Marcos Veiga, presidente do CBQL, fala sobre a IN-51 e os impactos da medida no setor leiteiro nacional

O Dr. Marcos Veiga dos Santos, presidente do Conselho Brasileiro de Qualidade do Leite (CBQL), é uma unanimidade em se tratando de qualidade do leite, manejo de ordenha, mastite e outros assuntos que envolvem um dos maiores desafios da pecuária leiteira nacional: produção de leite com qualidade. Nessa entrevista, Veiga falou sobre as especificações da Instrução Normativa 51, as condições que o setor leiteiro se encontra e os impactos dessa medida na produção de leite do país.

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O Dr. Marcos Veiga dos Santos é uma unanimidade em se tratando de qualidade do leite, manejo de ordenha, mastite e outros assuntos que envolvem um dos maiores desafios da pecuária leiteira nacional: produção de leite com qualidade.

Por essa e outras razões é o atual presidente do Conselho Brasileiro de Qualidade do Leite (CBQL), onde tem atuado em conjunto com sua equipe objetivando a melhoria da qualidade do leite nacional. Atua também como articulista da nossa seção de radares técnicos sobre qualidade do leite (clique aqui para ver alguns de seus artigos), uma das mais comentadas do site.

Nessa entrevista, Veiga falou sobre as especificações da Instrução Normativa 51, as condições que o setor leiteiro se encontra e os impactos dessa medida na produção de leite do país.

MilkPoint: Quais as especificações da Instrução Normativa-51 que tem seu prazo final para adaptação em julho próximo?

MV: As principais mudanças para as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste são a redução dos limites de CCS e CBT, conforme a tabela abaixo. Deve-se destacar que ambos os critérios (CCS e CBT) passarão, a partir de julho/2011, a ser iguais aos limites da Comunidade Europeia atualmente me vigor. Estes mesmos limites serão alterados para as regiões Norte e Nordeste em 2012.

Tabela 1. IN 51/2002 - Regulamento Técnico de Qualidade do Leite cru refrigerado.

Figura 1

MilkPoint: Existem diferenças para determinadas regiões? Se sim, por que e quais?

MV: Sim, a Instrução Normativa 51/2002 previu que houve uma diferença entre as regiões Norte e Nordeste em relação as demais, pois nestas regiões novos padrões de qualidade somente seriam implantados depois dois anos do início da entrada em vigor das regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste (conforme tabela acima). Estas diferenças de prazo de implantação foram planejadas para permitir mais tempo de adaptação para as regiões Norte e Nordeste.

MilkPoint: Acredita que as regiões estejam aptas aos requisitos? Quais se destacam positivamente?

MV: Segundo as ultimas estatísticas de qualidade do leite (CCS, composição e CBT) apresentadas no IV Congresso Brasileiro de Qualidade do Leite, realizado em Florianópolis, cerca de 30 a 40% das amostras de leite analisadas em 2009 e 2010 não atendiam a pelo menos um dos critérios de qualidade, sem considerar os novos padrões, que passarão a vigorar a partir de 2011. Sendo assim, é de se esperar que haverá um grande número de produtores que não atenderá os novos padrões, caso não sejam adotadas medidas de treinamento de pagamento do leite por qualidade.

MilkPoint: Qual o impacto da IN-51 para o setor leiteiro?

MV: A implantação da IN 51 a partir de 2005 colocou em termos legais a questão da qualidade do leite para todos os segmentos do setor. A nova legislação pode ser considerada um grande avanço, pois possibilitou a aplicação de novos padrões de qualidade do leite, que antes não existiam no Brasil e que já era realidade na grande maioria dos países desenvolvidos.

Por outro lado, as grandes mudanças para melhoria da qualidade do leite devem vir dos programas de treinamento de mão de obra, capacitação do produtor e valorização da qualidade do leite por meio do pagamento diferenciado, os quais não dependem de legislação para serem implantados. Sendo assim, a IN 51 tem um papel fundamental em termos legais, mas acredito que a melhoria da qualidade do leite não se dará somente com a aplicação da lei.
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waldir brasil santiago
WALDIR BRASIL SANTIAGO

ITATINGA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 20/03/2011

--NESSE PAÍS APRENDI QUE QUANDO SE OBRIGADO A FAZER UM PAGAMENTO QUALQUER,ATRAVÉS DE LEIS,O MELHOR É SER UM DOS ÚLTIMOS A FAZÊ-LO,PORQUE PODE SER QUE NÃO VENHA ESSA LEI A VINGAR,O QUE REALMENTE ACONTECE.

