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Eduardo Dessimoni: lições da Nova Zelândia

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 11/03/2005

9 MIN DE LEITURA

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Eduardo Dessimoni é engenheiro civil, empresário e produtor de leite na cidade de Uberlândia, Minas Gerais. Tem sido umas das principais lideranças do setor em seu Estado, sendo presidente da Comissão Técnica de Pecuária de Leite da FAEMG e Coordenador da Câmara Setorial do Leite da Secretaria de Agricultura. Produz em torno de 1.000 a 1.200 litros diários, a partir de 32 ha (área total). Dessimoni foi um dos integrantes da viagem técnica organizada pela OCEMG à Nova Zelândia e Austrália, realizada em fevereiro último, e deu essa entrevista exclusiva ao MilkPoint, falando sobre suas impressões a respeito do que viu.

MilkPoint: Quais foram os objetivos da viagem?

Eduardo Dessimoni: A viagem foi bastante técnica, com objetivo de avaliar o potencial de crescimento e exportação da Nova Zelândia. Nesse aspecto, todos com que conversamos disseram que há potencial de crescimento, mas a concorrência está cada vez maior com a própria expansão urbana, o que dificulta a competitividade de atividades agrícolas. Vimos isso na Nova Zelândia e na Austrália. Há muita migração de pessoas da Ásia, como da Índia, inchando as cidades, que inclusive são espalhadas, não havendo o hábito de se morar em apartamento. Há uma exigência crescente em relação aos cuidados com o meio-ambiente, sendo a cobrança cada vez maior, incluindo preservação de nascentes e margens dos rios, que normalmente não contam com mata ciliar.

MKP: Essa preocupação com o meio-ambiente tem também a ver com possíveis barreiras comerciais?

ED: Tem sim, eles estão notando uma exigência crescente de quem visita e quem importa seus produtos. Essa pressão está crescendo e é um aspecto que influencia essa tendência.

MKP: Essa maior pressão perto das cidades tem feito muitas fazendas suplementarem com silagem de milho e concentrado?

ED: Olha, a silagem de milho é muito utilizada para o momento de transição, no período imediatamente anterior ao início da lactação (obs: a produção de leite é estacional, com todas as vacas parindo em uma mesma época, de meados de agosto a final de setembro). Mas só nesse momento, depois disso a utilização de silagem de milho cessa. Em algumas fazendas, em regiões mais secas, se utiliza também para acompanhar a curva de produção de leite, pois a curva de produção de matéria seca do pasto não coincide exatamente com a curva de necessidades de lactação. Outro caso refere-se a fazendas que produzem leite o ano inteiro, para abastecimento do mercado interno. Essas fazendas, que não chegam a 5% do total, utilizam silagem de milho na época seca, para complementar as pastagens, pois precisam ter leite o ano inteiro. Essas fazendas chegam a receber 15% a mais pelo leite na época seca. Nas regiões mais secas, a irrigação é utilizada, aumentando em até 25% a produção de forragem. A água normalmente é de poço artesiano e não de rios e represas. O custo do kg de MS com irrigação atinge NZ$ 0,12/kg de MS, enquanto sem irrigação é NZ$ 0,08-0,09/kg de MS.

MKP: Falando de preços de leite, quanto os produtores da Nova Zelândia estão recebendo hoje?

ED: Estão recebendo hoje de NZ$ 4,00 a 4,30 o kg de matéria sólida, no caso gordura e proteína. Isso equivale a cerca de R$ 0,70 o litro de leite. É importante termos uma noção boa de como o preço é formado. Entram na conta o preço do leite em pó no mercado internacional, mais a lucratividade da Fonterra, com seus negócios no mundo. Assim, eles ganham pelo produto e pelo resultado da empresa. O produtor neozelandês depende muito do mercado internacional, de forma que se os preços estiverem baixos, o produtor ganhará significativamente menos.

MKP: Esse preço dá aproximadamente US$ 0,27/kg, embora o leite deles tenha teores bastante superiores de gordura e proteína em relação ao nosso leite. Eles estão satisfeitos com esse preço?

