Os carboidratos possuem importância quantitativa na dieta de ruminantes (~70%), o que confere alto impacto sobre a economicidade do sistema. Como o amido deriva principalmente dos cereais, alguns produtores com o objetivo de conter gastos iniciaram sua própria produção de grãos, entretanto, os custos começaram a se alavancar, especialmente os relacionados à secagem.
Desse modo, deu-se início a técnica de ensilagem de grãos úmidos, para contribuir com os problemas de perdas no campo e na armazenagem de grãos na propriedade, onde normalmente os custos são elevados e ocorrem perdas qualitativas e quantitativas em função do ataque de insetos-praga e de roedores.
Os carboidratos são a principal fonte de energia para os microrganismos do rúmen, constituindo-se no nutriente de maior participação individual na dieta de vacas leiteiras. Além da importância quantitativa, o que confere a este nutriente alto impacto sobre o custo de produzir leite, também merece atenção o reflexo dos mesmos sobre a composição do leite (Pereira, 2004).
O balanço de carboidratos da dieta deve considerar que estes nutrientes dividem-se em dois grupos, conforme Pereira (2004):
a)os de degradação lenta e que ocupam espaço no rúmen (FDN);
b)os de alta velocidade de degradação (amido).
Outro ponto que deve ser considerado quando o assunto é carboidratos é sua estreita relação com alguns problemas metabólicos, como a acidose ruminal, problema normalmente associado à redução de forragem das dietas, com concomitante aumento na concentração de carboidratos rapidamente degradáveis, o que pode ser facilmente desencadeado com a utilização de silagem de grãos de cereais em dietas de vacas de alta produção.
Colombari et al. (1996) desenvolveram um estudo com o objetivo de verificar o potencial da silagem de espigas de milho em substituição ao grão seco na ração como única fonte de amido. Conforme exposto na Tabela 1, o emprego da silagem de espigas na dieta de vacas em lactação determinou um pequeno aumento na produção de leite, maior percentual de gordura e uma leve diminuição na percentagem de proteína.
Tabela 1. Produção e composição química do leite em função da substituição do grão seco pela silagem de espigas de milho na ração de vacas leiteiras contendo feno como volumoso.

aOs valores se referem somente à ordenha da manhã
Estes mesmos autores realizaram outro estudo, substituindo a silagem de espigas pelo grão seco, porém em rações à base de silagem de milho e com vacas de diferentes potenciais de produção. Verifica-se na Tabela 2 que o emprego da silagem de espigas na ração das vacas, inseridas na classe 1 e 2 (produção de leite inferior), resultou numa efetiva produção de leite, com percentagem superior de gordura e sem afetar o percentual de proteína.
O inverso ocorreu com as vacas inseridas na classe 4, ou seja, os animais alimentados com grão seco apresentaram produção de leite superior (20,4 vs 20,0), com percentual de gordura semelhante ao outro tratamento e percentagem superior de proteína.
Tabela 2. Produção e características química do leite em função da classe de produção e substituição do grão seco pela silagem de espigas de milho na ração de vacas leiteiras contendo silagem de milho.

aClasse de produção: 1 = <11,8; 2 = 11,8-13,0; 3 = 13,1-17; 4 = > 17,0 kg/vaca
bOs valores se referem somente à ordenha da manhã
Este declínio na percentagem de proteína, sobretudo nos animais mais produtivos, esta ligado à menor quantidade de carboidratos não fibrosos (CNF) nas rações que continham silagem de espigas (aumento na concentração de FDN, devido à presença de palha e sabugo), pois a disponibilidade de carboidratos de degradação rápida no rúmen determina a síntese de proteína microbiana e o aporte de proteína metabolizável para o animal. A excreção de proteína no leite responde à disponibilidade de CNF no rúmen e limitações de CNF podem reduzir a produção de proteína microbiana.
Contudo, o menor aporte de energia nas rações, para vacas mais produtivas, devido ao emprego de silagem de espigas, não limita a sua utilização nos programas nutricionais. Em dietas com baixa concentração de CNF a fonte de amido pode ser substituída por uma de alta disponibilidade ruminal, como milho de grão duro pelo de grão dentado, farelo de trigo ou de cevada, pois o método de processamento, umidade e as características do amido influenciam de forma decisiva no seu processo digestivo, e, conseqüentemente na utilização pelos animais.
Outra alternativa para dietas ricas em fibra, seria a suplementação com proteína não degradável no rúmen (PNDR), para compensar a redução na síntese de proteína microbiana.