Indo ao encontro de tendências mundiais, o Brasil, por meio da ANVISA, aprovou em outubro de 2020 a Resolução nº 429 ou “Nova Rotulagem”, que dispõe sobre a rotulagem nutricional dos alimentos embalados. As novas regras entrarão em vigor em outubro de 2022 e mudarão não apenas as informações contidas nos rótulos, mas também trarão um impacto visual para os consumidores.
A nova legislação estabelece modificações importantes na rotulagem frontal, como a adoção de painéis informativos para alimentos com alto teor de sódio, açúcares adicionados e gorduras saturadas (Figura 1).
Os produtos que excederem os limites máximos apresentarão um selo indicando que estão acima dos parâmetros máximos estabelecidos pela legislação. Além disso, a Nova Rotulagem também altera a tabela de informações nutricionais e as alegações nutricionais.
De acordo com a Anvisa, os produtos que se encontrarem no mercado na data da entrada da norma em vigor terão, ainda, um prazo de adequação de 12 meses. No entanto, os produtos destinados exclusivamente ao processamento industrial ou aos serviços de alimentação deverão estar adequados já a partir da entrada em vigor do regulamento, de forma a garantir que os fabricantes tenham acesso às informações nutricionais das matérias-primas e ingredientes alimentares utilizados em seus produtos.
Os alimentos fabricados por empresas de pequeno porte, como agricultores familiares e microempreendedores, também possuem um prazo de adequação, mas de 24 meses após a entrada em vigor, totalizando 48 meses no total, ainda conforme a Anvisa.
Figura 1: rotulagem frontal de acordo com as novas regras da nova rotulagem.
Fonte: Anvisa.
Para Virginia Traldi, Líder de Marketing da Kerry para a América Latina, as novas regras de rotulagem podem colocar as indústrias como vilãs e causar uma confusão por parte dos consumidores. “O que eu devo consumir para ser saudável?” questionou em sua palestra com Pedro Tatoni, Gerente de Marketing da Kerry no Brasil e cone Sul, no Dairy Vision 2021, evento que ocorreu online nos dias 17, 18, 23 e 24 de novembro com mais de 400 participantes.
Além das questões levantadas por Virginia, Tatoni apontou que a nova rotulagem “dará uma ‘nova cara’ para os produtos (...). É uma mudança muito forte para os consumidores e para o mercado brasileiro.”
A Nova Rotulagem acende um sinal vermelho para os lácteos brasileiros. Se entrasse em vigor hoje, por exemplo, a maior parte dos produtos estamparia selos no rótulo frontal. De acordo com Pedro, atualmente, “a maioria dos lácteos no Brasil está em zona de risco. Quando olhamos a categoria “sorvetes”, 24% estão acima de 6mg de gordura. Então, teremos um quarto dos sorvetes que terão um selo indicando que são ricos em gordura.”
Nas categorias de iogurte e bebidas lácteas, respectivamente, 67% e 87% dos produtos do país estariam acima da quantidade máxima de carboidratos permitidos por lei. No caso dos requeijões, a ênfase é para o teor de gordura: atualmente, 94% dos produtos estão acima do limite permitido. Contudo, de acordo com dados da Kerry, expostos por Pedro, a situação mais alarmante é relativa aos queijos processados: 100% dos produtos estariam acima do teor de gordura permitido e 90% acima da quantidade de sal.
Os lácteos estão entre os produtos mais vendidos no Brasil que têm uma percepção de saudabilidade pelos consumidores. Porém, diante dos dados expostos acima, a pergunta que fica é: a presença de selos impactará o consumo de lácteos no país?
Para Virginia Traldi, se basear na experiência de outros países onde já aconteceram mudanças em relação à rotulagem, como o Chile e o México, é um caminho para traçar possíveis cenários do que pode acontecer no Brasil. “Os selos não são exatamente iguais aos nossos. Mas já nos oferece uma excelente linha de pensamento de onde podemos chegar.”
Segundo Virginia, no México, 37% dos consumidores reduziram a compra de produtos com a presença de selos nos rótulos, sendo os lácteos uma das categorias mais afetadas. “Dentro dos lácteos, todos produtos que eram considerados como alimentos saudáveis e depois apareceram com o selo tiveram um impacto na percepção do consumidor.” No país, os derivados cujas vendas mais caíram foram iogurtes, requeijões e outros tipos de queijos processados.
No Chile, primeiro país que implementou mudanças nos rótulos frontais dos alimentos embalados, não foi diferente. Assim como no México, a demanda por produtos com a presença de selos também diminuiu, representando uma queda de 26%. No país, Tatoni ressaltou que diversas categorias de produtos foram reformuladas. No caso dos lácteos, 30% das bebidas lácteas e 25% dos queijos foram reformulados.
“Os produtos que tinham a percepção de ser saudáveis caíram muito mais que a média,” apontou Pedro. Ou seja, isso realmente é preocupante para os lácteos, uma vez que os produtos com apelo de saudabilidade — como o leite e seus derivados —, são os mais afetados quando recebem os selos.
Entretanto, existem possibilidades para que as indústrias de laticínios, assim como as de alimentos em geral, minimizem os efeitos da Nova Rotulagem no consumo de seus produtos, como a reformulação dos produtos para reduzir o número de selos; removê-los completamente ou criar linhas e marcas alternativas sem os selos. “Cada empresa pode decidir qual o caminho mais estratégico e adequado para seguir,” ressaltou Virginia.
O ponto aqui é que existe um caminho que o setor ainda precisa percorrer para se adequar às mudanças estabelecidas pela Nova Rotulagem, tanto em ajustes de processos de fabricação, quanto em uma mudança de percepção dos consumidores, sendo este caminho possível para muitos produtos e empresas.
Além da Nova Rotulagem, o Dairy Vision 2021 também abordou pautas mundiais pertinentes para o setor como mercado, tendências de consumo, vertente plant-based e adaptação da proteína animal, sustentabilidade, estratégias competitivas, tecnologia e inovação. Ficou interessado e não se inscreveu? Se inscreva agora e aproveite todos os conteúdos do evento, disponíveis por 60 dias. Veja depoimentos de alguns participantes do Dairy Vision 2021:
“Achei o evento fantástico. O formato on line me permitiu participar ativamente, pois não poderia me ausentar das atividades acadêmicas neste período. Além disso, tivemos palestrantes de diversas partes do mundo, o que talvez não fosse possível, presencialmente.” - Laura Fernandes Melo Cabral, Universidade Federal de Viçosa
“Excelente seleção dos palestrantes. Agregador e atual. Parabéns por mais um excelente evento.” - Luciana Franco, TechnoLeite Representação
“Tema abordado é muito atual e gera grande expectativa para o setor, pois estamos iniciando uma grande jornada de mudanças de hábitos e cultura. Isso com certeza será decisivo para as indústrias e fazendas seguirem na atividade. O meio ambiente e os consumidores têm pressa.” - Anderson Lessa Lemos de Santana, Nestlé
O Dairy Vision 2022 será híbrido e acontecerá em Campinas, na Expo Dom Pedro, nos dias 22 e 23 de novembro. Reserve na sua agenda, nos encontramos em breve para mais uma experiência do leite mundial.