A Danone, que deu início a um plano de investimentos de 2 bilhões de euros para passar a depender menos das embalagens de plástico não reciclado e reduzir as emissões de carbono, anunciou a diminuição de suas metas de margens de lucro e de crescimento nas vendas em 2020, depois de levar em conta o impacto do coronavírus na demanda na China, seu segundo maior mercado.
A companhia anunciou nesta quarta-feira uma meta de crescimento de 2% a 4% nas vendas comparáveis deste ano. A anterior era de aumento entre 4% e 5%. A epidemia do coronavírus vai adiar o lançamento de fórmulas de alimentos para bebês e reduzir as vendas em cerca de 100 milhões de euros na China no primeiro trimestre, em grande parte pelo impacto na unidade de água engarrafada.
A previsão para a margem de lucro operacional agora é de mais de 15%, abaixo da anterior, de 16% ou mais.
As novas metas deverão decepcionar os investidores, que em 2019 conferiram às ações da Danone altos valores relativos, em grande parte graças ao entusiasmo decorrente da grande aposta do CEO, Emmanuel Faber, em sorvetes, iogurtes e bebidas à base de plantas. A onda de valorização acabou de forma repentina em outubro, quando a Danone alertou para a probabilidade de o crescimento das vendas em 2019 ficar abaixo do esperado, o que levou a uma forte queda das ações, da qual ainda não se recuperou.
Em comunicado, Faber defendeu a decisão de abandonar a meta de margem de lucro de curto prazo para 2020. Disse que o programa de investimentos de 2 bilhões de euros ao longo de três anos é necessário para “acelerar os investimentos para inserir as mudanças climáticas em seu modelo de crescimento”.
Os investimentos chegam em meio aos esforços de grandes empresas de bens de consumo, como a Nestlé e a Unilever, para afastar-se das embalagens plásticas e reduzir as emissões. Elas vêm sendo estimuladas por um pequeno, mas ruidoso, grupo de consumidores, muitos dos quais jovens, que desejam ver as grandes empresas deixando de usar tanto plástico e que se preocupam com o aumento das temperaturas e a poluição dos oceanos.
A Danone informou que vai investir cerca de 1 bilhão de euros para reduzir o uso de embalagens plásticas feitas de combustíveis fósseis, substituindo-as por alternativas como papel, vidro e plástico reciclado. Os demais investimentos do programa de três anos vão ser usados para atualizar suas fábricas e torná-las mais eficientes no consumo de energia, para encorajar seus fornecedores agropecuários a reduzir as emissões deles e em outras iniciativas ambientais.
“Estamos convencidos de que há uma oportunidade premente e significativa em posicionar as ações climáticas ainda mais no cerne de nosso modelo de negócios, unindo-nos verdadeiramente à luta das pessoas pelo clima e pela natureza, com a força de nossas marcas”, escreveu Faber em comunicado.
O crescimento orgânico das vendas no quarto trimestre, que não leva em conta as variações cambiais e aquisição de operações, foi de 4,1%, para um total de 6,2 bilhões de euros, acima das previsões dos analistas, de 3,9%. Dessa forma, o crescimento anual foi de 2,6%, na parte inferior da faixa de 2,5% a 3% prevista pela Danone em outubro.
O lucro anual por ação subiu 8,3%, para 3,85 euros. A margem de lucro operacional foi de 15,2%. A Danone informou que vai propor uma distribuição de dividendos de 2,10 euros por ação, 8% a mais do que em 2018.
As informações são do Financial Times, publicadas no Valor Econômico.