Por Octaviano Pereira, Consultor Técnico Sênior - Elanco Saúde Animal - Brasil
Em propriedades onde são desenvolvidas atividades pecuárias, as populações de moscas domésticas podem ultrapassar os limites toleráveis, criando graves perigos sanitários. Essas infestações causam sérios problemas em criações intensivas de animais (bovinos de leite e corte), podendo causar grandes perdas econômicas para os pecuaristas, como: perda de peso e diminuição da produção de leite das vacas pelo estresse1; queda na qualidade do leite, devido às altas infestações de moscas9; aumento na contagem de bactérias no leite devido a moscas nas salas de leite11; incomodo grave tanto ao redor da fazenda como em cidades (comunidades) próximas11 e perdas de até 20% no ganho de peso e de até 10% na conversão alimentar.12
Além do estresse causado aos animais, as moscas são potenciais transmissoras de doenças, pois podem carregar até cem diferentes agentes patogênicos (bactérias, vírus, fungos e riquétsias10) para seres humanos e animais, podendo transmiti-los através: das pernas, corpo, aparelho bucal ou expulsá-los pela regurgitação (vômito) ou nas fezes.2 Isso ocorre, porque os criatórios das moscas são em matéria orgânica em decomposição de origem animal e/ou vegetal.
Algumas doenças que podem ser transmitidas pelas moscas: mastite (Corynebacterium pseudotuberculosis; S. aureus)4; queratoconjutivite (Moraxella bovis)9; febre aftosa9; salmoneloses (Salmonella spp.)5; diarreias (Cryptosporidiosis)6; tuberculose (Mycobacteria spp.)7; miíases (bicheiras2 e berne2, 12) e algumas verminoses (Ascaris, Taenia, etc)10.
O objetivo fundamental a ser buscado no controle não é a erradicação das moscas, mas sim, a diminuição da população destes insetos a níveis toleráveis, tais que não comprometam de nenhuma forma a criação adequada e proveitosa dos animais de produção.
Para isso, é necessário identificar quais espécies de moscas estão infestando a propriedade, porque as moscas têm hábitos alimentares (lambedoras-sugadoras e picadoras-sugadoras) e comportamentos diferentes.
Algumas das principais espécies de moscas encontradas em instalações rurais:
Espécies de moscas Lambedoras-sugadoras |
Comportamento |
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A mosca doméstica pode percorrer distâncias de até 30 km em curto espaço de tempo, mas costumam se concentrar perto de criadouros de animais, pois suas larvas alimentam-se de matéria orgânica em decomposição como esterco, matéria vegetal e animais mortos2. O desenvolvimento de ovo a adulto pode ocorrer em cerca de 6 a 11 dias, nos meses mais quentes e úmidos, com temperatura média superior a 30°C, ou de 40 a 49 dias nos meses mais frios e secos, com temperatura média em torno dos 16°C.9 |
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As moscas varejeiras (de cor verde brilhante, azulada ou cor de cobre) se criam em carcaças em decomposição, em lugares sujos com leite e ovos quebrados, em estercos de animais e, também, em fezes humanas, por serem ricos em proteínas. 1 O ciclo biológico na maioria das vezes se completa (ovo a adulto) entre 10 a 20 dias em diferentes temperaturas. |
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As moscas adultas podem ser reconhecidas por seu comportamento de voar lentamente em círculos e manterem-se imóveis no ar. Com frequência poderá vê-las desenhando círculos acima dos currais e corredores. Ciclo completo de ovo a adulto pode variar de 15 a 30 dias de acordo com a temperatura e umidade. |
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Espécie de moscas Picadoras-sugadoras |
Comportamento |
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É uma mosca hematófaga (alimenta-se de sangue de mamíferos), que ataca diversas espécies, dentre as quais se destacam bovinos, caprinos, ovinos, equinos, cães e até mesmo o homem. É a única mosca picadora que usa as instalações de criação intensiva de animais de produção para criadouro. A oviposição e o desenvolvimento das larvas se dão em locais com grande quantidade de matéria vegetal, como: silos, cama dos animais com urina e fezes, feno em fase de putrefação, forragem em fermentação, grama cortada e outros materiais vegetais em decomposição. O ciclo completo de ovo a adulto leva em torno de 13 a 18 dias a temperatura de 24°C a 30°C. Já a 10°C o ciclo se completa em 3 a 5 meses. |
Outro ponto importante é identificar os locais de proliferação, porque o que vemos de uma infestação, são as moscas adultas voando, que representam apenas 20% do problema. Os outros 80% estão nas fases de ovo, larva e pupa, que ficam ocultos sob a superfície dos materiais em decomposição, como: esterco, estrume, fezes, lixo e vegetais em decomposição.
