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Silagens de cana-de-açúcar tratadas com aditivos químicos após a abertura dos silos

POR RAFAEL CAMARGO DO AMARAL

E THIAGO BERNARDES

THIAGO FERNANDES BERNARDES

EM 19/11/2007

5 MIN DE LEITURA

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Além de investigações relacionadas ao processo fermentativo de silagens de cana-de-açúcar, a comunidade científica demanda explanações referentes ao momento da exposição da silagem ao oxigênio no painel do silo, após a abertura, bem como no cocho durante o fornecimento das rações aos animais. Dessa forma, novamente visam-se tentativas de melhoria no valor nutritivo de silagens, na busca da inibição de microrganismos, agora aeróbios, em um processo caracterizado pela deterioração aeróbia da massa ensilada.

Segundo Kung et al. (2003), o perfil de fermentação desejável nem sempre evita as perdas após a abertura dos silos, sendo que em alguns casos pode aumentá-las. Silagens caracterizadas por alta concentração e a predominância de ácido lático, bem como presença de açúcares remanescentes, são mais afetadas pela deterioração aeróbia (Weinberg e Muck, 1996). Driehuis et al. (1999) ressaltaram que o processo de deterioração aeróbia se inicia pelo desenvolvimento de leveduras ácido tolerantes.

Os fungos, as leveduras e algumas espécies de bactérias promovem a assimilação aeróbia de ácido lático da silagem, o qual é degradado em dióxido de carbono e água, resultando em excessiva perda de calor e perdas de nutrientes (Pahlow et al., 2003). Além disso, McDonald et al. (1991) descreveram que a degradação desse ácido se torna benéfica para a elevação do pH da silagem, permitindo o crescimento de microrganismos oportunísticos como bactérias e mofos. Além de representar perdas de nutrientes, a silagem deteriorada pode provocar redução no consumo e decréscimo de desempenho animal (Whitlock et aI., 2000).

Dessa forma, diversos trabalhos passaram a explorar o efeito de aditivos na estabilidade aeróbia de silagens de cana-de-açúcar. Pedroso (2003) verificou aumento na estabilidade aeróbia da silagem de cana tratada com Lactobacillus buchneri e benzoato de sódio e observou que silagens tratadas com doses baixas de hidróxido de sódio apresentaram estabilidade 85% maior que das silagens controle, se mantendo estáveis durante o período de cinco dias de exposição aeróbia.

Balieiro Neto et al. (2005) trabalhando com silagens de cana-de-açúcar tratadas com doses crescentes de óxido de cálcio, verificaram manutenção da temperatura e do pH, bem como, aumento da estabilidade aeróbia e da recuperação de matéria seca durante o período de exposição aeróbia das silagens. Ainda, Balieiro Neto et al. (2007) concluíram que o tratamento de silagens de cana-de-açúcar com óxido de cálcio proporcionou durante a estabilidade aeróbia alimento com maior estabilidade da composição química e maior valor nutritivo.

Após a abertura dos silos ou a exposição de alimento úmido aos efeitos do oxigênio presente no ambiente, se estabelece um quadro de alterações microbiológicas e químicas, no qual bactérias aeróbias, fungos filamentosos e leveduras oxidam componentes solúveis e produtos da fermentação da silagem, substâncias geralmente encontradas em concentrações elevadas na cana-de-açúcar in natura e em sua silagem, respectivamente. Assim, de acordo com Santos (2007) é verificado que a atividade microbiana resulta em aumento nos valores de pH, aquecimento da massa de forragem, alterações no valor nutritivo e perdas de matéria seca durante o período pós-abertura.

Durante o período de exposição aeróbia da massa de forragem, o monitoramento da temperatura permite, de forma indireta, avaliar a intensidade do desenvolvimento de microrganismos espoliadores. Na Figura 1 são apresentados os valores de temperatura, calculados pela diferença entre a temperatura da massa de forragem com a temperatura ambiente e, o momento em que esses volumosos ultrapassaram 2 °C acima da temperatura ambiente, caracterizado como momento de quebra de estabilidade aeróbia, da cana-de-açúcar in natura e silagens de cana tratadas com 1% de cal virgem e 1% de calcário (Amaral, 2007).

Com a mensuração da temperatura em menor espaço de tempo (intervalos de uma hora), pode-se observar que para todos os tratamentos houve picos de temperatura, pelo menos em dois momentos (Figura 1). Possivelmente, esta ocorrência pode ser associada ao desenvolvimento de diferentes grupos de microrganismos deterioradores, pois segundo Yamashita et al. (1975) citado por McDonald et al. (1991), a deterioração da massa de forragem está associada a picos termais, sendo que, com dois a três dias de exposição aeróbia, pode ocorrer o primeiro pico, sendo este atribuído às leveduras, enquanto que de três a quatro dias mais tarde ocorre o segundo pico termal, sendo este atribuído aos fungos filamentosos.
 


