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Companhias dão educação política para funcionários

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 31/07/2018

6 MIN DE LEITURA

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Seja entre amigos, nas redes sociais ou no grupo de mensagens da família, política é tema de conversas - muitas vezes acaloradas - em todos os lugares. Agora algumas empresas estão tentando trazer o assunto para dentro das suas paredes, com palestras e aulas de educação política que abordam o funcionamento do sistema eleitoral brasileiro, a importância da democracia e os perigos de elementos hoje constantes quando se fala sobre o assunto, como a polarização e a circulação de "fake news".

Em maio, os funcionários administrativos da empresa de laticínios Tirolez se reuniram em um auditório para ouvir um cientista político falar sobre o que é cidadania, democracia e outros conceitos básicos. Ao fim, puderam fazer perguntas e tirar dúvidas. A aula, com participação voluntária, foi filmada e transmitida para outras unidades e fábricas da empresa, que tem 1.600 funcionários. Nos próximos meses, o professor voltará para outras duas palestras, sobre temas como o funcionamento do sistema eleitoral, os limites de cada um dos poderes, as principais formas de participação popular que vão além do voto, fontes confiáveis de informação e recomendações para identificar notícias falsas.

Aulas em vídeos sobre o assunto também estão sendo disponibilizadas para o público no canal da empresa no YouTube. Cícero Hegg, cofundador da Tirolez, espera que os eventos "desmistifiquem o horror" suscitado pela política hoje em dia e apresentem abordagens mais saudáveis para conversas sobre o tema. "O ser humano é um ser político. A ideia é fazer a nossa parte para esclarecer e levar conhecimento para a população interna da empresa". 


Cícero Hegg, cofundador da Tirolez, espera que os eventos "desmistifiquem o horror" suscitado pela política hoje em dia e apresentem abordagens mais saudáveis para conversas sobre o tema.

Doutorando pela Unicamp, o professor Bruno Souza da Silva, que ministrou as aulas na Tirolez, trabalha com educação política há oito anos, principalmente com alunos do ensino fundamental e médio, e é um dos membros da diretoria do Movimento Voto Consciente, que faz acompanhamento parlamentar. Ele preparou aulas específicas para a empresa, usando uma linguagem didática e respeitando o princípio do suprapartidarismo.

"O primeiro momento é para tentar quebrar a impressão de que política é exclusividade dos atores políticos, e incutir valores democráticos em uma sociedade cada vez menos simpática à democracia", explica. Segundo ele, o foco está na capacitação do aluno para entender as regras do jogo político e em como isso pode facilitar sua decisão na hora do voto.

A Tirolez já havia organizado um programa parecido em 2002, quando ainda tinha só 120 funcionários. Na época, Hegg chamou uma professora de sociologia da Universidade de São Paulo e um mestrando para uma aula mais rápida de educação política. Recentemente, teve a ideia de revisitar o assunto quando viu o trabalho do cientista político Humberto Dantas, coordenador do programa de pós-graduação da área na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, que no ano passado lançou o livro "Educação Política: Sugestões de Ação a Partir da Nossa Atuação". Quando entrou em contato com o professor, que acabou indicando Souza da Silva, Hegg teve uma surpresa - descobriu que Dantas era o mestrando que havia participado daquela primeira aula em 2002.

Dantas continuou a trabalhar o tema da educação política na sua carreira desde o primeiro contato com o assunto na Tirolez, e já participou de iniciativas parecidas em outras empresas. Globalmente, ele vê hoje mais companhias abordando o assunto entre seus funcionários como resposta à pressão do público e de investidores por ações de responsabilidade social. Em países sem voto obrigatório como os Estados Unidos, isso se traduz no estímulo para que os funcionários decidam ir às urnas.

"No Brasil é a tentativa de fazer as pessoas entenderem o que significa o voto. É preciso educar as pessoas para que a democracia funcione. Muitas vezes nem o empresário é educado." Ele destaca que as empresas que escolhem abordar o assunto precisam ter muito cuidado para deixar as aulas nas mãos de profissionais de ciência política, capacitados para adotar a lógica suprapartidária, sem privilegiar nenhuma vertente. Ele recomenda o uso de conteúdos neutros, sem o envolvimento dos próprios políticos, tanto como forma de proteger a marca da empresa quanto para garantir que as preferências políticas dos chefes não aflorem e que os eventos não gerem uma sensação de coerção.