O correto controle das moscas lambedoras-sugadoras envolve vários fatores, como: identificar as espécies de moscas e os locais de proliferação; manejar adequadamente a esterqueira; evitar pequenas aglomerações de matéria orgânica espalhadas na propriedade, como: esterco, silagem, etc; evitar vazamento de bebedouros em locais com esterco e/ou ração, silagem e capim picado; higienizar os bezerreiros; etc.
Em conjunto com as ações descritas acima, nos locais de proliferação de moscas, onde encontramos as larvas, deve-se aplicar um larvicida seletivo, como o NeporexTM 50 SP, um produto à base de ciromazina. Deve ser pulverizado sobre o esterco ou nos locais onde haja acúmulo de matéria vegetal em decomposição (silagem podre, entorno de cochos de alimentação, entre outros), onde frequentemente há proliferação de larvas das moscas. É um produto estratégico no controle integrado, pois não afetam os ácaros e insetos que são predadores naturais das moscas, nem outros integrantes da fauna natural que degrada as fezes. A sequência de aplicação dependerá do manejo e volume de esterco produzido.
Para o controle das moscas adultas, deve-se aplicar um inseticida adulticida nas instalações onde elas frequentam, tal como o AgitaTM 10 WG, que pode ser usado por pincelamento, impregnação de cordões e pulverização localizada ou o AgitaTM 1 GB, disponível na forma de iscas. Esses produtos têm alta eficácia contra moscas e um efeito residual prolongado que supera os 30 dias de controle.
O controle permanente das moscas (planejamento anual) evitará altas infestações no período do verão (quente e chuvoso), trazendo um ambiente mais saudável para os animais e os funcionários da fazenda, refletindo-se em menores riscos sanitários ás diferentes categorias de animais e melhores condições de trabalho.
Com isso, o produtor verá a diferença, tendo seus animais livres do estresse e doenças associadas às moscas, expressando seu potencial produtivo e gerando mais lucros.
Bibliografia
1. De Paiva, D. S. R., As moscas como indicadores biológicos da alteração ambiental, EMBRAPA Suínos e Aves. < https://www.cnpsa.embrapa.br/pnma/pdf_doc/6-Dora-moscas.pdf> Acesso em 10/05/2017.
2. Deleito, C. S. R., 2008 – Inseticidas alternativos no controle de moscas sinantrópicas, Tese de doutorado. 123 p. <https://tede.ufrrj.br/jspui/handle/tede/223>
3. Yerulam et al., 1996 Mastitis in Dairy cattle caused by Corynebacterium pseudotuberculosis and the feasibility of transmission by houseflies I. Vet. Quart. 18.1: 87-9.
4. De Vliegher et al., 2012 Mastitis in dairy heifers: Nature of the disease, potential impact, prevention, and control. J. Dairy Sci. 95: 1025–1040.
5. Olsen, A., Hammack, T. 2000, Isolation of Salmonella spp. from the housefly, Musca domestica L., and the Dump Fly, Hydrotea aenescens (Wiedmann) (Diptera: Muscidae), at Caged-Layer houses. J. Food Protection, 63 (7): 958-960.
6. Graczyk et al. 1999, House flies (Musca domestica) as transport hosts of Cryptosporidium parvum. J. Trop. Med. Hyg. 61.3: 500-504.
7. Fischer et al. 2011, Diptera as vectors of mycobacterial infections in cattle and pigs. Medical Vet. Entomol, 15: 208-211.
8. Carmo, R., Vasconcelos, S. 2014 First record of the blow fly Chrysomya megacephala (Diptera: Calliphoridae) on a Southern Atlantic island: implications for disease transmission in a protected environment. J. Vector Ecology, p. 228-230.
9. NOVARTIS ANIMAL HEALTH 2004. Control de moscas em instalaciones de producción intensiva ganadera y aviar. Novartis Animal Health, p. 33-34.
10. NOVARTIS SAÚDE ANIMAL 1998. Manual Novartis de Biologia e Controle de Moscas em Zona Rural. p. 5.
11. Cornell University. Integrated Management of Flies in and around Dairy and Livestock Barns. <https://nysipm.cornell.edu/factsheets/dairy/barnflies/barnflies.asp> Acesso 20/08/2015.
12. Bittencourt, A, Borja, G. 2002, Stomoxys calcitrans (Linnaeus, 1758) (Diptera, Muscidae): preferência por locais do corpo de bovinos para alimentação, Rev. Bras. Zoociências, p.75-83.
13. Sievert, K., Alvarez, R. et al. «House flies and the avian influenza threat» International Poultry Production, 14.2: 7-9.
14. Alves, C., 2010 Manejo de Musca domestica em indústria de alimentos. Dissertação de Mestrado. 59 p. <https://www.repositorio.jesuita.org.br/bitstream/handle/UNISINOS/2325/CamilaAlvesBiologia.pdf?sequence=1&isAllowed=y> Acesso em 02/01/2014.
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