Figura 1. Temperatura alcançada acima da temperatura ambiente e quebra de estabilidade (2 °C) dos volumosos ao longo das horas de exposição aeróbia.

Entre os volumosos, pode-se observar que a cana-de-açúcar in natura teve sua quebra de estabilidade antecipada frente às silagens, ao passo que a silagem tratada com 1% de cal virgem teve sua quebra de estabilidade mais tardia. A quebra de estabilidade antecipada da cana-de-açúcar in natura era esperada, visto a superioridade de carboidratos solúveis presente na forragem frente às silagens, o que provavelmente possibilitou maior intensidade e em menor tempo, a atividade de leveduras e fungos filamentosos.

O motivo para a silagem tratada com 1% de cal virgem ter apresentado maior estabilidade aeróbia, pode estar relacionado ao seu padrão fermentativo, visto a maior presença nestas de ácidos orgânicos fracos (p. ex. ácido acético e butírico), o que possibilitou o controle da deterioração aeróbia.

As perdas de matéria seca durante os cinco primeiros dias de exposição aeróbia da cana-de-açúcar in natura e das silagens são apresentados na Figura 2. Verificou-se que durante este período, a silagem tratada com 1% de cal virgem apresentou menores perdas de matéria seca. Possivelmente, os efeitos do período fermentativo nesta silagem, como alta concentração de ácidos orgânicos e a efetividade do aditivo em manter o pH constante ao longo do tempo de exposição aeróbia, atuaram de forma à inibir o desenvolvimento de microrganismos aeróbios, traduzindo em menores perdas de matéria seca.

 


Figura 2. Perdas de matéria seca mensuradas durante os cinco primeiros dias de exposição aeróbia dos volumosos.

Apesar de a silagem de cana-de-açúcar ter apresentado menores perdas em relação à cana-de-açúcar in natura, sempre é bom lembrar que durante o processo de conservação esta forrageira apresenta perdas elevadas, e que a utilização de um aditivo na ensilagem, seja ele químico ou microbiano, é recomendado.

RAFAEL CAMARGO DO AMARAL

Zootecnista pela Unesp/Jaboticabal.
Mestre e Doutor em Ciência Animal e Pastagens pela ESALQ/USP.
Gerente de Nutrição na DeLaval.
www.facebook.com.br/doctorsilage

THIAGO BERNARDES

Professor do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras (UFLA) - MG.
www.tfbernardes.com

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SID ASSIS CASTRO

OLIVEIRA - MINAS GERAIS

EM 08/03/2010

Estou estudando sobre o tratamento da cana de açuçar com cal. estou com duvidas sobre que tipo de cal a ser utilizado, pois segundo li tem alguns que vem com uma substancia tóxica. Como saber comprar o cal certo? outra duvida como fazer a fenação da cana de açúcar? este método de utilizar alcalizantes podo ser usado com segurança com ureia? Tenho uma criação de cabras leiteiras e estou querendo usar a cana de açucar tratada com cal e uréia. Será que o Sr. pode me passar orientações mais precisas sobres estes métodos? uma formula boa e segura?


Desde já agradeço a atenção


<b>Resposta do auto:</b>

Prezado Sid Assis Castro,

A cal recomendada é a micropulverizada e geralmente a empresa que a comercializa, a atesta sobre ausencia de dioxinas.

A cana-de-açúcar não é uma planta que se realiza ensilagem, muitos estudos tem dado foco a ensilagem desta planta.

Precisaria saber se o senhor quer utilizar a cana in natura ou ensila-la. Mais de forma geral, sempre optamos por apenas um aditivo.

Atenciosamente

Rafael Amaral

sid
RAFAEL CAMARGO DO AMARAL

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 15/05/2008

Prezado Rômulo Madureira Faria,

Como o senhor mencionou a produtividade deste talhão será baixa. Acredito que o senhor deva ensilar sim essa cana, pois essa massa pode ser utilizada para o rebanho, entretanto, quando o silo for aberto, destinar este alimento para categorias animais menos exigentes.
O senhor pode utilizar tanto Lactobacillus buchneri como aditivo microbiano, e químico, como esta trabalhando com gado de leite, muitos produtores tem utilizado a uréia a 1 ou 1,5% na matéria verde da cana.
A soda caustica está um pouco em desuso, entretanto a cal virgem micropulverizada também pode ser utilizada. Em relação ao rolão de milho não recomendo.

Atenciosamente,
Rafael e Thiago
RÔMULO MADUREIRA FARIA

JACAREZINHO - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 15/05/2008

Prezados Drs. Rafael e Thiago

Bom dia

Solicito, se possível, uma orientação:

Atendo uma associação de produtores que possuem uma área de cana em Jacarezinho, Norte Pioneiro do Paraná. São 20 ha - 7º ano de corte - e será destinada a outra atividade (eucalipto) a partir desse ano. Em função disso, após a colheita de setembro/2007, não foram feitos os investimentos necessários, como tratos culturais e adubação cobertura. Mesmo assim a cana, mesmo com baixa produtividade deverá produzir uma quantidade razoável - acredito que tenha de 100 a 150 toneladas nessa área de 20 ha, com muitos pontos falhos em função de invasoras .

