O gerente comercial da Olvebra, Wagner Cruz, comenta que entre 2010 e 2013 houve expansão de 20% na demanda pela bebida de soja. A empresa é a única a disponibilizar ao mercado o produto de soja em pó e só trabalha com derivados do grão. Cruz comenta que a introdução de outras variedades de bebida vegetal, como o leite de coco, desacelerou o crescimento. "Mesmo assim é um mercado com potencial de expansão", ressalta.
Hoje é possível encontrar ao menos nove tipos de bebidas vegetais nas gôndolas. Neste contexto, algumas multinacionais, inclusive, adquiriram empresas menores para suprir a necessidade de ampliação de portfólio estão de olho nesse nicho. Este é o caso da gigante das cervejas Ambev, que em 2016 adquiriu a empresa carioca de sucos Do bem, uma marca livre de ingredientes artificiais. A partir da Do Bem a Ambev lançou recentemente o seu 'leite' de coco no Rio de Janeiro. O produto, que deve chegar ao Rio Grande do Sul até abril, causou desconforto com o setor lácteo.
O material de divulgação da novidade provocou polêmica ao defender que as "vacas precisam de descanso" - inclusive criando a personagem Vaca do Bem, que está no Instagram como @vacation_dobem, em alusão a palavra "férias" na língua inglesa.
O presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado (Sindilat), Alexandre Guerra, contesta a utilização da expressão "leite" para se dirigir a este tipo de bebida. "Leite é um líquido segregado pelas glândulas mamárias de mamíferos, conforme o dicionário", afirma.
Em nota, a Anvisa explica que não há proibição do uso do vocábulo "leite" pela legislação sanitária sob competência do órgão. O que alguns produtores alegam é que decretos e resoluções preveem que não se pode utilizar símbolos, emblemas, ilustrações ou outras representações gráficas que possam levar o consumidor ao equívoco. Cruz, por outro lado, argumenta que os laticínios usam a expressão "sem lactose" indevidamente. "Eles acrescentam lactase ao leite, a enzima que quebra a lactose, mas não elimina 100% dela", comenta.
Pela percepção de Guerra, as bebidas animal e vegetal são produtos diferentes, utilizados para diferentes fins. "Há confusão por parte dos consumidores, principalmente em uma época que qualquer mal-estar é transformado em intolerância à lactose ou alergia à proteína do leite", relata. "As pessoas estão se autodiagnosticando e alterando as suas dietas por simples suposições e esquecem que isso também pode influenciar a sua saúde", completa, referindo-se a alergias alimentares.
Pelo entendimento do fundador da Do Bem, Marcos Leta, seu produto não compete necessariamente com leites de origem animal uma vez que podem chegar a ter o quádruplo do preço de um litro de produtos lácteos. "Nosso artigo é segmentado e atende a uma demanda específica".
Os produtos vegetais, por isso, vêm para somar a categoria e não dividi-la", relata. O empresário não comenta sobre as estratégias de propaganda da marca por não ter participado do processo. "No final, quem vai determinar qualquer coisa são os consumidores, que vão decidir o que vão consumir, pelo o que vão substituir e quais bandeiras querem levantar a partir deste consumo", relata.
Gigante do setor readequou mix
A quarta edição da pesquisa "tendências alternativas a bebidas lácteas e leiteiras nos Estados Unidos", promovida pela consultora de mercado Packaged Facts, aponta que o consumo per capita de leite caiu 22% entre 2000 e 2016 no país. O movimento levou a Elmhurst, tradicional laticínio norte-americano fundado em 1925, a readequar o seu mix.
Agora, em vez do produto de origem animal, a marca tem uma variedade de bebidas vegetais provenientes de sementes, nozes e castanhas comestíveis. "A empresa deu uma guinada em direção a revolução dos produtos à base de plantas", informa o site da companhia.
As informações são do Jornal do Comércio.