Avaliações dos atuais programas de nutrição praticados pelas fazendas podem dirigir futuras práticas de alimentação, bem como o desenvolvimento de tecnologias para os produtores. Desse modo, o nosso grupo contatou dezenas de propriedades leiteiras que possuíam sistema intensivo com o intuito de conhecer como está o uso de silagens e de feno na dieta de vacas em lactação.
Cento e quarenta e seis fazendas (146), em seis estados (RS, SC, PR, SP, MG e GO) foram avaliadas de setembro de 2017 a janeiro de 2018. Produtores e nutricionistas foram entrevistados por meio de um formulário com 21 questões, as quais incluíram as características do rebanho (n=5), silagem de milho (n=4; silagem de planta inteira, grãos úmidos, grãos reconstituídos e espigas), silagem de sorgo (n=3; silagem de planta inteira, grãos úmidos e grãos reconstituídos), pré-secados (n=5; alfafa, azevém e outras culturas), outras silagens (n=1), feno (n=1), forragem fresca (n=1), e a relação forragem:concentrado (n=1).
O número de vacas em lactação nas fazendas variou de 26 a 2020 e a produção diária de leite variou de 600 a 75.100 L/d. A relação forragem:concentrado variou de 36:64 a 80:20. Cinquenta e oito por cento das fazendas tinham duas ou mais fontes de forragem na dieta. A silagem de planta inteira de milho foi utilizada em todas as fazendas, enquanto a silagem de planta inteira de sorgo foi ofertada por 7% das propriedades.
Silagem de grãos úmidos, reconstituídos e de espigas de milho foram inseridas na dieta por 25, 17 e 3% das fazendas, respectivamente. Silagem de grãos de sorgo reconstituídos foi ofertado por 8% das propriedades. Assim, mais da metade das fazendas (52%) adotou alguma silagem de grão (milho ou sorgo) na dieta, conforme pode ser observado na Figura 1.
O feno, a forragem fresca e o pré-secado foram utilizados por 46, 31 e 28% das fazendas (Figura 2). As gramíneas do gênero Cynodon (Tifton 85 e outras), o azevém e a aveia foram os mais utilizados para a produção de feno (68, 18 e 11%, respectivamente). O azevém e as gramíneas do gênero Cynodon foram as forragens mais utilizadas para a confecção de pré-secados (56 e 39%, respectivamente). As gramíneas do gênero Cynodon foram as forragens mais utilizadas para uso como forragem fresca (38%).
Figura 1. Percentagem de fazendas leiteiras que usavam silagem de grãos na dieta de vacas em lactação (Bernardes et al., 2018).
Figura 2. Percentagem de fazendas leiteiras que usavam feno, pré-secado e forragem fresca na dieta de vacas em lactação (Bernardes et al., 2018).
Desse modo, percebe-se que as dietas de vacas em lactação têm sido constituídas por mais de uma silagem (exemplo: silagem planta inteira de milho, silagem de grãos e pré-secado). Isto nos mostra que os produtores que estão sob sistema intensivo e aqueles que migrarão terão que dominar as técnicas de produção e uso de silagens.
Outra conclusão importante é que as silagens de grãos (úmidos, reconstituídos e de espigas) têm sido uma importante fonte de amido para os animais.
Como estas silagens são de mais alta fermentabilidade ruminal quando comparadas aos grãos secos há a necessidade do acompanhamento de um técnico especializado em nutrição para que os animais não respondam de forma negativa. Somado a isso, silagens de grãos exigem conhecimento de práticas de ensilagem porque são muito propensas à deterioração.
A alta adoção de forragem fresca foi outro aspecto que me surpreendeu. Possivelmente, este fato está ligado ao adequado manejo do esterco nas propriedades, ou seja, as excretas são usadas como adubo orgânico e, o consequente crescimento da forragem, tem sido aproveitado como alimento. A confecção de feno e pré-secado tem sido dominada pelas gramíneas do gênero Cynodon, bem como pelo azevém.
O conteúdo deste artigo foi retirado de:
Bernardes, T. F., Cardoso, M. S., Lima, L. M. Silage feeding programs on intensive dairy farms. Journal of Dairy Science, vol. 101, suppl. 2, p. 257.