveria reconsiderar a decisão tomada pelo Ibama na semana passada de negar uma permissão para a Total explorar petróleo na delicada bacia da Foz do Amazonas, Salles respondeu que não se deve permitir que a ideologia influencie a decisão e que ela deve se basear somente em fatos.
Segundo ele, o país precisa encontrar um equilíbrio entre licenciamento ambiental, seja para agropecuária ou mineração, e desenvolvimento, já que regras muito severas levam pessoas à ilegalidade ou induzem produtores a abandonarem o mercado. “Temos a certeza que fará uma grande administração, porque Ricardo Salles à frente do Ministério do Meio Ambiente significa o fim do Estado policialesco e o fim do Estado confiscatório em cima de quem trabalha e produz nesse país”, diz Nabhan Garcia no vídeo que circulou.
Ele chegou a ser cotado por Bolsonaro para a Agricultura e defendia que o Brasil deixasse o Acordo de Paris.
As informações são do portal de notícias Reuters.