Como a propriedade tem gado de leite (além de olerícolas em cultivo protegido), seria interessante fazer silagem dessa cana para reserva? Ou o custo ficaria inviável, sendo melhor já iniciar o processo de preparo do solo, com correções da fertilidade, controle de ervas e preparação para recebimento das mudas de eucalipto? Se a silagem for viável, o que dizer de aditivos biológicos serem adicionados para inibir a produção de etanol, durante o processo de fermentação? São viáveis? Tem trabalhos que falam da soda cáustica (tratamento a 0,25%), outros falam do calcário calcítico (1%) já seria suficiente. Também vi trabalhos que recomendam a utilização de 10 a 15% de rolão de milho. O que os produtores querem é não desperdiçar esse possível alimento.

Agradecido pela atenção.
Rômulo
Engº Agrº do INSTITUTO EMATER PR
Unidade de Jacarezinho
EDSON FELIX COSTA

ALTINHO - PERNAMBUCO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 26/11/2007

Prezados Thiago e Rafael,

Sou produtor de leite no agreste semi-árido de Pernambuco, trabalho com palma forrageira como principal volumoso e silagem de sorgo para ajustar a baixa fibra da diata, uma vez que a da palma é bem baixa.

Tenho a possibilidade de plantar cana com irrigação, só que devido ao clima da minha região com chuva no inverno e verão seco, quando também chega a secar, por alguns meses, o rio que supre a irrigação, o risco de incêndio na cultura de cana seria enorme, por isso o seu cultivo somente seria viável se eu puder ensilar o material.

Alguns técnicos não recomendam que eu trabalhe com silagem de cana porque a perda de nutrientes seria muito grande, podendo chegar a 25%, segundo opinião de alguns.

Os aditivos à base de cálcio seriam totalmente contra-indicados porque a palma forrageira já o tem demais e ficaria impossível fechar uma dieta equilibrada em Ca e P.

O que os amigos recomendariam em termos de aditivos (químicos e/ou biológicos), manejo da colheita e da ensilagem, etc. para que a perda de nutrientes da silagem fosse algo decente?

Parabéns pelo trabalho e um abraço.

<b>Resposta dos autores:</b>

Prezado Edson,

Realmente a inserção de um aditivo contendo cálcio na ensilagem da cana-de-açúcar para sua situação seria complicado.

Entretanto, existem aditivos eficientes utilizados na ensilagem da cana-de-açúcar para o controle da fermentação alcoólica. Pode-se citar a uréia e uma bactéria heterolática chamada Lactobacillus buchneri. Estes aditivos têm mostrado benefícios na ensilagem, reduzindo as perdas nas silagens quando comparada a cana-de-açúcar ensilada sem aditivos.

Atenciosamente,

Rafael e Thiago.
AMAURI VALLE

MACHADINHO D'OESTE - RONDÔNIA - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 20/11/2007

Eu trabalho com silo de cana que forneço duas vezes ao dia a bois machos em fase de acabamento, silo este tratado com lasil cana da matsuda e complementado com caroço de algodão um proteinado a base de milho.

Tenho observado que o consumo não mantém um padrão de regularidade, algumas vezes sobrando outras faltando no cocho, mesmo fornecendo sempre a mesma quantidade. A que se deve isto?

Ademais percebo que o silo fornecido na parte da manhã se sobra no coxo esquenta muito e fica com um cheiro desagradável. Seria isto inibidor do consumo?

Percebo que quando o trato tem maio concentração das folhas da cana os bois tem selecionado no coxo e deixam grande parte das mesmas como sobra. Porque disto?

<b>Resposta do autor:</b>

Caro Amauri,

O consumo geralmente não se mantém constante todos os dias, pequenas variações ocorrem porque os fatores ambientais podem alterá-lo.

Contudo, se está modificando drasticamente, algo de errado ocorre. Desse modo, algumas questões devem ser respondidas: você tem certeza que fornece a mesma quantidade diariamente? A silagem fica exposta à chuva? Pois, se a matéria seca modifica, o consumo é alterado. Os ingredientes da ração estão sendo homogeneizados adequadamente? Você deve pensar em tudo isso.

Em relação ao odor desagradável da silagem, este não ocorre da manhã para a tarde, é um fenômeno que acontece após um espaço de tempo razoável. Assim, deve estar atento ao manejo que está impondo ao volumoso.

Se a concentração de folhas na silagem de cana é alta, isto significa que sua colhedora não está picando as partículas de uma forma satisfatória. Como as folhas da cana-de-açúcar são de má qualidade (quando se compara as folhas de outras espécies) os bovinos as rejeitam.

Não sei se fomos claros o suficiente para sanar as suas dúvidas, pois o ideal é conhecer a situação, mas nós colocamos a disposição para maiores esclarecimentos.
Sucesso na atividade.

Thiago e Rafael.

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