Fazenda leiteira da Fonterra marca um novo começo na China

A fazenda leiteira Hangu foi tudo o que sobrou das ruínas do investimento que a Fonterra fez na China antes de sua sócia, Sanlu, falir em 2008 após revelações de que sua fórmula láctea para bebês estava contaminada por melamina. A fazenda é agora um local de criação para uma nova estratégia de investimentos internacionais pela companhia neozelandesa, maior exportadora mundial de lácteos.

Publicado por: MilkPoint

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A fazenda leiteira Hangu foi tudo o que sobrou das ruínas do investimento de NZ$ 200 milhões (US$ 163,42 milhões) que a cooperativa neozelandesa Fonterra fez na China antes de sua sócia, que pertence ao Estado, Sanlu, falir em 2008 após revelações de que sua fórmula láctea para bebês estava contaminada pelo composto químico melamina.

A fazenda, que está localizada a nordeste de Pequim, é agora um local de criação para uma nova estratégia de investimentos internacionais pela companhia neozelandesa, maior exportadora mundial de lácteos. Após a crise da melamina, a Fonterra está construindo e operando suas próprias fazendas leiteiras de grande escala nos mercados internacionais, de forma que possa ter certeza da qualidade dos produtos lácteos que vende.

"Havia 21 companhias na China que tinham melamina em seu leite. Uma companhia escolheu fazer algo sobre isso", disse o presidente da Fonterra na China, Phillip Turner. Ele disse que a Fonterra saiu fora, porque isso destruiu seus investimentos. "Mas eu acho que esse é o caminho, acho que os consumidores apreciam isso".

Enquanto a Fonterra aposta que os consumidores chineses confiarão em sua qualidade, a China está apostando no futuro de sua indústria leiteira em fazendas como a operação de 3.000 cabeças de Hangy e um protótipo ainda mais novo em Yutian, Província de Hebei.

O Governo quer aumentar a produção anual de leite para 90 milhões de toneladas em 2030, de 30 milhões agora. Considerando o número limitado de terras para pastagens, a única forma de fazer isso é construindo fazendas de larga escala e aumentando bastante a produtividade do rebanho.

Uma vaca chinesa geralmente produz cerca de metade do leite do que uma vaca americana ou europeia. A menor produção é principalmente devido à genética e à alimentação. As vacas da Fonterra em Hebei são holandesas pretas e brancas que viajaram em navios vindos da Nova Zelândia. Elas são cruzadas com o rebanho americano criado há muito tempo em estábulos com piso de concreto.

A Fonterra escolheu a área de Tangshan, de Hebei, em parte por causa da fácil disponibilidade de água e milho para alimentação. A suplementação é feita com alfafa importada. A empresa planeja construir quatro ou cinco centros, cada um feito de cerca de 16.000 vacas distribuídas em várias fazendas.

A Fonterra vende cerca de US$ 2 bilhões de produtos lácteos importados na China, seu maior mercado. Os centros permitirão que a cooperativa produza na China usando seu próprio leite, desviando-se de sua prática na Nova Zelândia de comprar o leite seus membros-fornecedores.

"A melamina mudou nossa visão um pouco, de forma que obter a oferta certa de leite é nossa prioridade em qualquer país", disse o chefe da divisão de fazendas internacionais da Fonterra, Peter Moore. "Estamos querendo ir para a Índia. Agora, a primeira coisa que faríamos seria garantir a oferta de leite".

Por enquanto, o leite de suas fazendas é vendido para fábricas chinesas e estrangeiras próximas, melhorando a qualidade média de seu leite. "Temos um plano claro de desenvolver nossa própria oferta, seja através de nossas próprias fazendas, seja por fazendas que controlamos. Estamos muito certos de que precisamos controlar nossa própria oferta de leite", disse Moore.

Quatro anos após o escândalo de contaminação do leite por melamina, a indústria de lácteos da China mal se recuperou. A produção de leite se manteve basicamente estável, em cerca de 35,5 milhões de toneladas, de 2007 a 2010, antes de aumentar em cerca de 3% em 2011.

As exportações de produtos lácteos caíram de 134.500 toneladas em 2007 para 36.800 toneladas em 2009 e somente agora começou a se recuperar. As importações aumentaram para quase um milhão de toneladas por ano, após ter perdido um pouco de espaço para os produtos feitos na China em 2007.

Os chineses que viajam para o exterior voltam com caixas de leite em pó para dar aos amigos e parentes. "A segurança alimentar é um dos tópicos mais sensíveis na China", disse o analista de lácteos da Beijing Orient Agribusiness Consultant Ltd., Chen Lianfang. "Assim, qualquer investidor estrangeiro em grandes fazendas leiteiras na China, incluindo a Fonterra, precisa tornar a segurança e a qualidade prioridades máximas".

Os planejadores chineses se fixaram na produção leiteira como uma forma de modernizar a indústria agrícola e aumentar os níveis de nutrição em uma população que tradicionalmente não bebe produtos feitos por leite de vaca. Novos sabores de iogurtes e sorvetes se expandiram junto com o crescimento das cidades e lojas com refrigeradores. O consumo de lácteos pelos chineses mais que triplicou de 2001 a 2010.

Porém, na última década, a expansão do rebanho ultrapassou a disponibilidade de bons alimentos para os animais e das redes de coleta e distribuição refrigeradas. Os subsídios fizeram com que produtores com pouca experiência investissem em vacas leiteiras, produzindo um leite de baixa qualidade que venderam para intermediários com padrões ainda mais baixos de segurança.

Tudo isso alcançou o pico em 2008, quando surgiram notícias de bebês desenvolvendo pedras nos rins após consumir fórmulas lácteas contaminadas. Em um julgamento subsequente, executivos da Sanlu disseram que reportaram o problema ao Governo, mas que o público não foi avisado até depois dos Jogos Olímpicos de Pequim.

Pelo menos seis bebês chineses morreram e 300.000 ficaram doentes. Os parceiros comerciais fecharam rapidamente seus mercados ao leite chinês. Estados Unidos e União Europeia (UE) ainda impõem controles mais rígidos aos produtos lácteos feitos na China do que outras exportações chinesas.

Há mais de um ano que a UE não detecta qualquer traço de melamina em exportações de leite chinesas, disse o comissário para saúde e consumidores da UE, John Dalli. Porém, em abril passado, autoridades chinesas encontraram 26 toneladas de leite em pó contaminado com melamina que foram vendidas para uma fabricante de sorvetes na cidade de Chongqing.

As companhias de lácteos Mengniu e Yili juntas são responsáveis por 44% do mercado de lácteos da China. Elas obtêm seu leite de uma combinação de fornecedores de larga escala e comunidades de pequenos produtores que mantêm 10 vacas em pequenas áreas.

A reportagem é da Reuters, traduzida e adaptada pela Equipe MilkPoint.
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