Segundo pesquisa realizada em 2009 pela Federação Nacional dos Produtores de Leite (National Milk Producers Federation), do total de trabalhadores em fazendas de leite nos Estados Unidos, 41% (57 mil trabalhadores) eram estrangeiros. Para José Eduardo P. dos Santos, professor da Universidade da Florida, o número é ainda maior: "a grande maioria da mão-de-obra em fazendas de leite é composta de imigrantes. Acredito que eles respondam por 60 a 80% de toda a mão-de-obra hoje nas fazendas de produção de leite nos Estados Unidos". Pedro Caramona, diretor de projetos da Alltech - empresa de nutrição e bem estar animal -, aumenta ainda mais essa proporção de acordo com a região. Segundo ele, "na Califórnia e na região Sudeste dos Estados Unidos, praticamente 100% dos empregados em fazendas de leite são de origem hispânica".
Caramona também afirmou que atualmente tem-se observado a participação de estrangeiros em cargos hierárquicos de maior responsabilidade, como gerentes de fazendas, principalmente pela habilidade de comunicação e compreensão e vivência dos aspectos culturais de seus companheiros de trabalho. Gregorio Billikopf, especialista em trabalho na agricultura e pesquisador na Universidade da Califórnia, é também adepto da opinião de que a "língua" é um dos principais fatores que levam estrangeiros a ocupar melhores cargos. Gregorio acredita que a oportunidade de brasileiros de ocuparem cargo de gerência se dá pela facilidade e similaridade com o espanhol, além do fato de os brasileiros serem mais instruídos - possuírem maior grau de escolaridade que a média dos outros estrangeiros.
A vida de trabalhadores na cadeia do leite, porém, não é só de maravilhas. Segundo Caramona, "trabalhadores estrangeiros enxergam a oportunidade de emprego em fazendas como um trabalho intermediário, até que recebam uma melhor oferta de salário e um emprego que demande menos. Isso tem causado uma rotatividade elevada em fazendas e perda de qualidade de mão-de-obra". Cristiano Poncio, zootecnista brasileiro que trabalha como gerente na Green Hall Dairy, na Flórida, enxerga nessa rotatividade a oportunidade de mostrar interesse e "agressividade", e ocupar dessa forma cargos mais elevados.
Cristiano, que foi para os Estados Unidos em 2001 por um programa de estágio da Universidade da Florida, conta que a oportunidade de trabalhar como gerente nasceu justamente de seu interesse: "visitava algumas fazenda nos arredores da minha casa, até que conheci essa fazenda com pastejo rotacionado e achei interessante ver uma fazenda a pasto com larga escala de produção e tão poucos funcionários. Depois de visitá-la várias vezes nos meus dias de descanso, o dono ficou impressionado pelo meu interesse e entusiasmo pelo sistema, e ai surgiu essa oportunidade de emprego".

Fotos enviadas por Cristiano
Quando começou a trabalhar como gerente em abril de 2004, o grupo tinha uma única fazenda, que possuía 600 vacas em lactação. Atualmente esse número subiu para 3 fazendas e a quantidade de animais em lactação para 1.500. Para 2011, Cristiano planeja se tornar sócio de seu patrão em uma próxima fazenda com excedentes de novilhas dessas três fazendas. Al e Desirée Greehner estiveram no Interleite 2009, onde apresentaram o sistema de trabalho e os números da fazenda. Em meio à pior crise que o setor leiteiro da região verificara em anos, eles conseguiram manter a propriedade no azul e ampliá-la, fruto do sistema de produção.
Outro fator importante a ser citado são as alterações que vem ocorrendo nos últimos anos referentes à política de imigração nos Estados Unidos. "A pressão para que fazendeiros contratem imigrantes em legalidade tem sido cada vez maior, porém, sabemos que a realidade no campo é outra. O governo norte-americano tem dado relativa importância a esse assunto, à medida que os índices de desemprego aumentaram em razão da crise", explica Caramona.
Segundo a Federação Nacional dos Produtores de Leite, estima-se que em um cenário extremo de reforma nas leis de imigração o prejuízo poderia chegar à ordem de US$ 11 bilhões, não exclusivamente ao setor lácteo, mas a toda cadeia que o envolve, como produção de grãos e fertilizantes, serviços veterinários, entre outros, ocupados em maioria também por estrangeiros. "Políticas de imigração ou punitivas parecem beneficiar nativos norte-americanos, mas a sobrevivência do setor lácteo depende inteiramente do acesso à força de trabalho estrangeira", explica um dos conselheiros.
O aumento na participação de força de trabalho estrangeira, a dependência dos mesmos por parte do setor lácteo norte-americano, a habilidade do brasileiro em atuar como "meio-campo" entre funcionários hispânicos e empreendedores norte-americanos aliada ao seu interesse e capacidade, sugerem que haverá cada vez mais brasileiros ocupando o cargo de gerentes em fazendas de leite nos Estados Unidos.
Fica a análise e a frase de um de nossos colaboradores para o artigo para quem deseja um dia ocupar esse cargo: "acredito que estudantes de ciências agrárias ou trabalhadores que tenham esse anseio (trabalhar nos Estados Unidos), demonstrem vontade quando tiver a oportunidade de trabalhar nesse país. Existem diversos programas de estágio que podem proporcionar essa experiência, mas nenhum garantirá seu interesse. Quando se faz o que gosta o sucesso é consequência".
Essa matéria foi feita por sugestão do Prof. Marcos Neves Pereira, da UFLA/MG. A matéria foi inteiramente feita a partir de consultas via internet, seja aos usuários do MilkPoint, seja as entidades e profissionais atuantes nesse segmento, nos Estados Unidos.
