Desde maio os produtores têm amargado quedas nos preços do leite. Contudo, devido aos baixos preços dos grãos, principalmente milho e soja, o impacto negativo na receita vinha sendo parcialmente amenizado. Entretanto, em razão de adversidades climáticas, o mercado de insumos pode sofrer mudanças.
Um dos principais, se não o principal fator apresentado pelo pesquisador Glauco Carvalho, da Embrapa Gado de Leite, foi a seca que atingiu boa parte da Europa e Rússia, afetando a produção de grãos. No caso da Rússia, o efeito foi mais severo, principalmente em relação à produção de trigo, gerando perdas de US$ 1,1 bilhão, segundo últimas informações.
Devido à queda de produção, o governo russo limitou as exportações do produto - a Rússia é 2ª maior exportadora mundial de trigo, comercializando cerca de 18 milhões de toneladas ao ano -, para garantir o fornecimento para o mercado interno. Isto ocasionou, aliado a outros fatores, a elevação dos preços da commodity em 45% no intervalo de pouco mais de um mês.
A alta dos preços internacionais do trigo deve ser seguida pela alta do milho e, em menor correlação, da soja. O milho é o principal substituto do trigo em ração para animais na Europa e, apesar de um cenário positivo em termos de oferta e adequada relação de estoque/consumo mundial, a restrição das exportações e a queda de produção de trigo na Rússia devem ter impacto considerável nos preços internacionais de milho.
No Brasil, as adversidades climáticas são outras. Segundo Glauco, o resfriamento de águas superficiais do Pacífico indica a ocorrência de "La Niña", que tem como alguns de seus principais efeitos sobre o clima no país, a passagem de frentes frias no Sul e atraso das chuvas na região central do país. Outro fator que deve ser levado em conta é a intensa seca no Centro-Oeste e Sudeste, havendo regiões com estiagem de 100 a 150 dias.
Foto 1. Precipitação acumulada e temperatura no Brasil

Fonte: Somar Consultoria e Agritempo. Adaptadas da apresentação de Glauco Carvalho.
A região Sul conta com os dois principais estados produtores de trigo do país, Rio Grande do Sul (2º) e Paraná (1º), que também é o maior produtor de milho de 1ª safra. Já a região Centro-Oeste conta com o maior produtor de soja e de milho de 2ª safra do país, o Estado do Mato Grosso. Juntas as duas regiões respondem por 76,6% da produção nacional dos três grãos citados.
Se confirmado essas previsões, haverá uma redução da produção de trigo e dificuldades para o plantio da nova safra dos outros dois grãos, ocasionando altas desses insumos no mercado interno. Essa perspectiva a nível nacional e internacional tem sido expressada pelo aumento das cotações dessas commodities nas bolsas de mercado e futuro. Na BM&FBOVESPA, a previsão de preços futuros de milho indica significativas altas, e o mesmo ocorre com a soja, conforme observados nos gráficos 1 e 2.
Gráfico 1. Previsão de preços de milho na BM&F (R$/60kg)

Gráfico 2. Previsão de preços de soja na BM&F (US$/ 60kg).

Assista entrevista com Glauco Carvalho, pesquisador e economista da Embrapa Gado de Leite.
Rodolfo Castro, Equipe MilkPoint
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