--ISSO NÃO QUER DIZER QUE A IN-51,P/JUNHO NÃO VENHA SE ESTABELECER,MAS COMO NÃO DEPENDE EXCLUSIVAMENTE DOS PECUARISTAS DE LEITE(OS CACHORROS MAGROS),MAS PRINCIPALMENTE ,DA PORTEIRA PRA FORA(CACHORROS GORDOS E GRANDES) É BOM FICAR COM O PÉ ATRAZ COM UMA BOA DOSE DE CAUTELA..

--DO NOSSO LADO,CASO NÃO TENHAMOS UM RECONHECIMENTO POR PARTE DOS POLÍTICOS,DE FORMA A MELHORAR CONSIDERAVELMENTE O PRÊÇO DO LEITE PRODUZIDO,VAMOS TER UMA REDUÇÃO NOS VOLUMES ATUAIS ,POIS SE DESAGREGA TODA UMA ESTRUTURA MONTADA OU A MONTAR.

--EM SUMA:ATÉ AGORA NÃO SOUBE DE QUEM QUER QUE SEJA,IMPLANTAR UMA INSTRUÇÃO NORMATIVA PARA OS LATICÍCINIOS,DE MODO QUE,COÍBAM A COLOCAR NAS GONDULAS DE SUPERMERCADOS BEBIDAS LÁCTEAS DE MODO GERAL,COM BAIXO VALOR NUTRITIVO E DE BAIXA QUALIDADE NUTRICIONAL.PERCEBE-SE ESSES DETALHES,FACILMENTE,PELAS DISPARIDADES DOS PRÊCOS ENTRE AS VÁRIAS MARCAS COMERCIALISADAS.

........................ABRAÇÃO,
SANTIAGO
João Washington A Rodrigues
JOÃO WASHINGTON A RODRIGUES

SETE LAGOAS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 11/03/2011

Vamos aumentar a gordura, a proteína, diminuir a CCS e CBT, azulejar nossos currais, colocar pantufas nos pés das vacas, passar também a entregar o leite no laticínio para ajudá-lo a sobreviver pois, estamos ganhando muito pelo leite que produzimos e eles estão no vermelho. A qualidade é imprescindível, pois, produzimos um alimento básico, principalmente para crianças e idosos mas, até quando conseguiremos sobreviver? Para produzir com qualidade temos que receber, de forma justa, pelo produto extra e, não é isso que ocorre. Ainda espero ver uma lei que proteja o produtor nesta cadeia carnívora da atividade leiteira.
Um grande abraço a todos.
Dorival Bispo
DORIVAL BISPO

JOSÉ BONIFÁCIO - SÃO PAULO

EM 03/03/2011

O assunto e polemico a lei ou normativa 51 vem ai maioria dos produtores mal informados Industrias nao todas mas algumas se aproveitan e massagram os produtores mal informados com preços irrisorios E o maior medo e que a corda rompi no lado mais fraco . Parabenizo a Dr. Julia pois sem informaçao nao tem qualidade e que paguem pela qual. mas ajudem aqueles que nao tem a melhorar pois o mundo preciza de alimentos . O produtor tambem precisa ter a sua contra prova de analise de leite quantos tem , ou vai agreditar nas industrias mas esperamos econfiamos no Brasil.
Paulo Fernando Andrade Correa da Silva
PAULO FERNANDO ANDRADE CORREA DA SILVA

VALENÇA - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 25/02/2011

Tentando também ajudar oa José Heli: antes de tudo , procure saber em quanto está a contagem bacteriana total ( CBT ou UFC) do seu tanque e comece a melhorar-la imediatamente. Sem higiene e controle da CBT, a CCS não baixa. Ou melhor, pode até baixar, mas não se mantém baixa.

O pagamente por estas 2 características do leite é fundamental. Não adianta dar atenção só para a CCS. A limpeza do leite tem que vir primeiro.

Educação , treinamento da mão de obra ( quem não tem higiene em casa não tem no curral também), energia de qualidade ( não pode ficar interrompendo toda hora como faz, vamos dar nome aos bois porque não aguentamos mais, a Light aqui em Santa Isabel , no RJ) e estradas permanentes ( lembram-se que o leite só pode, de acordo com a IN 51 vigente, ser coletado com caminhão tanque), não vamos atingir padrões internacionais tão cedo.

