A cooperativa de lácteos, Arla Foods, disse que o Brexit poderia deixar os consumidores do Reino Unido com menos escolhas e preços mais elevados, transformando produtos básicos cotidianos, como manteiga, iogurtes, queijo e fórmula infantil, em luxos ocasionais, e tornando os queijos especiais ‘muito escassos.’
Restrição de produtos
De acordo com a Arla Foods do Reino Unido, se as conclusões do relatório se concretizarem em relação às barreiras não-tarifárias ao comércio e ao acesso restrito ao trabalho depois do Brexit, a disponibilidade de manteiga, iogurte e queijo pode ficar restrita aos consumidores do Reino Unido. Ainda se referindo ao relatório, a Arla disse que qualquer atrito e qualquer limitação no acesso resultará em menos opções aos consumidores do Reino Unido, preços mais altos e padrões alimentares potencialmente mais baixos.
O governo do Reino Unido comentou que as futuras relações do Reino Unido com a UE apresentarão propostas para facilitar o comércio entre eles. Porém, o governo do Reino Unido está encontrando dificuldades em concordar com a sua posição no Brexit. Com a demissão de ministros, votos apertados sobre o texto da Customs Bill, debate sobre o Projeto de Lei, entre outros fatores, a posição de negociação do país e a natureza do Brexit se tornaram incertas.
Três resultados negativos
Segundo a Arla Foods, os problemas identificados no relatório significam possíveis problemas negativos para a indústria de laticínios no Reino Unido. O primeiro é que pode ser muito mais difícil importar produtos lácteos da Europa, o que levará a uma escassez dos mesmos, particularmente queijos especiais, já que a oferta doméstica é limitada pela capacidade restrita de produção numa cadeia de fornecimento já gerenciada rigidamente.
Em segundo lugar, haveria uma pressão crescente sobre os custos e, em última instância, aumentariam os preços ao consumidor dos produtos lácteos. As importações atuais de produtos lácteos incluem queijos, manteiga, butteroil, soro de leite, buttermilk e produtos fermentados, como iogurte, leite concentrado, fórmula infantil, sorvete entre outros, o que significa que o impacto pode ser generalizado.
Finalmente, a Arla concluiu que há possibilidade de encontrar maneiras de aumentar a produção e reduzir os custos agrícolas, o que, no entanto, a curto prazo, prejudicaria os padrões da indústria de laticínios do Reino Unido - algo que produtores e consumidores não aceitariam.
Outros impactos
A empresa acrescentou que existem outros impactos potencialmente custosos em toda a cadeia de fornecimento, problemas que podem ser agravados pela escassez de médicos veterinários, motoristas de caminhões e trabalhadores rurais após o Brexit. Entre as questões causadas por barreiras não tarifárias e a indisponibilidade de mão de obra, o relatório identificou:
- Aumento do tempo para as inspeções alfandegárias nos portos do Reino Unido, com um período de espera adicional de até sete minutos para cada inspeção, adicionando 10 horas de atrasos e custos adicionais de pelo menos £ 111 (US$ 147) por contêiner.
- Riscos de atrasos adicionais graças ao pedido do novo Serviço de Declaração Alfandegária do Reino Unido, designado para lidar com apenas 150 milhões de declarações por ano, tendo que lidar com as mais de 250 milhões esperadas pós-Brexit.
- Outros custos adicionais relacionados aos produtos de origem animal, como laticínios, sendo inspecionados na fronteira (se, de fato, os postos de fronteira estiverem equipados para fazer esses controles).
- Um 'desafio agudo' causado pelo aumento dos controles veterinários ao mesmo tempo em que o número de veterinários diminui como resultado do Brexit, levando a um aumento na carga de trabalho de 372% para veterinários na fronteira - com “nenhuma certeza de que o sistema continuará funcionando adequadamente dadas as pressões adicionais”.
- Custos crescentes à medida que os caminhoneiros nacionais da UE e os trabalhadores rurais voltem para casa devido à queda do valor da libra e de outras questões relacionadas com o Brexit.
A Arla Foods UK já havia dito que um Brexit duro - sem um acordo comercial - poderia ter um impacto desastroso na indústria de lácteos do Reino Unido e seus consumidores. “A probabilidade de o Reino Unido e a UE chegarem a um acordo nas negociações parece mudar a cada dia, mas este relatório deixa claro que mesmo com um acordo sobre o comércio e um afastamento 'mais suave' da União Europeia esses problemas permanecem, gerando um dilema para a indústria de lácteos britânica em geral”, comunicou a Arla.
Ash Amirahmadi, diretor-gerente da Arla Foods UK no Reino Unido, disse que os produtores proprietários da cooperativa já estão se equilibrando, mantendo os preços ao consumidor baixos, enquanto mantêm a qualidade e os padrões. "O Brexit pode trazer oportunidades para expandir a indústria do Reino Unido a longo prazo, mas no curto e médio prazo, não podemos simplesmente ligar e desligar a produção de leite. Aumentar o pool de leite do Reino Unido e construir a infraestrutura para ser autossuficiente em lácteos levará anos. Qualquer interrupção significa que, se não conseguirmos resolver os aspectos práticos do Brexit, enfrentaremos uma escolha entre escassez, custos extras que inevitavelmente terão que ser repassados ao consumidor ou reduzir os padrões de referência mundial, algo que trabalhamos duro para alcançar".
A Arla Foods UK calculou que o Reino Unido tem o segundo maior déficit comercial do mundo (de 16%) e 98% das importações de lácteos do Reino Unido são de origem da UE. Essa forte dependência das importações significa que qualquer problema na fronteira pós-Brexit e a escassez de mão de obra em áreas-chave, provavelmente impactarão negativamente o mercado interno, na forma de escassez de produtos e preços significativamente mais altos, segundo a Arla.
Queijo especial ‘escasso’
Amirahmadi acrescentou: “nossa dependência de produtos lácteos importados significa que a interrupção na cadeia de fornecimento terá um grande impacto. Muito provavelmente veríamos a escassez de produtos e um aumento acentuado nos preços, transformando produtos básicos, como manteiga, iogurtes, queijo e fórmulas infantis, em luxos ocasionais. Queijos especiais, que atualmente são opções limitadas de produção, podem se tornar muito escassos”.
Segundo ele, para proteger o público britânico, a cooperativa está convocando os dois lados nas negociações a serem “pragmáticos e sensatos ao abordarem os aspectos práticos do Brexit, permitindo acordos alfandegários sem atrito e de acesso imediato à mão de obra nos próximos anos."
A cooperativa de 11.000 agricultores, embora tenha sede na Dinamarca, possui instalações de produção em 11 países e é a maior produtora de laticínios do Reino Unido. Outrossim, a empresa está respondendo a um relatório da London School of Economics (LSE) sobre o Brexit, lançado e publicado recentemente.
As informações são do portal Dairy Reporter, traduzidas e adaptadas pela Equipe MilkPoint.