Leite Brasil: novo ranking de laticínios traz mudanças

O ano que passou no setor de leite foi de avanço na concentração, com destaque para a gaúcha Bom Gosto. Foi também ano do agravamento da crise da Parmalat e de estagnação na produção de leite no país. Foi também um período de crescimento sustentado da Nestlé e de queda das exportações de lácteos, o que afetou empresas. Tal cenário pode ser vislumbrado no levantamento da Leite Brasil, associação que reúne produtores, sobre os maiores laticínios do país em 2009.

Publicado por: MilkPoint

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O ano que passou no setor de leite foi de avanço na concentração, com destaque para a gaúcha Bom Gosto. Foi também ano do agravamento da crise da Parmalat e de estagnação na produção de leite no país. Foi também um período de crescimento sustentado da Nestlé e de queda das exportações de lácteos, o que afetou empresas. Tal cenário pode ser vislumbrado no levantamento da Leite Brasil, associação que reúne produtores, sobre os maiores laticínios do país em 2009.

Os 12 maiores laticínios do país em captação de leite (em milhões de litros)

Figura 1

O ranking, com 12 empresas do setor, mostra a DPA/Nestlé novamente como primeira na captação de leite no país. A empresa recebeu 2,050 bilhões de litros de leite em 2009, 7,9% acima dos 1,9 bilhão do ano anterior. Em segundo lugar ficou a Bom Gosto, que no ano anterior ocupara a quarta colocação, apresentando avanço na captação de 26,7% para 1,224 bilhão de litros de leite. A empresa vem crescendo por meio de aquisições com o apoio do BNDES.

A subida da Bom Gosto no ranking tem duas razões: a BRF (Brasil Foods), resultado da união entre Perdigão e Sadia, não forneceu números para o levantamento da Leite Brasil. Além disso, a Bom Gosto se fundiu com a Líder e comprou duas empresas em 2008, o que garantiu um aumento na captação no ano seguinte.

Segundo a Leite Brasil, a Brasil Foods informou que "está suspensa a divulgação ao mercado dos números internos da companhia". Em solicitação sobre o tema, feita pela reportagem em março passado, a BRF informou que sua captação de leite havia ficado estável em relação ao ano anterior, quando somou 1,671 bilhão de litros.

O relatório anual da própria empresa, porém, mostra uma queda de 11% na produção de lácteos em 2009, para 1,103 milhão de toneladas. O número indicaria recuo semelhante na captação de matéria-prima, segundo analistas do setor. Ainda assim, a empresa, que não se pronunciou, manteria a segunda posição entre os maiores laticínios do país.

Em terceiro lugar no ranking, a Itambé acabou mantendo a posição, apesar de ter captado menos leite do que em 2009. A central de cooperativas mineira - que negocia fusão com Centroleite, Confepar, Cemil e Minas Leite - recebeu 1,125 bilhão de litros de leite em 2009, uma redução de 9,3% no ano, segundo a Leite Brasil.

O agravamento da crise da Parmalat também está refletido na pesquisa de 2009. A captação da empresa controlada pela Laep caiu 48,4%, para 470 milhões de litros de leite. Apesar desse recuo, a Parmalat ficou em quarto no ranking, também em decorrência da saída BRF. No quinto lugar, ficou a Leitbom (Laticínios Morrinhos), cuja captação de matéria-prima saiu de 402,5 milhões de litros em 2008 para 420,6 milhões em 2009.

Separadas no ranking em 2009, as captações da Parmalat e da Leitbom devem ser unificadas este ano, já que os controladores Laep e GP Investiments, respectivamente, fizeram, em março passado, um acordo para juntar as operações, que envolve três fábricas da Laep e a Poços de Caldas.

Além da BRF, outra que não forneceu dados para a Leite Brasil foi a Vigor, que estava no ranking em 2008, com captação de 197 milhões de litros. A empresa pertencia à Bertin, mas passou ao controle da JBS quando esta incorporou a concorrente em setembro passado. A Nilza, que está em recuperação judicial, também não forneceu dados. Em 2008, sua captação fora de 412,5 milhões de litros.

Uma novata no levantamento do ano passado foi o Laticínios Bela Vista, que produz o leite Piracanjuba. A empresa foi a sétima no ranking, com 388 milhões de litros.

As razões da mudança de posição no ranking

Wilson Zanatta, presidente da Bom Gosto, afirma que o resultado de 2009 se deve a operações feitas no ano anterior, quando a empresa se fundiu com a Líder e adquiriu a Santa Rita e a Coorlac. No ano passado, a empresa fez novas compras - a fábrica que pertencia à Parmalat em Garanhuns (PE), uma planta da Nestlé em Barra Mansa (RJ) e a Cedrense em Santa Catarina.

Com todas essas aquisições, a capacidade instalada da Bom Gosto está hoje em 6 milhões de litros por dia, mas o processamento efetivo é de 4 milhões de litros de leite, segundo Zanatta. Ele afirmou que novas compras não são prioridade para empresa atualmente, já que a Bom Gosto pode crescer utilizando a capacidade hoje ociosa.

A Nestlé, primeira no ranking de captação, atribui o crescimento de 2009 a sua entrada no segmento de leite longa vida premium com as marcas Ninho e Molico. "A forte aceitação dos produtos fez com que a empresa investisse rapidamente em duas novas unidades produtivas ainda em 2009, em Carazinho (RS) e em Araraquara (SP), e estendesse o lançamento para outros Estados, o que exigiu maior produção", diz a empresa em nota.

