Os dois planos estão em estágio avançado de gestação no Ministério da Agricultura, mas poderão demorar mais que o previsto para saírem do papel por causa da reforma da Previdência, que tende a concentrar as atenções do Congresso ao menos pelos próximos dois meses.
"Vai depender da agenda de reformas estruturantes. Não dá para mandar um tema polêmico junto com a Previdência. Não é uma coisa para acontecer agora, mas temos que ir preparando. O brasileiro precisa entender que cada um tem sua responsabilidade e tem que pagar por ela. Não pode ser tudo nas costas do governo", disse a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, ao Valor.
Enquanto aguarda o momento certo, o ministério estuda se vai incluir em um mesmo projeto o autocontrole e as multas ou se fará isso de maneira separada.
Em linhas gerais, a ideia é resgatar uma Medida Provisória editada pelo governo de Michel Temer em 2017, que aumentou de R$ 15 mil para até R$ 500 mil o valor máximo das multas cobradas sobre indústrias de produtos de origem animal como carnes, lácteos, pescado, ovos e mel.
A MP foi uma das promessas do então ministro da Agricultura, Blairo Maggi, em resposta à Carne Fraca, operação da Polícia Federal que revelou um esquema de corrupção entre fiscais federais e funcionários de frigoríficos. Mas o Congresso Nacional não a aprovou e a lei caducou, após grande pressão das empresas, sobretudo da área de carnes.
O Valor apurou que, por causa disso, o ministério ainda enfrenta dificuldade em julgar as multas aplicadas com valores maiores durante os quatro meses em que a MP vigorou antes de caducar. Agora, a intenção da ministra Tereza Cristina é recorrer à "mão pesada" do Estado na aplicação das multas também a outras agroindústrias que inicialmente ficariam fora do alcance das novas regras, como fábricas de ração, fertilizantes e bebidas.
Tereza garante que, no caso dos frigoríficos, a regulamentação do autocontrole não envolverá as etapas anterior e posterior ao abate de animais. A presença permanente de auditores fiscais agropecuários para acompanhar esses processos é prevista em lei e condição exigida por países importadores nas negociações de abertura ou manutenção de mercados.
"Isso é uma questão de saúde pública e não vai ter autocontrole. Agora, se o produto está ruim, a empresa tem que fazer o quê? Tem que fazer como acontece nos Estados Unidos, onde é cheio de recall", completa a ministra.
As informações são do Valor Econômico.