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"Conversa entre vacas e modelos matemáticos sobre cana e ureia": Parte I

VÁRIOS AUTORES

THIAGO FERNANDES BERNARDES

EM 26/06/2009

5 MIN DE LEITURA

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A utilização de cana-de-açúcar tem se tornado cada vez mais comum nas fazendas leiteiras do Brasil. Como pequena proporção da matéria seca (MS) desta forragem é representada por compostos nitrogenados (~2,5% de proteína bruta), a "Tecnologia Cana + Ureia" tem sido difundida nos trópicos desde a década de 1970, principalmente após a realização de vários experimentos nos países caribenhos (Preston, 1977). Embora esta tecnologia não seja recente, o frequente questionamento sobre o uso de ureia em rações com cana-de-açúcar motivou a preparação deste artigo.

A ureia foi descoberta na urina em 1773 pelo francês Hilaire Rouelle, mas somente no início do século XIX ficou bem conhecida, pois foi o primeiro composto orgânico sintetizado artificialmente a partir de compostos inorgânicos, por Friedrich Wöhler. Ainda no século XIX, Weiske (1879) descobriu que ovinos podiam utilizar o nitrogênio da ureia. No rúmen, a ureia é convertida em amônia e utilizada pelos microrganismos para síntese de proteínas (Huber e Kung, 1981). Como possui aproximadamente 45% de nitrogênio, seu valor de proteína bruta (PB) é de 281% (PB = %N*6,25).

O primeiro experimento com ureia na dieta de vacas em lactação foi realizado no final da década de 1930, na Universidade de Wisconsin (Estados Unidos) (Rupel et al., 1943). Neste trabalho, os volumosos utilizados foram: feno de gramínea e silagem de milho. A ureia foi comparada com o farelo de linhaça, ao longo de três lactações. As vacas produziram aproximadamente 4.000 kg de leite por lactação, independente da fonte protéica. Os autores concluíram que a ureia poderia substituir o farelo protéico com sucesso. Com base nos resultados deste primeiro experimento, que não testou níveis de ureia, os autores recomendaram o nível máximo de inclusão de ureia de 1% da matéria seca da ração total ou 3% da matéria seca da mistura de concentrados. Neste trabalho, o nitrogênio da ureia constituiu 27% do nitrogênio total da ração.

A partir daí, vários pesquisadores estudaram diferentes níveis de inclusão de ureia na mistura de concentrados. Pôde-se concluir que o limite máximo de inclusão de ureia no concentrado, sem efeitos deletérios no consumo de alimentos e no desempenho, variava entre 1,5 e 3% da MS, sendo as vacas de maior produção mais afetadas negativamente com maiores níveis de ureia. Também foram determinados outros parâmetros determinantes da inclusão máxima de ureia nas rações como 40 a 50 g/100 kg de peso vivo ou 1/3 do nitrogênio total da ração (Van Horn et al., 1967; Chalupa, 1968; Conrad e Hibbs, 1968; Huber, 1975). Por fim, passou-se a entender que os efeitos deletérios da ureia sobre o consumo de alimentos são causados pela palatabilidade e também por efeitos metabólicos (Huber e Kung, 1981).

E no caso da cana-de-açúcar, qual seria o limite de inclusão de ureia?

Um experimento bem conhecido sobre "níveis de ureia na cana" foi conduzido por Alvarez e Preston (1976), no México. Cinquenta novilhos foram alimentados com 1 kg de farelo de arroz e cana-de-açúcar picada adicionada de solução aquosa de melaço mais ureia, fornecida a vontade. As respostas mensuradas (consumo, ganho de peso e conversão alimentar) apresentaram efeito quadrático e os melhores resultados foram obtidos quando a ureia foi adicionada na dose 35 g/kg de MS da dieta, aproximadamente 1% da matéria natural.

Este e outros trabalhos realizados na região do Caribe sustentam o uso da tecnologia "cana + 1% ureia", bastante difundida em nosso país. Mas a recomendação deste nível de ureia (3,5% da MS) não vai contra os valores citados anteriormente (1% da MS)? Como ficaria a regulação do consumo via palatabilidade e/ou metabolismo?

Antes de saber a "opinião" das vacas, vamos ver o que os modelos matemáticos apontam em relação ao desempenho. Uma simulação foi feita utilizando uma vaca em lactação de 580 kg. Assumiu-se o consumo de cana-de-açúcar igual a 11 kg de matéria seca, o que equivale a aproximadamente 35 kg de cana fresca. Este é um ponto extremamente delicado, pois na prática este consumo só tem ocorrido em condições ótimas de manejo. Aqui nós gostaríamos de avaliarmos o potencial das dietas, por isto, admitiu-se um consumo elevado.

