Alta nos preços externos ainda é insuficiente para retomada das exportações
Os preços internacionais voltaram a subir, apesar de altas mais modestas na última semana. O segundo leilão da Fonterra do ano e os preços de exportações do Oeste da Europa e Oceania apresentaram pequenos incrementos sobre os expressivos ganhos na primeira semana do ano. Mas, onde o Brasil entra nessa história?
Publicado em: - 3 minutos de leitura
O preço médio de exportação do leite em pó integral no Oeste da Europa chegou a US$ 4.150/ton, maior valor desde dez/09. Na Oceania chegou a US$ 3.862,50/ton e no leilão da Fonterra a US$ 3.780/ton, com contratos para o meio do ano sinalizando possíveis altas.
Esse movimento tem sido explicado por problemas climáticos. Na Oceania, a Nova Zelândia tem enfrentado um período de estiagem, enquanto excessos de chuvas têm prejudicado a produção e captação na Austrália. A Argentina também passa por problemas de clima, devido a altas temperaturas e baixa umidade (nessa semana houve bom volume de chuvas). Aliado ao leite, a safra de milho e soja foram afetadas.
A alta dessas duas commodities a nível mundial gera aumento nos custos de produção, possibilitando uma margem para elevação dos preços.
Por outro lado, nos Estados Unidos e na União Europa, os dois maiores produtores mundiais, o cenário é positivo. Os EUA, há 6 meses vem apresentando expressivos ganhos sobre 2009 e a previsão para 2011 é de 1,4% a mais de leite, para 88,7 bilhões de litros. Na Europa, a safra está ganhando força e o clima, até agora, tem favorecido com boa umidade e temperaturas um pouco acima do normal.
Mas, onde o Brasil entra nessa história?
Dentre diversas respostas, três merecem maior destaque:
- Os preços de lácteos devem flutuar entre US$ 3.300 e US$ 3.700/tonelada. A hipótese do Mark Voorbergen, especialista em lácteos do Rabobank, se baseia em: i) poucos players conseguem produzir a um custo baixo e exportar a US$ 3.300/ton. A restrição de oferta impulsionaria os preços para o alto; ii) acima de US$ 3.700/ton muitos players destinam leite ao "pequeno" mercado internacional, inundando-o e pressionando os preços para baixo. Possivelmente, em razão da alta das commodities a faixa de preços tenha dado um pequeno salto, talvez migrando para US$ 3500 - 4000/tonelada.
- A dificuldade do Brasil em exportar está no nível de preços no mercado doméstico e na taxa de câmbio. O preço médio pago ao produtor (e tomemos como exemplo a média nacional do Cepea), na atual faixa de câmbio, está sob um patamar acima do que seria possível exportar. A taxa de câmbio, com o real sobrevalorizado frente ao dólar, dificulta a saída de produtos do país. Pelo contrário, as importações é que têm sido beneficiadas.
- A comercialização de um produto, como o leite em pó, é bem mais atrativa no mercado doméstico em razão dos melhores preços de vendas para mercado institucionais (empresas de alimentos) e atacado/varejo frente ao mercado externo. Apesar dos impostos aqui serem maiores, o custo devido a nosso problema estrutural de logística encarece demais o produto para exportação. Seria possível competir se o custo da matéria prima em dólar fosse menor do que em outros países para compensar o custo Brasil.
Nesse sentido, preparamos uma tabela que simula o preço máximo a ser pago pela matéria prima, para determinado preço da tonelada do leite em pó no mercado internacional e taxa de câmbio. Trata-se de um valor de referência, com variações caso a caso, em que estimamos o custo de produção de uma tonelada de leite em pó e custos de exportação, corrigindo a soma por uma taxa de câmbio. Desta forma, o valor não deve ser entendido como definitivo, mas sim como um indicador da ordem de grandeza.
Considerando os valores atuais do preço médio do leite em pó (na faixa dos US$ 4.000/ton) e da taxa de câmbio (1,685 R$/US$), o preço máximo da matéria prima que viabilizaria as exportações seria de R$ 0,6879/litro. Valor abaixo da média nacional do Cepea-ESALQ/USP, mas acima em algumas regiões.
Portanto, em um curto prazo, para viabilizarmos nossas exportações teríamos de ter uma apreciação do dólar/desvalorização do real, ou aumentos nas cotações externas para algo próximo a US$ 4.250/ton.
No entanto, a estabilidade dos preços internos, com perspectiva de alta nas cotações internas para os próximos meses, pode empurrar esse limite ainda mais adiante, desde que as importações - que atingiram patamares recordes em dezembro - voltem aos níveis anteriormente verificados.
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Material escrito por:
Rodolfo Tramontina de Oliveira e Castro
Engenheiro Agrônomo formado pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz"-USP, e Analista de Mercado do MilkPoint.
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CAMPINAS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 01/02/2011
Se não hovesse a sobrevalorização do real com relação ao dolar, o câmbio deveria estar no mínimo em R$ 2,25/US$, e a essa taxa o preço médio ao produtora nacional apurado pelo CEPEA seria de US$ 0,32/litro, altamente competitiva no mercado mundial.
No entanto com o real sobrevalçorizado e a uma taxa de R$ 1,70/US$ o preço médio ao produtor nacional apurado pelo CEPEA de US$ 0,424/litro, o que naturalmente tira a competividade de nossos lácteos a menos que nossa industria fosse muito mais eficaz que a dos concorrentes exportadores.
Insisto que o problema para a exportação de lácteos nacionais não é o preço ao produtor, que, nas condições atuais da nossa pecuária leiteira, não pode baixar do patamar que está sem provocar a baixa da oferta, e a disputa pelo leite acabaria por recolocar o preço nesse patamar.
O problema para que o Brasil seja exportador de lácteos são dois:
1) No curto prazo resolver a questão cambial ou compensar a sobrevalorização do real com relação ao dolar;
1) no médio e longo prazo, estratégias público/privadas para aumentar nossa competritividade, principalmente da nossa pecuária leiteira, para que os preços ao produtor possam sder um pouco menores nas compensados por aumento de produtividade e redução dos custos de produção.
Marcello de Moura Campos Filho
Presidente da Leite São Paulo