E vamos pagar por qualidade, pelo amor de Deus!
Júlia D. Lima Dias
JÚLIA D. LIMA DIAS

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 21/02/2011

Enquanto existirem industrias que não levam em consideração os critérios de qualidade para composição do preço do leite os avanços em melhoria da qualidade do leite produzido no Brasil serão insignificantes.

E mais, suponhamos que todas as industrias, ou a grande maioria delas, venham a pagar por qualidade, se não houver assistência técnica sistemática e com capacidade de alcançar grande parte dos produtores, ainda assim não haverão avanços.

E ouso dizer mais. Se os esforços de assistência estiverem focados apenas na qualidade os resultados ainda serão frustantes. Tenho certeza que trabalhar qualidade apenas, sem melhorar alimentação, gestão e plano de criação de animais jovens para reposição de rebanho faz da melhora da qualidade é tarefa ingrata.

Veja a carta do Sr. José Heli Dias acima. Ele tem dúvidas e até hoje ninguém deu-lhe uma resposta decente. Posso tentar.
Sr. José, o que posso lhe dizer sobre mastite sub-clínica é que a melhor maneira de tratá-la é utilizando antibióticos adequados na secagem dos animais, ou seja, fazendo a terapia de vacas secas. Os resultados com tratamentos durante a lactação, são frustantes, salvo quando se conhece o microorganismo causador da mastite (Streptocuccus agalactiea é o únicocausador de mastite sub-clínica com resultados satisfatóros se tratado na lactação).

Além disso, a maioria dos microorganismos que causam mastite sub-clínica são contagiosos, portanto o manejo de ordenha desempenha importante papel na prevenção da disseminação da doença.
Cleber Medeiros Barreto
CLEBER MEDEIROS BARRETO

UMIRIM - CEARÁ

EM 20/02/2011

Continuo batendo na tecla de que a grande maioria dos laticínios preferem captar a matéria prima num oceano de extratores isolados e sem informação. Ou seja, alguma coisa parecida com leite, onde os mesmos ditam e sufocam os preços pagos, o que leva a quem produz leite de forma profissionalizada a arcar com prejuízos alarmantes. Quando a indústria resolver perder esse diferencial "competitivo", talvez tenhamos um horizonte positivo para o setor. Já disse e repito: A questão do leite de qualidade não está na produção, pois tecnologias existem, além de crédito relativamente fácil para investimentos.
Ton Kramer
TON KRAMER

TOLEDO - PARANÁ - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 18/02/2011

A qualidade do leite se obtém com o compromisso e dedicação na produção de leite. Desde 2005 o mercado está ciente das exigências mas, como brasileiros, tendemos a deixar as coisas para última hora.

Se o Brasil quer ser reconhecido como país de importância na produção de leite no mundo, temos todos (toda a cadeia produtiva) que entender a necessidade de mudança cultural: melhorar a qualidade da criação das bezerras, não utilizando o leite de descarte, acompanhar o desenvolvimento dos animais, adequar a nutrição de acordo com as necessidades dos animais em todas as fases e manejar as vacas de tal forma a manter o status sanitário, especialmente no que diz respeito ao controle e eliminação de mastites nas propriedades.

Nossas vacas não diferem das vacas européias, americanas ou argentinas. O que difere é nossa cultura em relação à produção.

Parabéns ao Marcos Veiga pelo seu trabalho!
Carlos Henrique Vasconcellos Diniz
CARLOS HENRIQUE VASCONCELLOS DINIZ

LUMINÁRIAS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 18/02/2011

Concordo com o José Heli. Sou da mesma região. A mamite subclínica é uma caixa preta que até agora não tem solução concreta. Sem dúvida, é o maior impedimento para se atingir a CCS até 400.000 em julho de 2011. Com a palavra, os especialistas!
Jose Heli Dias Pereira
JOSE HELI DIAS PEREIRA

SÃO LOURENÇO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 17/02/2011

O problema que veja na minha região não é de treinamento nem de pagamento por qualidade.
Qual a indicação para se tratar a Mamite subclinica?
Como aumentar a proteina? Segundo Técnicos isto é genetico
Até hoje ainda não vi uma indicação para se baixar a CCS para 400.000. Ja consultei diversos Tecnicos e Laboratorios para nos trazer uma solução e até hoje nada. Um laboratorio disse que tinha uma vacina, desafiei-o a mandar um tecnico fazer uma palestra sobre o assunto que ele ia vender muita vacina, se provasse a eficienciencia da mesma. isto ja fazem 4 meses e até hoje eles não marcaram a data
Marcello de Moura Campos Filho
MARCELLO DE MOURA CAMPOS FILHO

