México responde a tarifa dos EUA e taxa produtos americanos, inclusive, queijos

O peso mexicano despencou ontem após o México impor tarifas sobre produtos importados dos EUA, como uísque bourbon, maçã, batata, queijo e carne de porco. A medida representa uma retaliação às sobretaxas adotadas pelo governo do presidente Donald Trump para o aço e o alumínio.

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O peso mexicano despencou ontem após o México impor tarifas sobre produtos importados dos EUA, como uísque bourbon, maçã, batata, queijo e carne de porco. A medida representa uma retaliação às sobretaxas adotadas pelo governo do presidente Donald Trump para o aço e o alumínio. O anúncio das tarifas mexicanas, que variam de 15% a 25%, veio num momento em que o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) é alvo de novo ataque da Casa Branca.

"Por fim eclodiu no quintal dos EUA uma guerra comercial declarada, com efeitos potencialmente terríveis para a sobrevivência do Nafta", disse Eswar Prasad, professor de política comercial e economia da Universidade Cornell. O peso mexicano, que perdeu 13% de seu valor desde meados de abril por causa da força do dólar, ficou refém de um conflito tarifário que poderá comprometer as relações entre os aliados, disse Juan Francisco Caudillo, analista do banco mexicano Monex.

No fim da tarde de ontem em Nova York, o dólar avançou 1,9%, para 20,44 pesos - maior nível desde fevereiro de 2017. "Poderá chegar a 21 pesos antes das eleições mexicanas", marcadas para 1º de julho, acrescentou Caudillo. A lista de produtos americanos sujeitos às novas tarifas não incluiu os dois principais produtos agrícolas exportados pelos EUA ao México: milho e soja. Isso permite que esses componentes da ração animal continuem a alimentar a pecuária e a avicultura mexicanas.

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"O México parece estar em posição precária porque tem de reagir às medidas dos EUA e formular essa lista. Ao mesmo tempo, tem de ser sensível aos seus agricultores e aos seus eleitores, que serão impactados antes das eleições", disse Bill Lapp, da consultoria agrícola Advanced Economic Solutions, sediada nos EUA. "Não impor tarifas ao farelo de milho e de soja, mas impor à carne de porco, daria, implicitamente, vantagem considerável aos pecuaristas do país", disse Lapp.

A lista mexicana prioriza produtos exportados por Estados importantes na base política de Trump. Não está claro se os EUA vão retaliar com novas tarifas contra produtos mexicanos. A medida tarifária ocorre após o governo Trump ter reafirmado seu desejo de pressionar por negociações bilaterais sobre o Nafta com o México e o Canadá.

À Fox News, Larry Kudlow, assessor econômico de Trump, disse que Washington prefere agora essa "guinada" bilateral. "Países diferentes talvez mereçam acordos diferentes", disse Kudlow. Ele acrescentou: "Sua preferência agora, e ele [Trump] me pediu para transmitir isso, é negociar separadamente com o México e o Canadá". O México opôs resistência a essa tentativa de dividir os parceiros do Nafta, e uma fonte disse que não acredita que a sugestão seja aceita pelo governo canadense. "Eles vão dizer 'por que temos de aceitar coisas que o México não está aceitando?'", disse uma fonte bem-informada sobre as negociações.

Negociar com os países separadamente exporá o Canadá a negociações duras sobre seu setor de laticínios, seus mecanismos de resolução de conflitos e seu sistema de compras governamentais de produtos e serviços ao governo - três áreas em que o país rejeitou as exigências dos EUA. "Os EUA estão frustrados pelo fato de que o México e o Canadá tiveram êxito em jogar dois contra um nesta negociação", disse Eric Miller, presidente da consultoria canadense Rideu-Potomac Strategy Group. 

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A fonte mexicana acrescentou: "Uma coisa que [o governo Trump] parece esquecer é que ele não têm Autoridade de Promoção Comercial (TPA, nas iniciais em inglês) para negociações bilaterais, só para o Nafta", disse, referindo-se à autoridade concedida pelo Congresso ao governo. "Eu gostaria de ver o que o Congresso acha disso."

Jaime Zabludovsky, um dos negociadores originais do Nafta, como representante do México, disse que o desejo de Trump de negociar separadamente não faz sentido, além de ir contra os interesses do setor privado americano. "Não sei porque Trump acha que os problemas que existem nas negociações trilaterais vão desaparecer nas negociações bilaterais. Tudo o que prejudica o México prejudica o Canadá - e 90% do que prejudica o Canadá prejudica o México", disse Zabludovsky.

Prasad disse que, neste momento, está difícil de ver um caminho para um acordo negociado entre os três países que preserve o Nafta como algo próximo da sua forma atual. "A tentativa de Trump de dividir para governar os parceiros dos EUA no Nafta, a fim de obter um acordo melhor, pode talvez acabar unindo o Canadá e o México contra as exigências dos EUA."

A ideia de negociações bilaterais separadas também tende a despertar a oposição de muitos republicanos do Congresso americano, que terão de aprovar qualquer acordo, e a comunidade empresarial americana. "Agora é hora de perseverar e de trabalhar com nossos parceiros comerciais para encontrar uma trajetória em direção a um Nafta atualizado, que atenda aos altos padrões das [instruções comerciais do Congresso] bipartidárias e conquiste o apoio do Congresso", disse o republicano Orrin Hatch, presidente da Comissão de Finanças do Senado.

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As informações são do jornal Valor Econômico.

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