ED: Estão, mas sabem que isso é cíclico. Há períodos, geralmente de 2 anos, com bons preços, e depois períodos com preços mais baixos. Esse é um dos melhores anos em relação a preços de leite por lá. Um aspecto que discutimos muito foi a questão dos subsídios. Todas as projeções que eles fazem sobre redução dos subsídios sugerem que qualquer redução irá gerar aumento significativo do tamanho do mercado de lácteos. Hoje, há dois tipos de mercado mundial de leite: o leite de caridade, para matar a fome na África, auxílio a guerras, etc, que é jogado no mercado pela Comunidade Européia e pelos Estados Unidos, e há o leite efetivamente comercializado no mercado mundial, entre os países. Esse mercado está estimado em torno de 25 bilhões de kg, enquanto as doações atingem 15 bilhões de kg. A redução nos subsídios pode fazer com que a quantidade de leite circulando no mercado mundial, aumente bastante.

MKP: Eles acham que o Brasil pode ocupar esse espaço?

ED: Sem dúvida, sabem que temos condições de crescer muito, basta analisar a produtividade por vaca para concluir. A limitação, hoje, é a capacidade industrial. Se houver estímulo à produção, eles acham que o Brasil tem condições de crescer muito, a partir também de uma política de preços convidativa no mercado internacional, podendo resultar em maior oferta de leite. Isso, por outro lado, geraria redução no preço no mercado internacional, atingindo em cheio os produtores locais, sendo esse um temor atual. Eles acham que o Brasil é um futuro grande exportador de leite, tanto que estamos na Aliança Láctea Global.

MKP: Quais são as perspectivas do mercado internacional no curto prazo?

ED: Os neozelandeses acham que não há nada que temer, no curto prazo, em relação à redução nas cotações, que estão firmes em US$ 2300 por tonelada (leite em pó integral). Mas o mercado pode mudar de uma hora para outra, em uma crise ou guerra.

MKP: E sobre a presença da Fonterra no Brasil, qual foi a sua percepção?

ED: Conversamos muito sobre isso lá, questionando porque a Fonterra procurou a Nestlé e não uma cooperativa para entrar no país. A resposta foi que a Fonterra precisava de uma empresa com distribuição e mercado em todo o continente, o que não podia ser obtido através de uma cooperativa ou de uma empresa menor.

MKP: Em relação a assistência técnica, quais são os pontos mais importantes?

ED: Na Nova Zelândia, há duas grandes empresas de assistência técnica, a Livestock Improvement e a Dexcel. A Fonterra, quando foi formada, optou por sair da assistência técnica, porém criando uma estrutura independente que pudesse assistir aos produtores. A Livestock é uma cooperativa de assistência técnica, que visa melhoramento genético, cujos sócios são os próprios produtores. Ela também tem ações no mercado, ou seja, não apenas os produtores são associados. Todo produtor que queira ter acesso às informações técnicas, precisa ter uma cota. A Livestock tem um software que, mensalmente, coleta via internet informações dos produtores associados, processa as informações, analisa o desempenho técnico e genético e retorna os dados aos produtores. Cerca de 75% dos produtores de leite da NZ utilizam o sistema. Isso ele só consegue obter através de uma cota de participação, que garante um retorno de 8% do capital investido ao ano. Já as ações que são comercializadas no mercado têm um retorno em torno de 13% ao ano. Com essas ações, eles capitalizam a empresa e remuneram os investidores. A Livestock vende genética para diversos países, sendo uma fonte de renda importante, além de prestar serviço para produtores não associados, mediante pagamento.

MKP: E a Dexcel?

ED: A Dexcel tem uma verba de NZ$ 40 milhões anuais, sendo que 40% vêm dos fazendeiros. Os 60% restantes vêm de programas do governo, laboratórios e empresas de insumos. A Dexcel, no momento, está pesquisando um robô para ordenha, para adaptação ao produtor da Nova Zelândia, por exemplo. Os objetivos dela são: o desenvolvimento de tecnologias que possam aumentar a competitividade do produtor e seus funcionários; profissionalização do produtor e do trabalho; desenvolvimento de alta tecnologia; pesquisas em pastagens, como o aumento da área de captação foliar, visando elevar a fotossíntese. Também, estão conduzindo um projeto muito interessante de retornar a uma ordenha diária apenas, para melhorar a qualidade de vida do produtor e do funcionário, visto que a competição por trabalho, com as cidades, está cada vez maior. Para isso, é preciso efetuar mudanças genéticas para que o gado tenha maior capacidade de armazenamento de leite no úbere e menor suscetibilidade à mastite, entre outras características. Dentro desse projeto, eles estão analisando os efeitos de uma única ordenha na lotação dos pastos, visto que as vacas comerão menos.

MKP: E quais os resultados desse projeto?

