Em 2013, durante a minha participação na conferência mundial de silagem senti um certo entusiasmo em tentar fazer algo parecido no Brasil e que se adequasse as condições dos nossos produtores. Desse modo, me veio em mente a possibilidade de se fazer silagem de ração, mas com a inserção da forragem, de modo a criar um alimento único na propriedade.
Então, nós iniciamos um estudo no Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras em 2014. A forragem escolhida foi o capim-Elefante pelos seguintes motivos: Esta espécie é muito utilizada na bovinocultura leiteira de pequena escala, principalmente na forma de capineira. Com alta frequência se observa capineiras mal manejadas com a presença de plantas em estágio de maturidade avançado. Assim, a ensilagem surge como ferramenta para se manejar o excesso de forragem proveniente do verão. Contudo, a ensilagem de capim-Elefante requer atenção, pois as plantas apresentam alto conteúdo de umidade, o que ocasiona perdas (fermentação indesejável e produção de chorume).
Paralelo a este entrave, produtores de leite de pequena escala possuem dificuldade de formular e fornecer a dieta aos seus animais, o que requer práticas de alimentação mais simples. Desse modo, a ensilagem do capim-elefante associado aos outros ingredientes da dieta pode solucionar ambos os problemas (umidade do capim e barreira pra formular e misturar a ração).
Ingredientes concentrados como o milho e a soja são os mais utilizados. Mas outros ingredientes podem substituí-los em parte, principalmente aqueles provenientes da produção do biodiesel (baixo custo e grande oferta em algumas regiões do País). Portanto, o objetivo do estudo foi de avaliar silagens de dietas totais que atendam as exigências nutricionais de vacas leiteiras de até 5000 kg leite/ano (média de 16 kg/dia ao longo dos 305 dias de lactação), constituídas por capim-Elefante como volumoso associado aos ingredientes convencionais (milho e soja) ou associado à torta de girassol, conforme podem ser observadas na Tabela 1. Em ambas as dietas foi acrescentado 0,2% de premix mineral e vitamínico como parte do concentrado.
Tabela 1. Composição dos ingredientes (% MS) das dietas experimentais
Os resultados preliminares demonstraram que ambas as dietas fermentaram de maneira adequada e reduziram de forma significativa a produção de efluente (chorume). Contudo, a dieta convencional, constituída por capim, milho e soja se mostrou superior quando alguns parâmetros individuais são levados em consideração, tais como aspecto (cor e odor), potencial de diminuição de chorume e qualidade da fermentação. Isso não significa que a dieta com torta não possa ser ensilada. Tudo vai depender da disponibilidade do subproduto e valor dos ingredientes na região onde a propriedade está inserida.
Por fim, gostaria de ressaltar que este é apenas um passo em uma sequencia de estudos que estamos planejando. Outras combinações de dietas serão testadas de forma que os produtores tenham mais alternativas. A importante mensagem que fica é que dietas dessa natureza se conservam adequadamente, o que pode ser um avanço no futuro em termos de nutrição para os produtores de pequena escala.