IBGE: números referentes a 2009 surpreendem

Segundo a Pesquisa de Produção da Pecuária Municipal de 2009 (PPM 2009), do IBGE, a produção de leite no ano passado totalizou 29,11 bilhões de litros, alta de 5,6% frente a 2008 (27,58 bilhões de litros). A diferença de 1,53 bilhão de litros se deu em grande parte pelo crescimento no período da produção informal, de 1,21 bilhão.

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Segundo a Pesquisa de Produção da Pecuária Municipal de 2009 (PPM 2009), divulgada na última quarta-feira (24) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção de leite no ano passado totalizou 29,11 bilhões de litros, alta de 5,6% frente a 2008 (27,58 bilhões de litros). A diferença de 1,53 bilhão de litros se deu em grande parte pelo crescimento no período da produção informal, de 1,21 bilhão, o que reduziu a proporção entre produção formal/produção total de quase 70% em 2008 para 67,3%. Esses dados foram surpreendentes, já que a informalidade vinha caindo nos últimos anos e, apesar dos preços mais baixos durante parte do ano, seria pouco provável um aumento dessa magnitude na produção não inspecionada. Considerando esses números, a informalidade teria crescido 14,7% de 2008 para 2009.

Parte da discrepância resulta do fato de que as metodologias são distintas. Enquanto a Pesquisa Trimestral do Leite, que gera os valores da produção inspecionada, é calculada a partir das quantidades captadas e processadas pelas indústrias com inspeção federal (SIF), estadual (SIE) e municipal (SIM), a PPM, que gera a produção total, é obtida a partir das informações passadas pelos escritórios regionais de assistência técnica, secretarias de agricultura e postos do IBGE. Desta maneira, é preciso cautela ao interpretar esses dados. O Censo Agrícola de 2005/06 já havia apontado problemas nesse sentido: a produção teria sido cerca de 4 bilhões de litros menor do que a calculada pela PPM, ambas realizadas pelo próprio IBGE, porém com metodologias distintas.

De acordo com os dados oficiais publicados, as regiões Sul e Nordeste foram as principais responsáveis por essa diferença (1,53 bilhão) respondendo por 46,3% e 23,5% do acréscimo, respectivamente, na produção nacional. No Sul, destaque para o Estado do Paraná que teria crescido 18,1% frente a 2008, produzindo 3,34 bilhões de litros, e ordenhando 11,8% a mais de vacas. Na região Nordeste, a Bahia respondeu por 63,7% do acréscimo da produção da região, totalizando 1,18 bilhão de litros (24,1% a mais que em 2008). A Bahia foi o Estado que apresentou maior crescimento do número de vacas ordenhadas no período, de 18,6%. Segundo Fábio Mezzadri, da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Paraná, "o crescimento da produção no estado do Paraná em 2009 foi mesmo significativo. Houve muitos produtores que migraram para atividade, o que ocasionou um salto no número de produtores, principalmente dos menos tecnificados. O clima também ajudou em 2009 e apesar dos preços baixos, observamos investimentos na atividade".

Contudo, nos dois estados a produção informal foi responsável por maior parte do crescimento, como observado no gráfico 1. Na Bahia, dos 229,6 milhões de litros adicionais, 206,5 milhões foram produzidos informalmente. Dos 511,3 milhões de litros produzidos a mais pelo Paraná em 2009, 296,5 milhões são da produção informal. Para Mezzadri, o salto no número de produtores menos tecnificados é uma possível alternativa para explicar o crescimento da produção informal.

Gráfico 1. Crescimento nos principais estados frente a 2008 (%) e evolução da produção formal e informal.

Figura 1
*Os seis estados representaram 73,8% da produção de leite do país em 2009.

