Hoje, a Gujarat Cooperative Milk Marketing Federation Ltd.(GCMMF), conhecida como Amul, é a maior organização de comercialização de produtos alimentares da Índia com volume de negócios anual (2013-14) de US$ 3,0 bilhões.
Os números são grandiosos.
Sua captação diária de leite é de aproximadamente 13.180.000 litros por dia a partir de 17.025 vilas regionais,e mais de 3 milhões de produtores de leite, que entregam o leite nessas vilas. A Amul possui 49 plantas de leite próprias, opera ainda em 15 laticínios terceirizados, e sua capacidade total de produção de leite é de 20 milhões de litros por dia. A empresa está entre as 20 maiores captadoras de leite do mundo, segundo o IFCN.
Para lidar com esse número de produtores e fábricas, a Amul possui uma enorme estrutura de distribuição de seus produtos, que é composta por 10.000 distribuidores e 1.000.000 de varejistas distribuídos por todo território da Índia.
Nos últimos 30 anos, o crescimento médio anual da captação de leite da Amul foi de 9,8%, enquanto o da Índia foi de 4,5%, ao passo que o crescimento mundial foi de 1,5%. De acordo com dados da Amul, cerca de 80% do preço final do leite fica com o produtor, enquanto na Europa e em outros países desenvolvidos, menos de 40% do preço final do leite fica com o produtor.
Conheça um pouco dessa história
A pobreza rural na Índia é um problema sério. De acordo com a National Sample Survey Organization, 55% das famílias pobres são de trabalhadores rurais e a taxa de desemprego entre as famílias de trabalhadores rurais é de 12%. Nesse contexto, a produção de leite proporciona 365 dias de ocupação e ajuda na transformação de seções de baixo desenvolvimento da população em ativos produtivos. Além disso, a produção de leite oferece fluxo estável de renda, em comparação com a agricultura.
Assim, os objetivos originais da AMUL eram proporcionar uma renda justa e uma qualidade de vida aceitável aos seus pequenos produtores associados, viabilizando a sua permanência na atividade e do desenvolvimento econômico e social das comunidades rurais.
O então primeiro-ministro da Índia, Lal Bahadur Shastri, decidiu que a mesma abordagem deveria se tornar a base de uma política de Desenvolvimento Leiteiro Nacional. Ele entendeu que o sucesso da Amul poderia ser atribuído aos seguintes fatores:a Amul era propriedade dos produtores de leite e a administração da cooperativa estava nas mãos dos seus representantes legitimamente eleitos que, por sua vez, contrataram profissionais para gerenciar seu negócio. Além disso, a Amul permanecia próxima aos seus membros, sendo sempre sensível às suas necessidades.
O modelo Amul
Com a criação da Amul, o governo deixou de interferir diretamente, apoiando uma estrutura baseada em cooperativas de produtores existentes nas vilas, vinculadas a uniões distritais de produtores que, por sua vez, submetiam-se às federações de produtores. Nestes três níveis hierárquicos, a regra era o comando na mão de produtores, que tinham a autonomia para contratar profissionais do mercado, comercializar o leite e definir preços ao produtor.
Esse modelo deu origem ao projeto "Operation Flood", que foi iniciado em 1970 em âmbito nacional na Índia, com o objetivo de reproduzir, em larga escala, o modelo criado pela AMUL, ou seja, organizar os produtores de leite em cooperativas formadas pela aglutinação de associações comunitárias de produtores, direcionar de forma organizada a produção dessas cooperativas e proporcionar tecnologias mais modernas aos produtores de forma a aumentar a produtividade dos rebanhos.
Assim, esse projeto teve como base:
- A reorganização da coleta de leite, buscando a matéria-prima onde ela estivesse sendo ofertada, independentemente do volume e das condições;
- O estabelecimento de um sistema de logística complexo, para captação da matéria-prima e escoamento de produtos processados;
- A adoção do sistema cooperativo como base do setor produtivo, proporcionando o máximo retorno financeiro aos associados produtores de matéria-prima, eliminando-se os intermediários;
- O estabelecimento de um mecanismo democrático e participativo nas comunidades, garantindo o funcionamento do plano e viabilizando o fluxo constante e organizado da matéria-prima.
O gráfico abaixo mostra o crescimento da produção de leite na Índia desde o início do projeto “Operation Flood” até os dias de hoje.
Gráfico 1. Produção de leite na Índia (1966/2014)
Fonte: USDA, elaboração MilkPoint.
Saiba mais sobre esse projeto lendo a entrevista que o MilkPoint fez há mais de 10 anos com o Dr. Verghese Kurien, idealizador do projeto (e já falecido) no link: https://bit.ly/1yvsDng
Hoje, a indústria de lácteos fornece emprego para milhões de pessoas, principalmente mulheres.Um investimento de 20 bilhões de rúpias no Programa “Operation Flood” por mais de 25 anos está trazendo retornos anuais de 2000 bilhões de rúpias a cada ano, ou seja, um retorno 100 vezes maior que o investimento. Além disso, o preço ao produtor de leite não tem caído, apesar do crescimento na produção ter aumentado 4 vezes, e a auto-suficiência está sendo alcançada num setor vital de alimentos.
A Amul opera por meio de 53 escritórios de vendas e tem uma rede de distribuição de 10 mil revendedores, uma das maiores da Índia.Além disso, existem mais de 8000 lojas que oferecem a linha completa de produtos da Amul por toda a Índia.
A GCMMF é a maior exportadora de produtos lácteos do país. Muitos de seus produtos estão disponíveis nos EUA, Países do golfo Pérsico, Singapura, Filipinas, Japão, China e Austrália. Em 2013-14, A GCMMF tomou passos de gigante em expandir sua presença em mercados internacionais iniciando sua participação na plataforma GDT (Global Dairy Trade), onde apenas os seis maiores negociadores de lácteos do mundo vendem seus produtos, ganhando assim respeito e reconhecimento mundial. Com a venda de leite em pó no GDT, a GCMMF pôde não só entender melhor os preços de acordo com a demanda do mercado, mas também firmar o estabelecimento da Amul na liga dos negociadores de lácteos no comércio mundial.
A empresa está antenada com as grandes tendências da alimentação e já ganhou vários prêmios por inovação nesta área, entre eles, o prêmio pelo lançamento do sorvete com probióticos em 2007. A Amul também foi a primeira empresa do mundo que lançou o leite em pó com leite de búfala e, atualmente, sua linha de produtos é composta de leite, leite em pó, bebidas saudáveis, manteiga, queijo, pizza de queijo, sorvete, chocolates, e doces tradicionais indianos, etc.À medida que os gastos dos consumidores com leite e produtos lácteos estão aumentando, a preferência de consumo por outros derivados, como manteiga, ghee, paneer, também está crescendo.
Para 2020, a GCMMF espera ter uma média de captação de leite de 18 milhões de litros por dia, com vendas de US$ 5 bilhões, e está planejando investir US$ 600 milhões nos próximos 5 anos no processamento de leite e no nível de aprimoramento da infra-estrutura das vilas.