Craig Bell (ex-Gerente Geral da Fonterra Brasil) e Simon Wallace (cuja família é uma das maiores produtoras de leite da Nova Zelândia) são os principais diretores da empresa, com total de 10 sócio-investidores, entre brasileiros e neozelandeses.

MKP: O projeto de industrialização sempre existiu, ou representa uma mudança na estratégia da empresa? Se é uma ideia nova, porque essa decisão, considerando que na Nova Zelândia, por exemplo, a verticalização não é uma realidade?
Craig Bell: Quando começamos o projeto, notamos que o Nordeste do Brasil é uma região deficitária de leite, e acreditamos que é melhor ter uma fazenda perto da demanda do que em uma região excedente de leite. Além disso, tem possivelmente o melhor clima no Brasil para produção de leite ao pasto, o Sudoeste de Bahia oferece essa outra vantagem.

MKP: A Leite Verde sempre se manteve distante da imprensa e mesmo de técnicos e produtores que desejavam visitá-la. Porque de repente essa mudança, abrindo a propriedade para visitação?
Craig Bell: Optamos por manter uma posição distante durante este período devido a que queríamos ter dados reais do potencial de produção da nossa região antes de divulgar resultados. Agora temos dados confiáveis do potencial para divulgação e já recebemos vários técnicos na fazenda, notavelmente da DPA.
MKP: Quando se diz que as condições são ainda melhores do que na
Nova Zelândia, o Sr. se refere a custos de produção?
Craig Bell: Podemos produzir três vezes mais leite por hectare do que a Nova Zelândia consegue, com um perfil regular de produção durante o ano, sem a necessidade de fazer silagem ou usar outros suplementos durante o inverno. O custo de produção é similar ao da Nova Zelândia, mas as vantagens acima fazem a diferença para nós.
MKP: Se positivo, o Sr. acha que essa região do país pode se transformar em um novo polo de produção de leite, inclusive com potencial de exportação?
Craig Bell: Existe na nossa região de Jaborandi e Cocos, uma grande oportunidade para produzir leite com um custo baixo devido ao clima, e à abundância e qualidade de água. Esta região possui todas as condições para transformar-se em um novo polo de produção de leite no Brasil, mas para exportar temos dúvidas porque estamos a 1.200 km longe da costa e o custo de logística é alto.
MKP: O Sr. acha que, a partir do sucesso desse empreendimento, outros produtores da Nova Zelândia irão se estabelecer no Brasil?
Craig Bell: Já existem outros fazendeiros da Nova Zelândia no Brasil em outras regiões, e acho que provavelmente chegarão mais fazendeiros neozelandeses ao Brasil.
MKP: Quais foram as grandes dificuldades verificadas por um produtor neozelandês que, há 7 anos, decidiu se estabelecer em uma região sem tradição na atividade e com pouca infraestrutura?
Craig Bell: Tínhamos que estabelecer a maioria da infraestrutura, investindo em 25 km de linhas de energia elétrica, 75 km de estradas, uma escola, e muitas casas, além de desenvolver diversas habilidades dentro da companhia para manutenção e operação do projeto. Um fazendeiro na Nova Zelândia não precisa preocupar-se com estes detalhes.

MKP: Em sua opinião, quais são os grandes desafios que o setor tem no Brasil, se comparado por exemplo à Nova Zelândia?
Craig Bell: Na minha opinião, o maior desafio para o setor no Brasil, pensando em sistemas de produção a pasto, é a qualidade genética das vacas. Encontramos uma grande diferença de conversão de pasto em leite entre a genética da Nova Zelândia e as vacas brasileiras, mas acho que com um enfoque nessa área é possível desenvolver uma vaca com bom potencial para as condições locais.

Adicionalmente, se o Brasil deseja aumentar seu volume de exportações, a qualidade de leite precisa melhorar muito, eliminando resíduos de carrapaticidas e antibióticos da cadeia, e reduzindo a contagem de bactéria no leite cru, que é aproximadamente 1.000.000 UFC/ml hoje, para menos que 50.000 UFC/ml.
Veja matéria sobre a Fazenda Leite Verde , publicada no MilkPoint.