Após a queda na recepção de leite em 2009, a Itambé aposta na retomada este ano. "Em 2008, nossa captação cresceu de forma expressiva e em 2009 as exportações de lácteos caíram, por isso reduzimos as compras no spot", explica Jacques Gontijo, presidente da Itambé. Mantido o nível de captação do primeiro trimestre, Gontijo avalia que é possível voltar aos números de dois anos atrás. Mas, diz ele, o que irá sustentar a demanda é o mercado interno, já que as exportações ainda patinam.

O presidente da Leite Brasil, Jorge Rubez, afirma que as mudanças no ranking em 2009 já eram esperadas, principalmente em função das aquisições da Bom Gosto e dos problemas da Parmalat. Ele observa que os números indicam também uma estabilização na produção de leite no país no ano que passou. O volume de leite inspecionado saiu de 19,285 bilhões em 2008 para 19,6 bilhões em 2009, crescimento de 1,6% na produção. "Os números mostram que o volume de leite não cresceu, mas que uma empresa tomou mercado da outra", diz.

Segundo o presidente da Leite Brasil, se os preços do leite ao produtor se firmarem na casa dos R$ 0,80/litro - valor pago atualmente -, a produção será estimulada e crescerá a oferta para a indústria. Abaixo disso, porém, haverá desestímulo, pois o custo de produção está entre R$ 0,72 e R$ 0,75 por litro, dependendo da região do país.

A matéria é de Alda do Amaral Rocha, publicada no Valor Econômico, adaptada pela Equipe MilkPoint.

Para ver a tabela com o ranking completo, clique aqui.
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José Simões do Amaral
JOSÉ SIMÕES DO AMARAL

REVENDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS

EM 04/11/2013

Gostaria muito de saber sobre a qualidade do Laticinio Piracanjuba.
MANOEL FORMENTO JUNIOR
MANOEL FORMENTO JUNIOR

NAVEGANTES - SANTA CATARINA - VAREJO

EM 22/04/2010

Parabens pela reportagem, penso que, não poderiamos ter no setor de laticinios uma monopolização como esta ocorrendo no Alcool, o concorrencia deixaria o produtor com condições de melhor negociação.. Algumas fusões ameaçam a migração das industrias para apenas uma região, causando a perda de receita a cidades e familias pioneiras no ramo..
Carlos Humberto da Silva
CARLOS HUMBERTO DA SILVA

MARIPÁ - PARANÁ - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 17/04/2010

Parabenizo o Comentario do Colega PEDRO DE SILVA.
Bruno Lopes Alvares
BRUNO LOPES ALVARES

CAMPINAS - SÃO PAULO - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 16/04/2010

Ótima matéria, concordo com os colegas acima e acrescento que, realmente é uma pena que mais empresas não forneçam seus resultados para fins estatísticos, são dados como esses que nortearão ação de técnicos e consultores com foco em otimização e qualidade do leite. Com isso todos saem ganhando, o produtor com aumento de produtividade, laticínios com o rendimento industrial e os técnicos com o retorno em consultorias.
Pedro de Silva
PEDRO DE SILVA

SANTA ROSA - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 15/04/2010

Ótima materia, só fiquei intrigado como esta reportagem muito importante para o setor leiteiro, atraves da Milkpoint e Valor Economico, que sempre realizaram trabalhos e reportagens serias , onde questiono:
- As empresas que não mostraram seus resultados, será que elas estão com receio de algo?
- Não seria hora de uma avaliação dos seus resultados por parte das fiscalizações e/ou receitas Estaduais e Federais?
- Porque não querem medir / expor seus resultados?

Caro eleitor, reflita e faça a sua analise...
Antônio Moraes Resende
ANTÔNIO MORAES RESENDE

GOIÂNIA - GOIÁS

EM 15/04/2010

Ótima matéria, principalmente em termos estatísticos.
Uma pena que várias empresas importantes no setor lactéo não estão participando, como as três citadas na matéria, que já participaram de edições anteriores, são elas:
- BRF (Brasil Foods);
- VIGOR;
- NILZA;

E outras grandes empresas que ainda não participaram, tais como:
- ITALAC;
- TIROL;
- MARAJOARA;
- MINASLEITE;
- POOL ABC - CASTROLANDA;
- CCGL;

Tendo como base para o ranking a captação própria (leite de produtores), como era até o ano de 2003, a CENTROLEITE ocupa a 6ª posição.


Catia Cilene Vieira Minho
CATIA CILENE VIEIRA MINHO

SANTA CRUZ DO SUL - RIO GRANDE DO SUL - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 15/04/2010

Com relação aos preços estimados por litro de leite, acredito que para o produtor é uma grande vantagem, porém para laticínios pequenos com produção baixa, esse valor fica fora do real, principalmente para produção de queijos pois 1kg de queijo custaria (apenas com o leite) em torno de 8 reais. Porém o mercado nessa época do ano (outono e inverno) aquece pela demanda de queijos, concomitante a isso há uma demanda baixa de leite devido a época também. É importante que para que seja estipulado um valor tal que seja satisfatório tanto para produtor como para a indústria hajam parcerias bem estruturadas entre as partes.
Carlos Aurélio Ribeiro
CARLOS AURÉLIO RIBEIRO

FLORIANÓPOLIS - SANTA CATARINA

EM 14/04/2010

Parabéns pela matéria!
Outra empresa que entraria nesta lista seria a Lacticínios Tirol Ltda. de SC.
Qual a sua dúvida hoje?