Recentemente, o Departamento de Zootecnia (DZO) da Universidade Federal de Lavras (UFLA) e o site MilkPoint realizaram um levantamento sobre as práticas de produção e uso de silagens no Brasil.
Nesta pesquisa, diversas perguntas sobre a confecção e fornecimento de silagem para os animais foram feitas aos produtores e aos técnicos (consultores) e, ao final do questionário, eles teriam que apontar as principais barreiras ou limitações que encontravam durante o processo produtivo. Dezenas de aspectos foram relatados, mas um deles nos chamou a atenção e se destacou em relação aos demais, o qual foi: a falta de equipamentos para executar as operações, desde o plantio da cultura até o desabastecimento do silo.
Percebam, na Figura 1, que 41% dos produtores dependem dos serviços de terceiros ou até mesmo do empréstimo de máquinas de outros pecuaristas e/ou prefeituras. Como muitos não possuem equipamentos próprios, a colheita, em geral, ocorre de forma precoce ou tardia. Em ambos os casos, há efeitos negativos à logística da fazenda, bem como no valor nutritivo da silagem e no desempenho dos animais que virão a ser alimentados com o volumoso.
Figura 1 -Percentagem de produtores que possuem serviço próprio ou terceirizado no Brasil (Bernardes, 2012).
Em outro estudo realizado pelo DZO/UFLA, o qual reuniu 43 produtores de leite do Sul de Minas Gerais (segunda maior bacia leiteira do Estado), os resultados mostraram (Figura 2) que o cenário é semelhante ao encontrado na pesquisa a nível nacional. Neste levantamento, além dos serviços terceirizados e próprios, o empréstimo de máquinas (prefeituras e vizinhos) também foi considerado. Somente 21% das propriedades possuem todos os equipamentos para as operações na ensilagem. Os demais pecuaristas terceirizam (totalmente ou parcialmente) os serviços ou dependem do empréstimo dos equipamentos.
Figura 2 - Tipos de serviços (próprio; terceirizado; empréstimo) praticado em 43 fazendas do Sul de Minas Gerais (Miranda et al. dados não publicados).
Embora o uso da mecanização seja menos problemático na etapa de fornecimento da silagem, o primeiro levantamento mostrou também que o desabastecimento manual ainda é o mais utilizado nas propriedades (85%). Apenas a minoria (15%) faz uso de máquinas para desabastecer o silo.
Percebe-se que as fazendas zootécnicas brasileiras que produzem e utilizam silagem são carentes quanto ao item máquinas e equipamentos. Este cenário evidencia que as propriedades ainda são muito dependentes de mão-de-obra para executar as tarefas. Contudo, este é um aspecto que também tem gerado problemas nos últimos tempos, pois a cada dia tem se tornado mais difícil encontrar pessoas disponíveis e capacitadas para trabalhar no campo. Desse modo, a mecanização acaba sendo uma tendência na agropecuária.
Possivelmente, a descapitalização dos pecuaristas seja o principal entrave na aquisição de máquinas. Políticas governamentais, por meio da redução de impostos e financiamento e o associativismo entre os produtores, são formas que podem atenuar este problema, principalmente quanto à compra de equipamentos para a colheita da cultura, pois esta é a etapa que inicia o processo produtivo de silagens. Erros cometidos nesta fase são irreparáveis, pois as etapas subsequentes são dependentes da mesma.
Quando se trata de culturas anuais, o escalonamento do plantio também pode ser uma alternativa para contornar a falta de máquinas, pois a colheita ocorreria em etapas. Contudo, em alguns casos, as colheitas intermitentes podem dificultar a logística pela demanda de equipamentos em períodos distintos.
A terceirização vem crescendo e será o caminho das fazendas zootécnicas no Brasil, contudo, muitas empresas terão que melhorar a qualidade dos serviços prestados para que a ensilagem seja realizada dentro dos parâmetros considerados como adequados. Muitos produtores e técnicos relataram nas pesquisas que, atualmente, há carência de serviços terceirizados qualificados no nosso país.