O NRC Gado de Leite (2001) foi considerado como modelo matemático padrão, ou seja, as dietas foram formuladas no NRC e avaliadas nos outros modelos (CPM-Dairy, CNCPS e Dijkstra et al., 1996) (Figura 1). Quando somente a cana-de-açúcar foi inserida na ração observamos que a produção potencial com base na energia era de aproximadamente 6 kg de leite, entretanto, não havia disponibilidade de proteína para produção e nem para atender totalmente a exigência de mantença. Por isto, a ureia foi adicionada gradualmente até que o balanço de proteína degradável no rúmen (PDR) fosse nulo (dieta "2,6% ureia"). Neste ponto, a produção de leite potencial média, indicada pelos modelos, foi 4,6 kg de leite (4,03 a 6,10 kg). A partir daí, não houve vantagem em aumentar a dose de ureia, portanto, os modelos indicaram excesso de ureia na dieta "3,3% ureia" (1% de ureia na matéria natural). O modelo de Dijkstra et al. (1996) foi pouco sensível à alteração do nível de ureia de 0,5% para 3,3% e somente este modelo apontou resposta produtiva com uso de 1% de ureia (% da MS).


Figura 1 - Potencial de produção de leite por uma vaca de 580 kg, consumindo 11 kg de matéria seca de cana-de-açúcar suplementada com níveis de ureia (% MS) ou ureia e farelo de soja (1,8 kg de MS). Considerou-se os modelos NRC gado de leite (2001), CPM-Dairy, CNCPS e Dijkstra et al. (1996)

A adição de 2,6% de ureia na cana-de-açúcar (% MS) (0,78% de ureia na matéria natural) corrigiu a deficiência de PDR, entretanto, para que o potencial energético da cana fosse totalmente aproveitado havia falta de proteína não degradável no rúmen (PNDR). Para corrigir o déficit de PNDR nós adicionamos farelo de soja (1,8 kg de MS ou 13,9% da MS) e reduzimos o nível de ureia (1,1% da MS) até que o balanço de PDR fosse nulo e os potenciais de produção de leite com base na energia e na proteína se igualassem (dieta "1,1% ureia + F. soja") (Figura 1). O potencial de produção aumentou para 10,7 kg de leite (9,7 a 11,6 kg). Todos os modelos matemáticos responderam positivamente com a inclusão de farelo de soja.

Além disso, a menor dose de ureia diminui as chances de ocorrência de problemas com redução de consumo. Considerando o potencial de aumento na produção de leite de 4,6 para 10,7 kg, as chances de ganhos financeiros com a inclusão do farelo protéico são grandes.

Com isso, nesta primeira parte do artigo, nosso maior objetivo foi mostrar o potencial de rações com cana-de-açúcar suplementada apenas com fontes protéicas, usando simulações com modelos matemáticos. Na parte II serão mostrados dados obtidos em alguns experimentos.

JOÃO LUIZ PRATTI DANIEL

RAFAEL CAMARGO DO AMARAL

Zootecnista pela Unesp/Jaboticabal.
Mestre e Doutor em Ciência Animal e Pastagens pela ESALQ/USP.
Gerente de Nutrição na DeLaval.
www.facebook.com.br/doctorsilage

THIAGO BERNARDES

Professor do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras (UFLA) - MG.
www.tfbernardes.com

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JOÃO LUIZ PRATTI DANIEL

MARINGÁ - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 25/09/2009

Prezado Robledo Rene de Moraes, a pouco tempo fiz uma simulação comparando volumosos para vacas produzindo 25 litros de leite/dia e o custo alimentar por litro de leite foi cerca de 15% maior para a silagem de milho em relação a cana-de-açúcar colhida manualmente. Caso esta cana fosse colhida com máquinas, esta diferença seria maior, ou seja, a dieta com cana seria ainda mais barata.

Na literatura conhecida por nós, o experimento que usou vacas mais produtivas foi o de Corrêa et al. (2003). As vacas alimentadas com silagem de milho consumiram 23,1 kg de matéria seca/d e produziram 34,4 kg de leite/d, já as vacas alimentadas com cana-de-açúcar consumiram 21,5 kg de matéria seca/d e produziram 31,9 kg de leite/d. A diferença na produção de leite pôde ser justificada pelo menor consumo de matéria seca.

Embora vacas alimentadas com cana não expressem a totalidade de seu potencial produtivo, esta é uma boa opção de volumoso, mesmo para vacas de alta produção. A tomada de decisão deve ser financeira, levando em conta a logística, inerente a cada propriedade.

Atenciosamente,
João, Rafael e Thiago
ROBLEDO RENE DE MORAES

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/09/2009

Prezados articulistas
Gostaria que comentassem sobre a viabilidade e o custo/beneficio da cana para vacas de alta produção versus silagem de milho ou de sorgo, ou até mesmo de capim elefante.
A minha questão se dá por já ter ouvido de vários técnicos a teoria que a cana só é viável para vacas até 20/25 kg de leite. Entretanto, no mês de julho, visitei uma propriedade no sul de minas que usa cana para vacas no free stall com média de até 40 kg/dia.
RAFAEL CAMARGO DO AMARAL

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 05/08/2009

Prezado José Joaquim Gomes,

Caso a propriedade tenha déficit de mão-de-obra o uso da cal virgem pode ser conveniente, porém da mesma forma irá ocorrer perdas no valor nutritivo da cana.
A adição de uréia antes poderá acarretar em perdas por volatilização, ou seja, parte do nitrogênio aplicado poderá ser perdido.

