Apesar de ter viajado para NYC por motivos familiares e de estar sozinha com minha filhota, não poderia deixar de dar uma passadinha na Murray’s Cheese, uma das lojas de queijos mais famosas do mundo. Essa não é nossa primeira postagem sobre o tema, em 2015, a Carla visitou o empório da Grand Station. Desta vez, fui à unidade mais antiga e tradicional da marca, que funciona há mais de 70 anos em uma vizinhança bem mais sossegada, o Greenwich Village.
Viajar com crianças requer uma dose cavalar de paciência e também muita flexibilidade no planejamento para diminuir as inevitáveis frustrações. Como estava meio obcecada em comprar um legítimo Cheddar inglês, elenquei essa tarefa como a número 1, o que eu conseguisse a mais viria como lucro.
Reservei a parte da manhã para o passeio, hora em que eu imaginava que o humor de minha 'pequerrucha' estaria no seu ápice. O acesso é muito fácil por metrô, após descer da estação e andar poucas quadras pelas ruas tranquilas do bairro, o coração já começa a bater mais forte ao avistar a placa da loja .
Antes de entrar, nada melhor do que tirar algumas fotos do lado de fora para aliviar a tensão. Talvez para vocês seja algo totalmente banal, mas para mim, essa experiência equivale a visitar o camarim de seu ídolo depois de um show. Empurrar a porta é a senha para entrar em universo paralelo, onde o tempo parece passar em câmara lenta e onde as experiências são todas tão cheias de emoção que cada segundo fica registrado permanentemente no HD do cérebro.
A primeira impressão não poderia ser melhor, uma atendente sorridente oferecia amostras de biscoitos logo na entrada. Os ofereci para a Alê na esperança de ganhar uns minutinhos a mais de sossego na loja. Após dar dois passos rumo ao interior, descobri que manter o foco seria quase impossível diante de tantas tentações. Minha primeira visão foi uma cena de tirar o fôlego: várias peças de Parmigiano Reggiano empilhadas e ladeadas por três cestas de vime (uma com cortes de Grana Padano, uma com um Parmigiano Reggiano regular e a última com o ‘solo di bruna’).
Em cada cesta, uma plaquinha descrevia as características e qualidades do queijo exposto. Uma mãozinha bem vinda para ajudar os consumidores a escolher entre três itens de aparência similar e de preços nem tanto assim. Essa estratégia se repete em TODOS os produtos da loja, elas funcionam como um mapa guiando-nos entre os mais de 100 tipos de queijo a venda.
Por alguns segundos, sonhei acordada com lojas e supermercados adotando esse mesmo método de identificação no Brasil, ao voltar a mim, olhei em volta e me senti perdida. A organização da loja parece confusa à primeira vista: é que além de queijos, no mesmo espaço convivem salumeria; delicatessen; serviço de catering; uma lanchonete que serve café da manhã, sanduíches, saladas e alguns pratos quentes; uma cave envidraçada e ainda um local que oferece aulas sobre queijos e harmonizações.
Resolvi começar minha exploração pelo fundo da loja porque parecia mais tranquilo. Apesar de ser menos frequentada, essa parte é de uma 'interessância' incrível, uma prateleira de madeira exibia méis, geleias e chutneys desenvolvidos para harmonizar com cada tipo de queijo. Escolhi uma geleia com a marca da Murray’s, no sabor “Apple Butter” cuja embalagem prometia ser o acompanhamento perfeito para o Cheddar. Agora só faltava comprar o queijo!
De onde estava, tive uma visão melhor do espaço. À esquerda da porta da entrada há um espaço com acessórios como facas especiais, tábuas e alguns balcões frigoríficos com produtos pré-embalados. No centro, um aglomerado de pessoas comiam seus sanduíches. Mais ao fundo o enorme balcão frigorífico, comandado por vendedores trajando quimonos vermelhos e uma fila de clientes. Objetivo localizado!
Mustapha: meu adorável guia na Murray’s
Enquanto estava na fila não pude deixar notar as singularidades dos consumidores e seus pedidos. Chamaram a minha atenção uma jovem moderninha que estava organizando um serviço de catering para uma vernissage e uma típica americana da high society; discretíssima, vestindo calças chino, camisa branca e um diamante eloquente, a escolher queijos para a entrada do jantar. Depois de algum tempo fui atendida por um rapaz com um sorriso que quase não cabia em seu rosto, Mustapha, um ‘cheesemonger’ simplesmente adorável. Sua feição tornou-se um pouco preocupada quando ouviu o meu pedido: english cheddar
Escrevi bastante, mas quero compartilhar mais da minha experiência na Murray’s com vocês. Um post só ficaria muito longo. Resolvi dividi-lo em duas partes. Semana que vem publicarei a continuação de minhas “aventuras”. Até lá!