Ceará quer maior atenção para setor leiteiro

Três temas movimentaram a abertura do Agropacto Itinerante, que se realiza, nesta cidade, na região Centro-Sul do Ceará: a reivindicação local de instalação de uma subunidade da Embrapa Gado Leiteiro, a possibilidade de reajuste da tarifa de energia elétrica rural e a exigência de licença ambiental para as fazendas de criação de gado de leite e de corte. O evento em seu primeiro dia, reuniu centenas de produtores rurais, apresentou palestras temáticas e debates e confirmou a tendência de crescimento da pecuária leiteira no Nordeste.

Esta cidade está mobilizada para obter a instalação de uma subunidade do Centro Nacional de Gado Leiteiro da Embrapa, que tem sede em Juiz de Fora, Minas Gerais. "Esse é o nosso grito, essa é a nossa luta", frisou o prefeito de Iguatu, Agenor Neto. "Temos vocação para a produção agropecuária, terras férteis, planas e água". A importância da vinda de um centro de pesquisa da Embrapa é considerada como fundamental para o desenvolvimento da pecuária leiteira.

Esta cidade ganhou, ontem, dois aliados. O presidente da Federação da Agricultura do Estado do Ceará (Faec), Flávio Sabóia Neto, e do presidente da Ematerce, José Maria Pimenta. "Se depender do nosso esforço, a unidade será implantada aqui em Iguatu", anunciou Flávio Saboya. "Não sabia dessa luta local, mas agora podem contar com o nosso apoio". Pimenta foi taxativo: "Essa unidade é importante para o Ceará e Iguatu apresentou um pleito justo e viável".

A subunidade de pesquisa da Embrapa Gado Leiteiro vai proporcionar o desenvolvimento da atividade pecuária no Ceará, a partir de estudos que vão mostrar melhor tipo de pastagem, raça e tecnologia de produção. "Não temos um modelo específico de pecuária e os técnicos vão nos mostrar novos sistemas e projetos, daí a importância da vinda da Embrapa para a nossa região", ressaltou o presidente da Unidade de Pecuária de Iguatu, Mairton Palácio.

O presidente da Faec conclamou lideranças políticas e produtores a participarda mobilização que a entidade está fazendo contra possível reajuste na tarifa de energia elétrica para os irrigantes rurais. Haverá uma reunião com representantes da Coelce e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) no próximo dia 3 para discutir essa questão. "Não vamos permitir uma majoração da tarifa, quando há um movimento para implantação de subsídios e de redução em horários e dias determinados para beneficiar os produtores", frisou Flávio Sabóia. "O aumento é um absurdo".

O presidente da Ematerce também entrou na mobilização e lembrou que ainda falta regulamentar artigo da Constituição Estadual que prevê implantação de subsídios para a energia elétrica de irrigantes. "Há um lobby forte a ser vencido e o governo deveria ter feito a regulamentação quando as empresas fornecedoras eram estatais, porque agora está mais difícil", admitiu José Maria Pimenta.

Outro ponto polêmico que marcou o primeiro dia do seminário foi a resolução do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Coema) que prevê a obrigatoriedade de concessão de licença ambiental para as fazendas criadoras de gado. "Temos um grupo de trabalho que preparou várias propostas para mudar a legislação atual, que cria dificuldades para os pequenos criadores", disse Saboya. No próximo dia 4 de abril haverá reunião entre representantes da Semace e da Faec para analisar as sugestões da federação.

Crescimento

O Nordeste apresentou crescimento do setor de pecuária na última década. A tendência para os próximos dez anos é de manter uma curva ascendente, de acordo com avaliação do presidente da Federação Pan-Americana do Leite, Vicente Nogueira Neto. "Os números são favoráveis ao desenvolvimento da atividade na região Nordeste, mas é preciso ter cuidado e aplicar técnicas modernas e corretas porque outras regiões como o Centro Oeste registraram crescimento e agora há queda na produção", observou Nogueira Neto.

A tendência atual é de que a prática da pecuária seja expandida no Nordeste, pois no Sul e Centro-Sul e Centro Oeste as áreas passaram a ser ocupadas por grãos em substituição à pastagem por ser mais lucrativa. A ocorrência de menor pluviometria também favorece a atividade leiteira. "Aqui temos terras férteis e irrigação que são fatores positivos para a pecuária leiteira", observou Pimenta. O seminário que tem como tema central "Novos Rumos para a Pecuária de Leite no Ceará", faz parte do Agropacto Itinerante e terá continuidade hoje, com visita técnica a três fazendas de criação de gado deleite e debates no período da tarde. O presidente da Organização das Cooperativas do Brasil, seção do Ceará, Nicédio Nogueira, frisou que falta ao setor da pecuária "gestão profissionalizada e organização" e lembrou que "o mercado está cada vez mais concorrido e excludente", destacou.

A matéria é de Honório Barbosa, do Diário do Nordeste, adaptada pela Equipe MilkPoint.