Uma delegação de industriais chineses ligados à Associação das Indústrias de Laticínios da China, chefiada por sua presidente Liu Meiju esteve semana passada no Uruguai visitando fazendas leiteiras, e algumas plantas da Conaprole. A equipe se reuniu com autoridades do Instituto Nacional de Leite (Inale) e do Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca. A associação quer atuar como ponte entre os importadores chineses e as indústrias uruguaias.
Uma delegação de industriais chineses ligados à Associação das Indústrias de Laticínios da China, chefiada por sua presidente Liu Meiju esteve semana passada no Uruguai visitando fazendas leiteiras
"Os empresários chineses estão muito impressionados com o Uruguai pelo seu potencial leiteiro e pelo tipo de 'produção natural' e de criação em pastagens ao ar livre", disse Meiju, contrastando a grande diferença com a China, onde o gado, pelas condições climáticas e logísticas, vive em estábulo.
Para a empresária chinesa, "esse ambiente natural permite a produção de um leite de alta qualidade". Meiju disse que os empresários chineses "querem ter mais comércio com o Uruguai", um país "onde os controles são muito exigentes e produtos lácteos de alta qualidade são produzidos".
Confira abaixo a entrevista feita com Meiju pelo jornal uruguaio El País:
Como você vê no futuro a exportação de produtos lácteos uruguaios para a China?
"Temos muitos negócios e links para desenvolver no futuro. Sabemos que existem mais laticínios que querem vender à China e nós, da Associação das Indústrias de Laticínios da China, queremos trabalhar como uma plataforma para unir os dois países. A China importa uma média de 2,6 milhões de toneladas de produtos lácteos por ano e realmente estamos em busca de fornecedores mais confiáveis. A China é muito exigente com a qualidade dos laticínios que produz e importa. Existe um controle muito exigente do governo".
Além de aumentar o volume de produtos vendidos, você vê possibilidades de investimento de empresas chinesas de laticínios no Uruguai?
"Tenho confiança de que será feito. O Uruguai é um país muito respeitável na política. A embaixada nos diz que o nível de educação é o mais alto da América Latina. Tudo marca um ambiente muito atraente para investimentos futuros. Para o investimento, os chineses precisam saber que tipo de regras ou incentivos o Uruguai promove para os investidores. Nós visitamos duas fábricas da Conaprole. A linha de produção e a qualidade são muito altas. Eu acho que no momento do Uruguai e da China a vantagem está no leite em pó integral. É a maior produção do Uruguai e há muita demanda. O mercado chinês está crescendo muito em queijo e manteiga, pode ser interessante para o Uruguai expandir o volume também".
Há falta de mais conhecimento do consumidor chines para alcançar essa expansão no consumo?
"Sim. Não há o hábito de consumir tantos laticínios quanto no Uruguai. No momento, no mercado chinês, vende-se muito queijo processado para crianças. Importa-se mussarela ou outros queijos que são depois retrabalhados para deixar o sabor mais leve para as crianças consumirem. Nós não estamos acostumados a consumir produtos lácteos tão fortes e alguns tipos de queijo são um pouco fortes para nós. São importadas 100.000 toneladas de queijo dos Países Baixos, França e Alemanha".
Hoje, a principal fonte de proteína é a soja?
"Sim, é. No mercado chinês existem diferentes hábitos de consumo mas a soja é sem dúvidas muito comum no prato da maioria dos chineses. O consumidor precisa de mais tempo para se acostumar com os laticínios. A outra função da Associação é orientar o consumidor chinês a ter mais conhecimento sobre os produtos lácteos para que eles consumam mais".
Além dos controles, você considera que é um setor bastante aberto?
"É um dos mais abertos para o mundo, há um alto volume de importação. Há 30 anos, o Tetra Pak passou a promover a indústria de lácteos na China. Hoje todos os ingredientes que usamos vêm de todo o mundo. Trouxemos muitos técnicos e empreendedores de todo o globo e ganhamos sempre muito conhecimento".
E a partir desta visita podem surgir mais possibilidades de negócios?
"Muitos empresários da minha delegação mostraram interesse em fazer negócios com a Conaprole e estão interessados principalmente no leite em pó".
Segundo o vice-presidente da Conaprole, Alejandro Pérez Viazzi, é esperado que negócios sejam feitos muito em breve. "As empresas chinesas estão tendo uma maior abertura comercial e a Conaprole trabalha nesse mercado há mais de 10 anos. Hoje temos contato com os principais atores chineses", disse.
No mês passado, ele participou representando a cooperativa no "Fórum da Fazenda e o Caminho para a Cooperação Internacional", promovido pelo presidente chinês Xi Jinping. Foi a única empresa da América do Sul que participou desse encontro de elite.
O vice-presidente da Conaprole considerou que as condições serão dadas para que os países participantes do Fórum possam desenvolver políticas macroeconômicas, para que haja maior fluxo de capital, bens e serviços. Isso permite que países pequenos e muito remotos, como o Uruguai, tenham laços com o gigante asiático.
Ele explicou que muitos países participaram e isso permitiu conhecer outras nações, e com isso, talvez outros destinos para os produtos uruguaios.
Viazzi afirmou que a Conaprole compartilha a visão de acordos comerciais de longo prazo. "Esse é o caminho que temos que percorrer", disse o gerente da cooperativa. A empresa já vende leite em pó e outros produtos para a China, competindo com outros exportadores da Oceania que têm outras vantagens - como a proximidade - e fazem menos esforço econômico para se posicionar nesse mercado. Segundo ele, as fazendas leiteiras na China ainda estão longe de serem autossuficientes.
As informações são do El País Digital, traduzidas e adaptadas pela Equipe MilkPoint.