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Interação entre a compactação e a anaerobiose nas características de conservação de silagens de gramíneas

THIAGO FERNANDES BERNARDES

EM 20/09/2002

6 MIN DE LEITURA

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Lucas José Mari1 e Luiz Gustavo Nussio2

Ocorre, no Brasil, assim como nos outros países do trópico Sul, uma marcante estacionalidade da produção de forragens, sendo esse o principal fator de restrição na exploração da produção pecuária nacional. O manejo da pastagem deve buscar a conservação do excedente de forragem da estação de produção, a fim de ser utilizado no período da seca. Segundo alguns pesquisadores, a recomendação técnica para ensilagem de gramíneas tropicais data de 1935, mas apenas em meados da década de 70 é que iniciaram-se os trabalhos propriamente ditos com ensilagem de gramíneas, trabalhos esses utilizando-se principalmente o capim elefante (Pennisetum purpureum, cv. Napier).

Após esse primeiro surto de interesse na utilização de silagens de gramíneas, houve uma certa diminuição na evolução dessa técnica devido, provavelmente, à falta de equipamentos apropriados para o processo de conservação de gramíneas na forma de silagem. Na última década, as empresas nacionais passaram a desenvolver e produzir os equipamentos, e houve também a importação de máquinas especializadas que permitiram a conservação na forma de fardos revestidos e silos tubulares. Em virtude desse novo tipo de estrutura de conservação estar sendo utilizado para a alimentação em fazendas com rebanhos mais especializados, são necessários alguns esclarecimentos quanto ao perfil fermentativo que ocorre nesses tipos de silos/fardos.

O perfil fermentativo da silagem de gramínea produzida a partir de uma ceifa e subsequente confecção de um fardo cilíndrico/retangular revestido com filme plástico, se diferencia quando comparado com a silagem produzida em um silo tipo trincheira. A diferença é manifestada em um pH mais alto nos silos/fardos (O´Kiely et al., 1998). Numerosos fatores podem potencialmente contribuir para essa diferença, incluindo o dano mecânico à planta, a obtenção e manutenção das condições de anaerobiose, o grau de compactação da forragem e a interação do fardo/silo com as condições ambientais. Por exemplo, Seale et al. (1982) ensilaram forragem íntegra, ou picada sob partículas maiores e menores, e acondicionadas em silos de laboratório, concluindo que a lenta liberação de efluente da planta íntegra conduziu a uma fermentação com menor predominância de ácido lático.

Em um recente trabalho publicado, O´Kiely & Forristal (2002) determinaram o efeito da presença de oxigênio residual dentro do silo, do ingresso de ar para o silo e da compactação da forragem sobre o perfil fermentativo da silagem. Depois de colhida, a forragem foi emurchecida e ensilada em 42 silos laboratório (3 kg forragem por silo) usando uma série de (a) proporção de oxigênio residual na forragem ensilada, (b) níveis de pressão vertical aplicada na forragem ensilada (compressão) e (c) taxa de infusão diária de ar. Dentro de um arranjo fatorial dos tratamentos, as combinações individuais de tratamentos foram realizadas em triplicata. Cada silo continha 13,61 L de volume interno e foram armazenados sob 15oC por 30 dias. Pesos de aço (com 1,26 litros e 10,5 kg cada) foram usados para exercer pressão vertical na forragem, e/ou alterar o volume de oxigênio residual presente em cada silo. Seis silos foram alocados em cada um dos seguintes tratamentos: (a) sem peso de aço no silo, (b) - (d), um, dois ou três pesos de aço, respectivamente, suspensos sobre a forragem e dentro de cada silo; e (e) - (g), um, dois ou três pesos de aço, respectivamente, posicionados sobre a forragem exercendo compressão sobre a forragem no interior de cada silo. Três silos de cada tratamento permaneceram vedados por 30 dias e os outros três silos restantes, receberam a infusão de 27 litros de ar, durante 8,5 segundos, uma vez ao dia.

