Para levar os sinais de banda larga ao campo, são usadas torres com 70 metros de altura, capazes de atender 40 mil hectares, usando a frequência de 700 MHz, que até pouco tempo atrás era ocupada para transmissão do sinal de TV analógica. Com a faixa liberada, é possível transmitir sinais para conectar máquinas como plantadeiras e colheitadeiras por meio da internet das coisas (IoT, na sigla em inglês), obter informações em tempo real de estações climatológicas e controlar pragas e doenças.
A TIM desenvolve projetos com a Jalles Machado e a SLC Agrícola. "A liberação do sinal analógico de TV possibilita dar cobertura para regiões no interior do país", diz Paulo Humberto, diretor de grandes contas corporativas da TIM Brasil. A operadora iniciou em abril testes na Jalles Machado para a conexão de smartphones, agora ampliado para máquinas. São 100 mil hectares de cana cobertos em Goianésia (GO). A tecnologia desses projetos é base para o uso da 5G, que ainda não está disponível no país.
Há quase dois meses, a TIM iniciou parceria com a produtora de soja, milho e algodão SLC Agrícola. O projeto-piloto abrange 22 mil hectares em Correntina (BA), que só possuía comunicação telefônica na sede da fazenda. A SLC tem área cultivada de 404 mil hectares em seis Estados brasileiros.
"Será possível corrigir o desvio de máquinas no campo em tempo real. Os benefícios serão maior qualidade no plantio e na colheita. Além disso, os funcionários poderão usar a rede 4G para falar com a administração e até mesmo no ensino a distância", diz Angelo Castiglia, diretor de tecnologia da informação da SLC.
Neste projeto está sendo usada a tecnologia da Nokia e a infraestrutura de rede da BRDigital Telecomunicações. "Existem muitos tratores, sensores de pluviosidade e de deslocamento de máquinas e caminhões que estavam adormecidos", diz Leonardo Finizola, diretor de novos negócios na Nokia Brasil. Ele disse que há potencial para dobrar o número de antenas no país em quatro anos ao conectar campo, estradas e portos.
O investimento para desenvolver um projeto semelhante oscila entre 1% e 2% do custo de produção, mas possibilita redução de custos de 5% a 7%, segundo Eduardo Polidoro, diretor de negócios de IoT da Embratel, que pertence à Claro Brasil. "Devido à escassez de infraestrutura para internet da coisas e conectividade no país, o potencial de negócios é de R$ 8 bilhões em cinco anos".
Assim como a TIM, o executivo conta que a Embratel está desde o fim do ano passado implementando projetos envolvendo as redes 3G e 4G no campo. Por enquanto, as iniciativas são com empresas dos setores de papel e celulose, laranja e grãos. A perspectiva é que no próximo ano esses projetos avancem e que estejam totalmente implementados entre 2020 e 2021.
No agronegócio, Polidoro diz que há oportunidade para levar essas tecnologias para a pecuária de corte e de leite. "Ainda não temos esse serviço, mas visitaremos uma empresa no exterior que tem um milhão de vacas conectadas".
Em maio deste ano, a Vivo, marca da Telefônica Brasil, começou um projeto-piloto envolvendo a Ericsson e a Raízen para levar o 4G às áreas descobertas da plantação em Piracicaba (SP) usando frequência de 450Mhz. As empresas vão selecionar dez startups com foco em IoT para esse setor até 21 de outubro. No futuro, a Vivo e a Raízen poderão fazer aportes nessas startups.
A Oi informou que trabalha com a Nokia e a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) para aplicar IoT no campo. A operadora desenvolveu um sensor para controlar e monitorar a ferrugem asiática, uma das principais doenças que podem a cultura da soja no Brasil.
Outro setor que está na mira das operadoras de telecomunicações é o de mineração. "A Vale, por exemplo, consegue controlar caminhões autônomos com Wi-Fi, mas ainda usa o rádio para comunicação entre pessoas. Estamos conversando com a empresa para melhorar a conectividade e fazer a gestão das tecnologias usadas atualmente", afirma o diretor da Embratel.
Na operação australiana da Ericsson é testado o uso do 5G para máquinas e carros dentro das minas, locais com alto risco de desabamento. "Esse recurso será trazido para o Brasil quando se tornar operacional", disse Eduardo Ricotta, presidente da Ericsson no país.
Aplicações para a rede 4G e IoT também deverão crescer em áreas como as de saúde e mobilidade urbana, entre outras. Estimativa da Embratel aponta que 30% da receita das empresas de telecomunicações no mercado corporativo poderão ser provenientes desta área em cinco anos.
As informações são do jornal Valor Econômico.