Os números, ainda preliminares, incluem as emissões diretas causadas pelas atividades de produção de carnes e grãos, e as geradas por mudanças no uso do solo (desmatamento). Mostram que o total de emissões do setor baixou de 2,11 bilhões de toneladas equivalentes de dióxido de carbono (CO2) para 1,45 bilhão no período. O agronegócio ainda lidera as emissões totais, mas sua participação caiu de 83,7% para 70%.
A área ocupada por pastos, lavouras temporárias e permanentes cresceu 11,3%, para 243,72 milhões de hectares desde o começo da década passada, segundo a plataforma Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo no Brasil (MapBiomas), desenvolvida por uma rede de universidades, organizações não governamentais, ambientalistas e pesquisadores. Por essa razão, além da queda na área desmatada, a hipótese mais provável sugere que os esforços na direção de uma agropecuária de baixo carbono já começam a surtir efeitos.
No balanço mais recente, apresentado em dezembro pelo governo brasileiro durante a 24º Conferência das Partes (CoP-24), em Katowice, na Polônia, o setor conseguiu mitigar algo entre 100,21 milhões e 154,38 milhões de toneladas de CO2 equivalente entre 2010 e 2018 no âmbito do Plano Setorial de Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas (Plano ABC), segundo o pesquisador Celso Vainer Manzatto, da Embrapa Meio Ambiente.
Os dados computam o sequestro de carbono observado com a recuperação de 10,45 milhões de hectares de pastagens degradadas, com base em dados do Seeg, mais 5,83 milhões de hectares de áreas incorporados a sistemas de integração de lavouras, pastos e florestas, a aplicação de técnicas de plantio direto e de fixação biológica de nitrogênio em mais 9,97 milhões de hectares, além do plantio de 1,10 milhão de hectares de florestas e do tratamento adicional de 4,5 bilhões de litros de desejos animais naquele período.
Os dados da equipe do Plano ABC, que complementam as estatísticas do inventário brasileiro de emissões, indicam que o Brasil já conseguiu cumprir boa parte dos compromissos assumidos durante a CoP-15. Na conferência, realizada em Copenhague em 2009, era prevista a mitigação de 132,9 milhões a 162,9 milhões de toneladas de carbono até 2020 apenas na agropecuária, correspondendo a quase 32,9% das emissões registradas apenas na atividade agropecuária pela plataforma do Seeg. "Nossos números mostram que as agendas ambiental e produtiva não são antagônicas, são sinérgicas, e que é possível investir em sustentabilidade e ganhar dinheiro", sustenta Manzatto, responsável técnico pela Plataforma ABC. Ele recorre a tese recentemente defendida pelo pesquisador Francisco Chagas da Silva, da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EESP/FGV), para reforçar seu argumento.
O trabalho mostra que pastagens degradadas, com capacidade de suporte de apenas uma cabeça por hectare, registram custo de R$ 323 e produtividade de 2,83 arrobas por hectare/ano. Pastos em bom estado permitem quase quintuplicar a produtividade anual, para 12,97 arrobas por hectare, o que derrubaria o custo final para R$ 131, ou seja, 59%. Adicionalmente, aponta Manzatto, bastaria elevar a ocupação para dois animais por hectare para zerar o balanço de carbono da propriedade, mitigando toda a emissão realizada durante o ciclo produtivo.
As informações são do jornal Valor Econômico.