A composição média (desvio padrão) da forragem ensilada apresentou conteúdo de matéria seca (MS) 265 (16,5) g/kg; proteína bruta (PB) 150 (9,3) g/kg MS; digestibilidade in vitro da MS (DIVMS) 691 (17,9) g/kg; cinza 106 (5,8) g/kg MS; poder tampão 293 (14,1) mEq/kg MS e carboidratos solúveis em água (WSC) 24 (3,5) g/L. A infusão diária de ar em cada silo não alterou (P>0,05) o conteúdo de MS da silagem, cinzas ou a concentração de ácido propiônico (Tabela 1). Entretanto, a infusão de ar aumentou o conteúdo de PB e o pH, além de reduzir a concentração de ácidos lático, propiônico e butírico, etanol, WSC, nitrogênio amoniacal (N-NH3), DIVMS, a taxa de recuperação da MS e o adensamento da silagem no silo sedimentação). Além disso, a concentração de produtos da fermentação, WSC residual e N-NH3 foram reduzidos proporcionalmente pela infusão diária de ar em 40%, a DIVMS foi reduzida para 40 g/kg e a recuperação de MS ensilada foi reduzida em 24 g/kg. Contrastando com essa tendência, a infusão de ar estimulou o adensamento da silagem em 7%.

A simulação da redução do oxigênio residual dentro dos silos (tratamentos (a) a (d)) não alterou (P>0,05) os teores de MS, PB, cinzas, pH, ácidos graxos voláteis, etanol, WSC ou a recuperação de MS da silagem. Os efeitos da presença de oxigênio residual na concentração de N-NH3 e no adensamento da silagem não foram lineares. A concentração de ácido lático tendeu a ser baixa e a DIVMS mais elevada com a redução do espaço de ar (P<0,05). Não houve interação (P>0,05) entre aerobiose (ou infusão diária de ar) e redução do oxigênio residual (pela inclusão de mais pesos dentro do silo vedado) para qualquer das variáveis analisadas.

A compactação induzida pela compressão exercida pelos pesos de aço na silagem não alterou (P>0,05) os teores de MS, PB, cinzas, WSC, ácido acético, ácido propiônico, etanol, pH ou a taxa de recuperação da MS, em relação a simulação da redução de oxigênio residual. A maior compressão das silagens determinou o aumento da DIVMS (623 para 641 g/kg), de N-NH3 (84 a 98 g/kg N), de ácido lático (57 a 65 g/kg MS) e de ácido butírico (12 a 14 g/kg MS), e, ainda, estimulou o maior adensamento da silagem resultando em menor espessura da camada de silagem nos silos (34,4 a 26,7 cm).

Não ocorreu interação (P>0,05) entre aerobiose e compactação para a maioria das variáveis. Entretanto, a compactação aumentou a digestibilidade e a concentração de ácido butírico e reduziu o teor de cinzas apenas quando da infusão de ar. Da mesma forma, não ocorreram interações (P>0,05) para a maioria das variáveis quanto ao posicionamento dos pesos dentro do silo e o número de pesos. Todavia, o aumento no número de pesos aumentou o adensamento da silagem (reduziu a espessura da coluna de silagem), e aumentou a concentração de amônia apenas quando os pesos foram colocados na silagem ao invés de quando suspensos sobre elas. O aumento no número de pesos reduziu o teor de cinzas quando esses foram suspensos acima das silagens. Não houve interação (P>0,05) entre aerobiose, o posicionamento dos pesos e o número de pesos.

 



Conclusão

De um modo geral, o maior tamanho das partículas na silagem enfardada e a menor condição de anaerobiose, geralmente observadas em fardos/silos revestidos com filme plástico, têm um impacto significativo no perfil fermentativo da silagem. A predisposição à maior troca gasosa, observada nas silagens de fardos revestidos, decorrentes da menor compactação, as torna mais susceptíveis à deterioração aeróbica. Sob esse aspecto, a presença de oxigênio residual é menos relevante que a oportunidade de permitir a penetração de ar do meio externo para o interior do fardo. Com isso, sob essa forma de armazenamento, torna-se fundamental a preocupação com a vedação dos fardos revestidos com filme plástico.

Referências bibliográficas

O´KIELY, P.; LENEHAN, J.J.; FORRISTAL, P.D. Irish Journal of Agricultural and Food Research. n.37, p.107, 1998.
SEALE, D.R.; QUINN, C.M.; WHITTAKER, P.A.; WILSON, R.K. Irish Journal of Agricultural and Food Research. n.21, p.147-158, 1982.
O´KIELY, P.; FORRISTAL, P.D. Interaction of compactation and anaerobiosis on the conservation characteristics of ensiled grass. In: INTERNATIONAL SILAGE CONFERENCE, 19., Auchincruive, Scotland , 2002. Proceedings. Auchincruive: 2002. p.146-147.

1 Aluno de Pós-graduação em Ciência Animal e Pastagens - USP, ESALQ - Piracicaba, SP.
2 Professor do Departamento de Zootecnia - USP, ESALQ - Piracicaba, SP.

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