Sobre o leite e a saúde há muitos mitos, meias verdades e conclusões sem fundamento. Abordando algumas delas, sempre nos vem a questão de sermos os únicos mamíferos a beber leite após a amamentação e da elevada prevalência de intolerância à lactose na população mundial - cerca de 70% - que “deve querer dizer qualquer coisa”.
A mais recente “machadada” na reputação do leite partiu da parte da Universidade de Harvard que, em 2011, excluiu aparentemente os lácteos do seu guia de alimentação saudável, colocando em questionamento o benefício destes na prevenção da osteoporose e reforçando o aumento do risco de alguns tipos de câncer associado ao seu consumo.
De fato, esta exclusão foi apenas aparente, uma vez que apesar dos laticínios não estarem presentes na sua representação gráfica “Prato Saudável” (como está na nossa Lista dos Alimentos, por exemplo), os autores do guia referem que poderão ser ingeridas 1 a 2 porções de lacticínios diariamente.
O argumento para a limitação deste valor passa pelo aumento do risco de câncer da próstata (que foi de fato verificado, mas por ingestões elevadas de leite gordo e já depois do diagnóstico da doença) e potencialmente de tumores do ovário (risco modesto e não observado para o leite em particular, apenas para a ingestão de lactose equivalente a 3 ou mais porções diárias de laticínios). Curiosamente o efeito protetor do leite no câncer do cólon não foi abordado neste guia, o que revela o quão difícil é (até para os melhores) deixar de lado o “coração” quando se fala de um alimento que suscita tantos amores e ódios.
Também o efeito do leite na saúde óssea tem merecido ampla discussão pois, afinal, “como se explica que alguns países na Ásia, África e América do Sul exibam uma baixa prevalência de osteoporose com uma ingestão de leite e derivados quase inexistente?” Quando falamos de saúde óssea, mais do que nunca devemos abordar de forma integrada o estilo de vida e não apenas a alimentação e a mera soma de todos os nutrientes que dela fazem parte.
Tentar estabelecer uma relação entre densidade mineral óssea e ingestão de leite/cálcio é abusiva pois para ela contribuem muitas outras variáveis como os níveis circulantes de vitamina D (provenientes da alimentação e exposição solar), exercício físico com “impacto” (como corrida, caminhada e musculação), ingestão de vitamina K, ingestão abusiva de proteína, cafeína e refrigerantes com ácido fosfórico e flutuações hormonais (sobretudo nas mulheres após a menopausa).
É uma conjugação favorável de todos estes fatores (que raramente se vê nos países ocidentais) que explica que algumas populações com baixíssima ingestão de cálcio e lacticínios apresentem uma prevalência de osteoporose também baixa.
Já no que diz respeito à associação entre a ingestão de leite e doenças cardiovasculares, esta tem sido nula (mesmo para laticínios gordos) ou até fracamente negativa, o que reflete o seu já reconhecido papel benéfico na redução da pressão arterial (em associação a frutas e hortaliças) e a falta de ligação entre gorduras saturadas (sobretudo os ácidos graxos de cadeia curta presentes no leite) e risco cardiovascular. Também no controle do peso corporal, a ingestão de leite e lacticínios parece dar um “empurrãozinho” extra ao aumentar a perda de peso e massa gorda e preservando a massa muscular em indivíduos já “em dieta” (o que é bastante diferente de dizer que o leite emagrece!).
Assim, como em quase tudo na vida, o consumo regular de leite tem vantagens e desvantagens. Hoje em dia pode não ser um alimento tão essencial como já se chegou a considerar, mas está longe de merecer toda a diabolização existente à sua volta.
Em resumo:
- Se tem a “vantagem genética” de tolerar bem o leite, aproveite! Não deixe de beber mas também não beba excessivamente;
- Prefira as opções com baixo teor de gordura se estiver tentando perder peso;
- Pesando todos os prós e contras, o leite apresenta mais benefícios para a saúde do que malefícios;
- Se é intolerante à lactose pode sempre experimentar outras opções de leite sem lactose ou iogurtes;
- Se é “intolerante ao leite” não por questões fisiológicas mas por princípio, respeite quem tem uma opinião diferente;
Esse texto é do life&Style, adaptado pela Equipe MilkPoint Brasil.
