Infelizmente, há uma percepção que controles, atendimento aos requisitos legais e uma gestão profissional é uma linha de corte entre o “Agronegócio” e agricultura familiar, ou uma produção menor. Aliás, para alguns, Agronegócio quase se constitui um palavrão, ou algo que exclui grande parte de produtores rurais do Brasil. Não se atendo às questões ideológicas ou, às vezes, meramente de politicagem, achei importante abordar o tema para desmistificar o processo.
Diversas propriedades já implementaram um sistema com foco em atendimento a requisitos de norma de qualidade. De todas que trabalhei as mais fácies de aplicar e de se manter os conceitos e requisitos, são as propriedades menores, normalmente as que utilizam mão de obra familiar.
A implantação de normas de qualidade, isto para qualquer tipo de organização, rural ou não, tem como ponto crucial o comprometimento dos envolvidos, em especial da “alta direção”. Não há como se fazer uma implementação, caso as pessoas do processo não comprem a ideia. Em organizações maiores o tempo de sensibilização e mudança de conceitos e do comportamento acaba sendo mais estendido.
Nas fazendas que atuei, onde o produtor era o principal ator na produção, os processos são mais rápidos, pois é muito mais fácil sensibilizar o dono que os colaboradores. Ele já comprou a ideia, por isto procurou auxílio. Normalmente, são propriedades menores, com menos equipamentos e funcionários. De modo geral, estão associados a cooperativas, já possuem uma organização e visão de negócio.
Como anteriormente mencionado, um dos pilares da certificação é o atendimento aos requisitos legais. Como destaque, temos a legislação trabalhista brasileira, com diversos detalhes e requisitos. Quanto mais colaboradores houver, mais complexo se torna o atendimento, pois outros artigos são acrescidos conforme o número de funcionários. Assim, nas propriedades onde só a família participava da atividade, os diversos itens de atendimento foram cumpridos com muito mais facilidade. Não há rotatividade dos colaboradores, por exemplo, além de uma escolaridade melhor, o que facilita o entendimento e atendimento das práticas preconizadas.
Outro ponto de suma importância são os maquinários. Estes exigem revisões periódicas, treinamentos específicos, calibrações e manutenções. Os processos devem estar documentados, ou seja, deve-se ter evidência de cumprimento destes itens. Quanto mais equipamentos, máquinas, tratores e implementos, mais procedimentos ou instruções de trabalho devem ser concebidos. Assim como, devem ser gerados os registros e ministrar treinamentos específicos aos colaboradores, itens, inclusive, exigidos na legislação trabalhista rural, e pouco realizados no campo. Torna-se outra vantagem das propriedades menores ou menos complexas.
Também é importante salientar que há certa rotatividade de funcionários no campo. Sendo que, legalmente, independente de se certificar, os colaboradores devem ser mantidos bem treinados em suas funções. Com isto, mais cursos e registros precisam ser realizados.
Claro que os produtores que dispõem de mais recursos acabam tendo algumas facilidades. Proporcionalmente, o custo e o tempo dedicado acabam diluindo no total de leite produzido.
Para mim, a linha de corte para se adequar ou não a estes requisitos é uma questão de acesso à informação, de assistência técnica e do conhecimento em si, que infelizmente, ainda, não se capilarizou na velocidade que deveria no setor rural. Além do comprometimento das pessoas.
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