Ações para cortar emissões são insuficientes

Os compromissos específicos assumidos pelos países signatários do Acordo de Paris para reduzir as emissões de gases de efeito estufa relativos à atividade agrícola e as ações para alcançar essas metas ainda não são suficientes para diminuir o impacto da atividade sobre as emissões e o aquecimento global. Essa é a avaliação de Zitouni Oul-Dada, diretor da Divisão de Clima e Ambiente do Departamento de Clima, Biodiversidade, Terra e Água da Agência para Agricultura e Alimentação da ONU (FAO), em entrevista ao Valor.

Publicado por: MilkPoint

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Os compromissos específicos assumidos pelos países signatários do Acordo de Paris para reduzir as emissões de gases de efeito estufa relativos à atividade agrícola e as ações para alcançar essas metas ainda não são suficientes para diminuir o impacto da atividade sobre as emissões e o aquecimento global. Essa é a avaliação de Zitouni Oul-Dada, diretor da Divisão de Clima e Ambiente do Departamento de Clima, Biodiversidade, Terra e Água da Agência para Agricultura e Alimentação da ONU (FAO), em entrevista ao Valor.

No Acordo de Paris, além do compromisso firmado por 195 países para reduzir o aumento da temperatura do planeta em 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais até 2030, cada nação apresentou compromissos próprios com metas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa de forma a colaborar com a meta global para mitigar o aquecimento. Ainda no bojo do acordo de 2015, os países acordaram que a temperatura do planeta precisaria parar de crescer em 2020 para que se pudesse alcançar a meta global.

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De acordo com a World Resources Institute (WRI), 27 entre todas as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês) tratam de ações na área rural. "Até o momento, foram registradas 176 NDCs. A quantidade de compromissos, porém, pode aumentar até a COP-24, que ocorrerá em dezembro, na Polônia", observa Sarabeth Brockley, coordenadora da organização sem fins lucrativos Business for Social Responsability (BSR).

Em sua NDC, o Brasil não apresentou uma meta específica para a redução das emissões, mas comprometeu-se a fortalecer o Plano de Agricultura de Baixo Carbono, além da restauração adicional de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas até 2030 e o aumento de 5 milhões de hectares de sistemas de integração lavoura-pecuária-florestas no mesmo prazo.

Segundo os dados mais recentes da FAO, referentes a 2016, a agricultura emitiu 91,36 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente naquele ano. Em relação a 2015, quando o Acordo de Paris foi criado, esse volume representou um decréscimo de 16,5%, e ante 2014, uma redução de 28,3%. Ainda assim, Oul-Dada avalia que o setor precisa avançar mais. De cada quilo de gás carbônico emitido dois anos atrás, 250 gramas foram originados do estrume de gado bovino deixado em pastagens, a principal causa das emissões no setor.

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"Há o reconhecimento de que há um problema. Mas os compromissos não são suficientes nem as ações são adotadas de forma rápida o suficiente", avaliou Oul-Dada, que participou de debate com ministros da agricultura e empresários que atuam com agricultura sustentável em San Francisco, em paralelo à Conferência Global de Ações Climáticas (GCAS, na sigla em inglês). Para Oul-Dada, a dificuldade tem sido a "politização" em torno das discussões sobre as ações a serem tomadas. "E não deveria ser assim, porque isso concerne à sobrevivência de todos".

Para ele, os compromissos precisam apontar para o aumento da eficiência da produção e o combate ao desperdício que ocorre desde as lavouras. "Hoje há subsídios para produzir em quantidade. Se houvesse subsídios para produzir com qualidade e sustentabilidade, o sistema de produção seria totalmente diferente", defendeu. A eficiência, disse, pode permitir a redução do uso de fertilizantes, que em 2016 foi o segundo principal responsável pela emissão de gás carbônico equivalente, com 21% do total.

A mudança dos padrões de consumo, por meio da valorização de alimentos produzidos de forma mais sustentável, também precisa ser foco das ações para reduzir as emissões relacionadas à agricultura, disse. "O que faz a diferença no fim é a demanda. Se a China, por exemplo, quiser ter mais proteína animal, eles precisam pagar o valor real por isso", sustentou. "Os consumidores também precisam pagar o preço correto pelo alimento".

Diferentemente de outros setores que contribuem para as emissões, a agricultura também é vítima das mudanças climáticas. "Já estamos vendo os problemas das mudanças climáticas afetando a agricultura. Partes do mundo onde nunca houve seca estão passando por secas terríveis. Vimos neste ano incêndios florestais na Suécia! Quem diria, com toda aquela neve. Vimos inundações no sul da França após chuvas de um mês caindo em apenas um dia. E não estamos vendo as coisas melhorar", alertou.

Oul-Dada ressaltou que os resultados nas práticas agrícolas já são observáveis e que os impactos das mudanças climáticas na agricultura deverão ser detalhados em um relatório que o Painel Intergovernamental de Mudanças Climática (IPCC, na sigla em inglês) deverá divulgar em 2019 sobre degradação do solo, gerenciamento de produção sustentável e segurança alimentar.

As informações são do jornal Valor Econômico.

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