Atenciosamente
Rafael, João e Thiago.
JOSÉ JOAQUIM GOMES

ALEXÂNIA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 27/07/2009

Senhores:
Gostei do texto referente ao uso da uréia com cana de açucar. Já uso com bastante aceitação pelas vacas, pois não reclamam e nem deixam sobrar no cocho. Tenho, por outro lado, conhecimento que alguns produtores tem usado a cana com adição ou preparo antecipado de, no mínimo 12 horas, com cal hidrolisada, que entendo ser apenas um conservante, pois permite usar a mistura por até 3 dias posteriores. A reposta de vocês ao companheiro Ruyter, acima descrita, esclarece quanto ao valor nutricional, no entanto, deve ser considerada a grande vantagem no que diz respeito a mão de obra, pois o preparo reduz a mão de obra em 2 dias. Será que isto não compensa a perda do valor nutricional?
Por outro lado, se este procedimento for compensatório, qual o melhor momento para adicionar a uréia, no instante do preparo da mistura ou no instante da colocação desta no cocho?
Desde já grato.
José Joaquim Gomes
JOÃO LUIZ PRATTI DANIEL

MARINGÁ - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 30/06/2009

Prezado Ademir de Freitas Junior,
uma estratégia que pode ser adotada é iniciar o fornecimento deste alimento junto com a cana, o que poderia reduzir a utilização diária e aumentar o período com cana disponível. Isto seria melhor do que utilizar apenas um ou outro, pois estes alimentos se complementam, nutricionalmente. Deve-se avaliar o aspecto econômico para utilização deste produto.

Atenciosamente,
João, Rafael e Thiago
JOÃO LUIZ PRATTI DANIEL

MARINGÁ - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 30/06/2009

Prezado Adauto,
para utilização eficiente de seus recursos (cana, pasto, concentrados, etc) é importante definir grupos de animais e assim suas exigências, sem esquecer o lado econômico. Com isto, o consumo será predito e ajustado periodicamente para cada grupo.
Atenciosamente,
João, Rafael e Thiago
RAFAEL CAMARGO DO AMARAL

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 30/06/2009

Prezado Ruyter Carlos da Silva,

Existem estudados visando a adição de óxido de cálcio em cana-de-açúcar, o quais não apontam melhorias no valor nutrtivo da forragem, visto que a teórica hidrolise dos combenentes fibrosos é rapidamente consumida por microrganismos aeróbios. Outro fator importante é que a hidrólise é muito pequena.

Apesar de o aquecimento da massa ser mais lento, há perdas de valor nutritivo da forragem.

Atenciosamente

Rafael, Thiago e João.
ADEMIR DE FREITAS JUNIOR

VALENÇA - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 29/06/2009

Excelente matéria. Estou para começar o trato com cana e ureia, mas creio que meu canavial nao vai durar muito tempo; preciso aumentar a plantação. Gostaria de saber se o trato com cevada apresenta resultado igual, melhor ou pior, comparado a cana e ureia. Quais as vantagens e desvantagens de ambos? Um grande abraço!
RUYTER CARLOS DA SILVA

UNAÍ - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 29/06/2009

Este assunto é de grande interesse, pois o uso de cana com ureia é hoje a solução mais econômica e o custo da uréia é significativo. Gostaria de saber tambem se ha estudos sobre a eficiencia de adição de cal para hidrolizar a cana.

Atenciosamente,
Ruyter
ADAUTO

CUIABÁ - MATO GROSSO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/06/2009


Prezados Senhores,

Estou iniciando na atividade, adquiri uma propriedade recentemente e nela plantei 1 ha de cana este ano, para utilizá-la na próxima seca. Estou próximo a cuiabá. Vou trabalhar com jersey e jersolando (vão parir a parir de outubro), com pasto rotacionado, parte dele irrigado, também no próximo ano.

Não sei se existem referencias aqui na região(não encontrei ninguém que o faça nem dados de pesquisa) quanto a produtividade de pastos tropicais irrigados na região, no inverno.

Aproveitando o ótimo artigo e como ainda não pesquisei a respeito, gostaria de saber a metodologia para quantificar a cana/animal, no caso, se terei que calcular a ms e a qualidade do meu pasto(marandú) e complementar em cana, ou se poderei dar a cana a vontade. E tbém a qtidade de cana em relação a fase de lactação e capacidade individual de cada animal.

Att,

Adauto

ELISIO ANTONIO DE OLIVEIRA

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 26/06/2009

Parabéns a todas as pessoas de bem, que se preocupam com essas realidades. Pois é disso que o homem do campo precisa.

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