Em breve entrevista ao Valor durante a feira de alimentos Gulfood, que ocorreu até a última quinta-feira em Dubai, o gerente internacional da Meat & Livestock Australia (MLA), Nick Meara, admitiu que é "possível" que as exportações australianas de carne bovina caiam de 2% a 3% nos próximos dois anos. A MLA, que contava com um estande na principal feira do Oriente Médio, fornece estatísticas e serviços aos frigoríficos australianos de carne bovina e para o governo local.
Ao longo da feira, a reportagem conversou com fontes da indústria que acompanham o mercado australiano de carne bovina. Embora a Austrália não seja necessariamente um rival do Brasil no mercado global, dado o perfil de gado do país - cortes de maior qualidade -, os exportadores brasileiros poderão se beneficiar indiretamente, na medida em que o preço da carne bovina no mercado internacional provavelmente será influenciado pelas inundações.
De acordo com estimativas do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês), a Austrália exportou, no ano passado, 1,6 milhão de toneladas de carne bovina em equivalente carcaça. O país ficou à frente dos EUA, mas atrás de Brasil e Índia - os asiáticos vendem, prioritariamente, carne de búfalo a preços baratos -. Em 2018, a indústria brasileira exportou 2,1 milhões de toneladas e a Índia, 1,6 milhão de toneladas, conforme o USDA. Os americanos, por sua vez, exportaram 1,4 milhão de toneladas de carne bovina no ano passado.
Por enquanto, as informações que circulam entre agentes da indústria de carne bovina da Austrália apontam que as enchentes que atingiram o país da Oceania ainda não refluíram totalmente. As enchentes atingiram uma área de cerca de 50 quilômetros de largura, disse uma fonte. "A infraestrutura da região vai demorar de dois a quatro meses para ser ajustada", afirmou.
Dados preliminares da indústria australiana de carne bovina apontam que a recuperação da produção local levará de um a dois anos. Um dos grandes problemas é que a região afetada é importante na criação de bezerros, o que atinge diretamente a produção futura de gado. Por conta disso, o impacto nos preços deve demorar alguns meses para ser sentido no país.
Entre os frigoríficos, a brasileira JBS, maior produtora de carne bovina do mundo, deverá ser uma das prejudicadas. A companhia é grande produtora na Austrália e possui uma unidade na região de Queensland.
O impacto para a JBS e para outras indústrias australianas não é negligenciável, especialmente porque a pecuária daquele país sofreu nos últimos anos uma forte restrição do rebanho em consequência do clima seco no país. As inundações, portanto, atrasam a recuperação do rebanho. Procurada pel a reportagem, a JBS não comentou.
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As informações são do jornal Valor Econômico.