CAMPINAS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 17/02/2011

O Dr. Marcos Veiga, presidente do Comitê Brasileiro de Qualidade do Leite, um dos expoentes em termos de manejo de ordenha, mastite e outros aspectos que afetam a qualidade do leite e resultados para o produtor, com muita propriedade nos mostra que a legislação não assegura a qualidade do leite, haja visto que as estatísticas mostram que 30 a 40% das analises realizadas em 2009 e 2010 não atenderam pelo menos um dos itens de qualidades vigentes na IN 51. O problema aumenta a partir de julho de 2011, quando os padrões de qualidade da IN 51 passam a ser maiores.

Veiga alerta que a lelhoria da qualidade do leite não virá por legislação, mas por através de programas de treinamento da mão de obra, capacitação do produtor e valorização da qualidade do leite através de pagamento diferenciado.

O Dr.Marcos Veiga estará coordenando o módulo de qualidade do leite do Workshop Pontos para Aumentar a Produtividade, Reduzir Custos e Aumentar Margens na Pecuária de Leite, que a Associação dos Técnicos e Produtores de Leite do Estado de São Paulo - Leite São paulo estará promovendo no dia 28 de abril próximo, no auditório da Fazenda Lageado da UNESP/Botucatu. É uma excelente oportunidade para técnicos e produtores debaterem com o Dr. Marcos esse assunto, sem dúvida afeta muito o resultado de uma propriedade leiteira.

O workshop terá mais dois módulos: rebanho ( reprodução, genética, recria ) e produção ( manejo do gado de leite, nutrição, volumosos no cocho e em pastejo, e outros fatores que afetam a custo da produção de laeite ).

Maires informações sobre esse workshop podem ser solicitadas através do e-mail leitesaopaulo@mpc.com.br

Marcello de Moura Campos Filho
Presidente da Leite São Paulo
Wilson Mendes Ruas
WILSON MENDES RUAS

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE OVINOS

EM 17/02/2011

Nessa questão, o governo tem que entrar com regras bem clara, inclusive obrogando a industria a dar tratamento diferenciado no processo de industrializ\ação do leite de qualidade em ralação ao leite não enquadrado, obrigando os compradores a armazená-los separadamente, o que não é o caso de hoje, daí a sua valoração simbólica.

Certamente, se a coisa for conduzida com critério e seriedade pelos compradores, os produtores procurarão enquadrar seus produtos. O que falta é estimulo para produzir com foco na qualidade.

A qualidade da minha produção não perde para os padrões europeus. Mas eu tenho constatado que a própria indústria não está habituada a fazer uma coleta correta. Tenho verificado, nas poucas vezes que acompanho o procedimento, que os coletores de leite entram em nossa sala de leite fumando, ora fazendo coleta de amostras sem os cuidados de higiene requeridos ao processo. Coloquei na minha sala de leite uma tabuleta NÃO FUME e disponibilizei no ambiente, lavatório, com muita água, sabão e papel toalha.
Paulo Fernando Andrade Correa da Silva
PAULO FERNANDO ANDRADE CORREA DA SILVA

VALENÇA - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 16/02/2011

O Dr. Marcos Veiga tem toda a razão. Este tipo de mudança não se faz por decreto!

A esperiência de vários anos recebendo por qualidade na APLISI, mostra que a mudança é difícil e demorada. Acredito que, muito mais de 40% do leite produzido no Brasil estará fora dos novos padrões.

Acredito também, ainda baseado na nossa experiencia na associação, que, sem uma regra impositiva que obrigue os compradores a pagar baseados em CCS e CBT, além de gordura e proteina, não vamos chegar lá tão cedo. Neste caso, só a ação do governo pode ajudar. Menos de 10% das industrias que enviam amostras para a Clínica do Leite pagam por qualidade. Ou seja, não pagam por qualidade porque não querem!

Esta nova IN51 tem tudo para virar Lei da Reserva Legal: ninguém consegue cumprir e depois ainda tem que assinar Termos de Ajustamento de Conduta.

Não me entendam mal: sou totalmente a favor de termos níveis internacionais de qualidade. Mas implementado com estratégia, planejamento, e , principlamente, bom senso.

Paulo Fernando.
APLISI
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