A região Sudeste permanece como principal produtora de leite do país, responsável por 35,8% do total, contra 30,8% do Sul, 14,5% do Centro-Oeste, 13,1% do Nordeste e 5,7% da região Norte. Minas Gerais, que responde por 27,2% da produção nacional, produziu 7,93 bilhões de litros em 2009, 3,5% a mais do que em 2008. O incremento de 273,8 milhões ocorreu em razão do aumento da produção informal (+370,2 milhões de litros) e redução da captação formal (-96,4 milhões de litros) de 2008 para 2009, indicando que o crescimento no Estado se deu exclusivamente através da informalidade.

O crescimento da informalidade do setor não foi exclusivo dos estados ou regiões citadas, conforme se observa na tabela 1, a relação entre captação formal e produção total se reduziu em muitas regiões quando comparada com 2008. "Quando o preço do leite está ruim, como foi o ano de 2009, é visível o crescimento da produção de leite informal. Contudo, é estranho que a informalidade tenha crescido tanto e ainda que houve queda da captação formal de leite em alguns estados, a exemplo de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo", disse Rodrigo Sant'Anna Alvim, presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).

Tabela 1. Relação entre captação formal e produção total em unidades da federação e regiões do Brasil, e comparação com 2008 (Mil litros).

Figura 2

*Dois números chamam atenção à primeira vista: a relação acima de 100% em São Paulo e Rondônia. A explicação reside no fato de que a captação não necessariamente indica o local onde foi produzido o leite. De acordo com a Pesquisa Trimestral do Leite, que gera esses números, considera-se o leite processado em cada estado, mas não necessariamente produzido no local.

Equipe MilkPoint, com informações do IBGE.
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Marcelo Pereira de Carvalho
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 02/12/2010

José Humberto,

Obrigado pela participação. Certamente não queremos desacreditar o IBGE; tampouco a análise sugere que o instituto não seja sério.

O que queremos é entender os números gerados, a partir do qual muitas análises são feitas. Metodologias diferentes, mas o leite produzido é um só. No caso do Censo x PPM, qual valor considerar, se quisermos saber a produção de leite brasileira? No caso dos dados de 2009, o que justifica essa elevação tão significativa da informalidade?

O que é necessário é garantir ao IBGE os recursos e a estrutura para gerar as informações do setor. É sabido que o setor rural não goza do mesmo prestígio do setor urbano no que se refere a esses recursos; o Censo, realizado a cada 10 anos (um período muito longo para se captar transformações), foi realizado com atraso na última vez. A visibilidade das informações "urbanas" do órgão é muito mais alta do que as "rurais".

Não sei se concordo que os órgãos que nos representam é que têm que buscar uma estatística consequente e consistente. Se já há uma entidade capacidade e reconhecida para tal, não seria muito mais lógico que ela fosse aparelhada de forma a gerar tais informações? Até porque, reconheçamos, levantar dados estatísticos de uma atividade complexa como a pecuária de leite não é tarefa fácil, além de não ser barata.

Por fim, mantendo nossa filosofia de discutir as questões setoriais de uma forma relativamente aberta aqui no MilkPoint, acredito ser importante levantar esse tema para que possamos evoluir. Não acho que reproduzir os dados divulgados sem uma análise crítica seja uma boa maneira de lidar com o fato de que há, sim, números difíceis de interpretar ou compreender, sejam eles do IBGE ou de qualquer outra instituição de respeito. E isso, claro, não implica em descrédito desta ou de qualquer outra instituição.

Grande abraço,

Marcelo


José Humberto Alves dos Santos
JOSÉ HUMBERTO ALVES DOS SANTOS

AREIÓPOLIS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 01/12/2010

O IBGE é um instituto sério.
A metodologia pode ser diferente.
Cabe a CNA discutir os parâmetros para que haja uma consistencia nos números.
É a mesma coisa c/ áreas urbanas e áreas rurais: quem paga IPTU é área urbana, mesmo que viva numa pequena cidade cuja população tenha a sua atividade economica dependente de área rural.
Cabe aos orgãos que nos representam ir em busca da estatística consequente e consistente.
Ou queremos desacreditar o IBGE?
Será?
Qual a sua dúvida hoje?