O período de transição, compreendido entre as últimas semanas antes- até as primeiras após o parto é uma fase crítica para a vida produtiva da vaca leiteira. A transição de prenhe-não lactante para não prenhe-lactante exige diversas adaptações no metabolismo para suportar a produção de leite. A demanda por nutrientes aumenta repentinamente, em um momento em que o consumo de alimento é relativamente baixo. Esta diferença entre demanda e suprimento de energia, neste período, é conhecida como balanço energético negativo (BEN). Notadamente um dos principais efeitos do BEN é a extensa mobilização de tecidos corporais, particularmente gordura, na forma de ácidos graxos não esterificados (AGNE).
A maioria desses AGNE que chegam ao fígado são oxidados para produção de energia ou convertidos em metabolitos intermediários como o beta-hidróxido butirato (BHBA), e em uma menor extensão, a síntese de lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL). O fígado bovino tem capacidade limitada de sintetizar e secretar VLDL, comprometendo assim a exportação de triacilgliceróis durante extensos períodos de captação hepática de AGNE, causando a lipidose hepática. Estudos demonstraram que em torno de 50-60% das vacas leiteiras, no período de transição, passam por moderada a severa lipidose hepática. Este acúmulo de ácidos graxos no fígado tem sido associado à retenção de placenta, cetose, deslocamento de abomaso e comprometimento da função imune e reprodução.
A suplementação de vacas leiteiras periparturientes com colina protegida no rúmen tem sido utilizada como estratégia para melhorar o metabolismo energético. Umas das principais funções da colina é a síntese de fosfatidilcolina, um componente essencial das membranas celulares. Adicionalmente, a fosfatidilcolina é necessária para a síntese e secreção VLDL, minimizando o acúmulo de gordura no fígado. Assim, a colina é um componente primordial para aliviar a gravidade e incidência da gordura no fígado de vacas leiteiras no período de transição. Devido ao extenso metabolismo ruminal, fontes de colina devem ser encapsuladas para preveni-la da degradação pelos microrganismos do rúmen.
Nas últimas décadas diversas pesquisas demonstraram os benefícios da suplementação com colina protegida, sobre a saúde e produção de vacas leiteiras no período de transição. Recentemente, uma meta-análise foi publicada pelo grupo de pesquisa da Universidade da Flórida, onde foram compilados mais de 20 publicações. O resumo com os principais resultados está apresentado na figura abaixo.
A suplementação com Colina protegida aumentou o consumo de alimento e a produção de leite e reduziu a incidência de doenças como retenção de placenta e mastite.
Referências:
Arshad et al., 2019. Journal of Dairy Sci. 103:282-300
Bisinotto et al., 2011. AABP Proceedings
Bobe et al., 2004. Journal of Dairy Sci. 87:3105-3124