Há índícios de participação de dirigentes do setor para interferir no trabalho das autoridades, inclusive com o objetivo de "derrubar" o secretário Estadual da Agricultura, Ernani Polo.
Clóvis Marcelo Roessler (de verde), que foi preso na terça-feira no Vale do Caí, é flagrado em escutas. Foto: Divulgação / Ministério Público
As escutas são referentes à 11ª Operação Leite Compen$ado e à 4ª Operação Queijo Compen$ado, deflagradas na terça-feira em quatro cidades e que envolvem os laticínios Roesler e Campestre, de São Pedro da Serra, no Vale do Caí. As indústrias são suspeitas de adulterar os produtos com água, amido, ácido sórbico e água oxigenada.
Entre as seis pessoas presas, está Clóvis Marcelo Roesler, dono de uma das empresas investigadas, secretário da diretoria-executiva do Instituto Gaúcho do Leite (IGL) e integrante da Associação das Pequenas Indústrias de Laticínios do Rio Grande do Sul (Apil-RS). Em uma das interceptações, Roesler recebe recado de um interlocutor: "Nós vamos para cima do governo. Se a gente não conseguir direto com o (Ernani) Polo, vai vir da Casa Civil. (...) E seguinte, Marcelo, se mesmo assim a gente não conseguir, vamos ter de fazer um movimento e derrubar o Polo. Não adianta mais", diz o homem, que não teve o nome revelado.
Em outra gravação, Roesler fala com Ardêmio Heineck, diretor-executivo do IGL: "Perdi a confiança no (Ernani) Polo como articulador. Hoje, se tu bota (sic) seis ônibus acampados na Seapa (Secretaria da Agricultura), em três dias o Sartori (José Ivo, governador) tira o Polo", diz Ardêmio.
Segundo o diretor-executivo do instituto, a conversa ocorreu em um contexto de insatisfação com a inoperância de três empresas que estão inadimplentes (Lactalis, Nestlé e CCGL). "Minha manifestação não tem nenhuma relação com fraude. Notificamos quatro vezes o secretário (Polo), que não atendeu aos nossos pedidos", afirmou.
Para o promotor Mauro Rockenbach, Polo é um dos principais defensores das ações do MP no combate ao crime no setor e, por isso, há o interesse dos investigados de tirá-lo do cargo. A relação dos membros do IGL com as fraudes demonstra, segundo Rockenbach, clara inversão de valores dentro de uma entidade criada com o intuito de provocar melhorias para o setor. "O instituto se desvirtuou. Está querendo conquistar espaços políticos, influência política e acesso aos recursos do Estado para facilitar as atividades de empresas associadas", comenta.
Presidente do IGL, Gilberto Piccinini afirmou, via assessoria de imprensa do instituto, que não iria se manifestar sobre as escutas. Alexandre Guera, presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados (Sindilat-RS), disse que apoia as investigações e que a "Justiça tem de prevalecer e punir com o rigor da lei não importa quem seja". Polo ressaltou que está despreocupado com a tentativa de barrar as ações das autoridades, mas lamentou o envolvimento do IGL no esquema.
1ª Escuta Telefônica – Clóvis Marcelo Roesler, responsável pelo Laticínio Roesler, secretário do Instituto Gaúcho do Leite (IGL) e integrante do Associação das Pequenas Indústrias de Laticínios do Rio Grande do Sul (Apil-RS), preso terça-feira no Vale do Caí na 11ª Operação Leite Compensado, conversa com uma pessoa não identificada sobre tentar algum contato com o governo para possivelmente interferir na questão do leite. Caso contrário, terão de "fazer um movimento e derrubar o Polo (Ernani, secretário estadual da Agricultura)".
2ª Escuta Telefônica – Clóvis Marcelo Roesler, responsável pelo Laticínio Roesler, secretário do Instituto Gaúcho do Leite (IGL) e integrante do Conselho Administrativo da Associação das Pequenas Indústrias de Laticínios do Rio Grande do Sul (Apil), preso ontem no Vale do Caí na 11ª Operação Leite Compensado conversa com outra pessoa ainda não identificada sobre tentar algum contato com o governo para possivelmente interferir nas ações do MP.
3ª escuta telefônica – Em outra gravação, Clóvis Marcelo Roesler fala com Ardêmio Heineck, diretor-executivo do IGL. Ardêmio diz que perdeu a confiança em Ernani Polo como articulador e acrescenta: "Hoje, se tu bota (sic) seis ônibus acampados na Seapa (Secretaria da Agricultura), em três dias o Sartori (José Ivo, governador do Estado) tira o Polo".
As informações são do jornal Zero Hora.