Na siderúrgica ArcelorMittal, o foco de um evento organizado em junho foi o potencial impacto das "fake news" nas eleições. A iniciativa foi organizada pelo programa de compliance da empresa, que todo ano promove eventos relacionados à área de integridade. Cerca de 200 pessoas da sede administrativa, em Belo Horizonte, assistiram a um debate com participação do diretor da ONG Transparência Internacional no Brasil, um desembargador do Tribunal Regional Eleitoral, a diretora do Reputation Institute Brasil e o jornalista da Globo News André Fran, que havia produzido recentemente um programa sobre notícias falsas. Embora tenha contado com a participação em peso do alto escalão na plateia, foi o primeiro evento do tipo a ter apenas participantes externos à empresa no palco, conta a vice-presidente de recursos humanos, jurídico e sustentabilidade da ArcelorMittal, Suzana Fagundes.

"Foi para dar credibilidade, porque a ideia não é a empresa defender papel político para um lado ou para o outro, mas trazer para as pessoas a responsabilidade do voto e da disseminação de notícias", diz. Além, é claro, de abordar o tema integridade de um jeito menos "enfadonho" e mais próximo à vida do funcionário, diz.

O evento foi transmitido ao vivo para 20 unidades em seis estados, e vai ser replicado, com outros convidados, em pelo menos quatro fábricas ao longo dos próximos meses, para atingir uma parcela maior dos quase 17 mil funcionários da empresa no Brasil e incluir as comunidades no entorno. A companhia pretende ainda compartilhar as dicas para identificar e evitar "fake news" que foram apresentadas no evento - passos como atentar para a data de publicação e observar a URL da notícia - na comunicação interna.

Na fabricante de brinquedos Toyster, de Osasco (SP), a educação política também foi escolhida para ser tema de um evento organizado regularmente pela empresa. De dois em dois meses, a companhia reúne todos os seus 80 funcionários para uma palestra sobre assuntos variados - desde controle de qualidade a primeiros socorros - seguida de uma festa ou churrasco de confraternização. A educação política atualmente é tema de um ciclo de três encontros, que começou em maio. O que motivou a empresa, segundo Thiago Rocha, diretor da Toyster, foi a proximidade da eleição e a vontade de gerar mais conscientização em um ano de muita descrença e raiva com a política.

Na primeira palestra de 50 minutos, que explicou o que é democracia e a importância do voto, as perguntas foram tantas que, segundo Rocha, estouraram o tempo. Nos próximos encontros, os professores vão detalhar o funcionamento do sistema eleitoral brasileiro e os papéis de cada cargo político, além de falar sobre as principais formas de atuação política fora da eleição. "Vimos uma gana por informação, por conhecer meios para garantir estar fazendo uma boa escolha", afirma Rocha.

As aulas na Toyster foram organizadas e ministradas por Marcelo Issa, advogado, cientista político e diretor-executivo da consultoria Pulso Público, que dá treinamentos de relações governamentais para o terceiro setor. "A sociedade brasileira como um todo tem um déficit no que se refere à formação política, às atribuições de cada poder e de agentes públicos", diz Issa.

Durante a aula, no entanto, ele achou que os funcionários rapidamente foram capazes de trazer o conteúdo sendo apresentado para o dia a dia e dar exemplos de como ele se traduzia na prática. Issa costuma dar o treinamento básico sobre política junto com a capacitação na área de relações governamentais para ONGs que contratam seus serviços. O evento na Toyster foi a primeira vez que foi procurado por uma empresa - e ele desconhece outros exemplos. "Tem um monte de empresário que está se envolvendo com política, mas abordar o assunto dentro das próprias empresas, com os funcionários, realmente eu não conheço", diz.

As informações são do jornal Valor Econômico. 

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