Ao nos aproximarmos dos limites de um piquete na fazenda de Jason e Lisa Suisted, um competente casal de sharemilkers (gerentes que são parceiros do dono da fazenda, entrando com o trabalho e as vacas, e recebendo 50% do valor do leite), as vacas nos seguiram com a esperança que liberaríamos o acesso ao piquete da tarde, que estava praticamente sem forragem disponível. Em segundos, as vacas começaram a mugir em uníssono, uma cena que nunca esperaríamos ver na Nova Zelândia.

Em muitas regiões da Ilha Norte, que concentra 64% da produção do país, as chuvas da primeira quinzena de março foram as primeiras do ano, comprometendo a produção no semestre. Várias fazendas, como a de Jason, estão com metade da produção que deveriam estar. As vacas estão sendo secas antecipadamente em função da condição corporal e da baixa disponibilidade de pasto. Os produtores (como Jason) que possuem alimento excedente ou possibilidade de plantar culturas de inverno para suprir o déficit, ainda estão em melhor situação. Já para os demais o cenário é bem mais sombrio.

O fato é que o custo de produção subirá neste ano cerca de 20 a 30% em função da seca. Visitamos uma fazenda que está tendo custo próximo a R$ 1,00/kg, e outras em melhor situação não fogem de um custo de R$ 0,80/kg. O custo da suplementação é muito elevado:

- silagem de milho: o equivalente a R$ 0,70/kg de MS
- torta de dendê (13% de proteína): R$ 800/tonelada (mercado spot)
- farelo de algodão: R$ 1000/tonelada

Supondo um custo médio de suplementação de R$ 0,45/kg de MS (alguns têm valores bem superiores a isso), e a necessidade de 14 kg de MS suplementados nesse momento, o custo por vaca somente com a suplementação atingiria R$ 6,50, para uma produção atual de cerca de 10 kg de leite por vaca, o que daria R$ 0,65/animal/dia somente para suplementar nesse período.

Não há muito o que fazer em relação ao risco da seca, mesmo pensando em futuro. O rio Waikato, principal do país, tem sua água em mais de 90% controlada por uma empresa de energia. Recentemente, os produtores conseguiram na justiça o direito de explorar mais 1,5% da água, o que dá para 30.000 hectares irrigados (dos quais 5.000 já serão explorados pela LandCorp, empresa governamental). É muito pouco para criar condições favoráveis para o desenvolvimento contínuo da produção na Ilha Norte do país.



Vacas sob pivô: visão rara na Ilha Norte – baixa disponibilidade de água para irrigação e alto custo impedem forte crescimento de sua prática


Pastos secos ao Sul de Auckland – região foi a mais afetada pela seca e preço não cobre os custos de produção no momento