ED: A produção de leite por vaca cai em média 15%, mas a ingestão de MS também cai. Estão agora testando para ver se há animais na Nova Zelândia que tem menor queda e melhor adaptação a apenas uma ordenha diária.

MKP: Analisando a Nova Zelândia como um todo, aonde reside a competitividade deles na atividade leiteira?

ED: Está na organização. Eles têm muita adversidade, não tem os grãos que temos, a mão-de-obra é caríssima, compete com diversas outras opções de trabalho. Eles compensam isso com redução ao máximo possível no uso de mão-de-obra para produção e industrialização. Quando o produto é muito manuseado, o custo ao consumidor é elevado. Para se ter uma idéia, mesmo com o produtor recebendo o equivalente a R$ 0,70 por litro, o preço ao consumidor atinge R$ 4,00 por litro.

MKP: E a Austrália, qual foi a impressão?

ED: Na Austrália, o produtor está organizado, mas não como na Nova Zelândia. Há muita pesquisa, mas não vimos algo centralizado e abrangente como o trabalho feito pela Livestock Improvement e pela Dexcel. Não senti os produtores australianos tão animados quanto os neozelandeses, apesar do preço do leite estar bom. Há um certo temor a respeito da concorrência com a Fonterra, pelo menos deu para notar isso.

MKP: Qual é a lição que o Sr. tira da viagem?

ED: Várias coisas. O produtor não deve esperar o governo resolver seus problemas. Ele deve agir. Pequenas cooperativas atuando isoladamente também não irão para frente. Não dá copiar o modelo deles, temos de criar o nosso modelo. As cooperativas não precisam ser cooperativas só de commodities, podem ter produtos de maior valor agregado. As cooperativas menores podem trabalhar muito bem seus mercados locais, mas devem estar associadas às grandes centrais para trabalhar as commodities.

MKP: Falando agora de Minas Gerais, como estão as perspectivas para 2005, em relação à produção?

ED: As perspectivas são boas. O termômetro é a procura de vacas, que está bastante grande em Minas Gerais. O produtor tem a intenção de aumentar a produção. Também, estamos enxergando que a necessidade de leite vai ser grande, tanto para mercado interno quanto para externo. A nova fábrica da Itambé em Uberlândia, sozinha, tem condições de exportar o que o Brasil todo exportou no ano passado. A região está bastante animada com as perspectivas em relação à nova fábrica, visto que aumentam as opções de comercialização para o produtor. As cooperativas da região terão de repensar seu posicionamento, a partir da entrada da Itambé, inclusive através de um trabalho associado a essa cooperativa.


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HENRIQUE COSTALES JUNQUEIRA

INDAIATUBA - SÃO PAULO

EM 24/03/2005

Gostaria de observar que o preço pago na Nova Zelândia, em sólidos (gordura + proteína) se convertido em litros de leite resultará em aproximadamente R$ 0,47/ litro, dependendo do teor de sólidos e teores de gordura e proteína no mesmo. O valor mencionado de R$ 0,70/ litro está incorreto.



Obrigado.



<b>Resposta Equipe MilkPoint:</b>



Boa tarde.



Obrigado pela sua atenção e participação no MilkPoint.



Como é citado no artigo o preço do kg de sólidos do leite na Nova Zelândia é de NZ$ 4,30.



Como 1 dólar Neozelandês = US$ 0,7363 e 1 US$ = R$ 2,75, tem-se R$ 8,71/ kg de sólidos.



Como o padrão da NZ é de 8,4% de sólidos (gordura e proteína), tem-se aproximadamente R$ 0,73 (com as cotações de câmbio atuais).



Caso seja de seu interesse, temos a dispor um artigo referente aos cálculos de preços da Nova Zelândia. Clique no link abaixo:



<a href=https://www.milkpoint.com.br/mn/espacoaberto/artigo.asp?nv=1&id_artigo=22520>artigo "Preço na Nova Zelândia</a>



Qualquer outra dúvida estaremos a sua disposição.



Atenciosamente,



Equipe MilkPoint
NOEL BARROS ARANTES

UBERLÂNDIA - MINAS GERAIS - MÍDIA ESPECIALIZADA/IMPRENSA

EM 16/03/2005

Eduardo Dessimoni é, de fato, uma das maiores lideranças do setor rural em Minas Gerais. Seu trabalho em defesa da pecuária de leite tem rendido grandes conquistas para este setor. O Milkpoint foi muito feliz em dar esta oportunidade ao Eduardo de estar tornando publica esta grande experiência na Nova Zelândia.



Noel Arantes

Jornalista

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