A produção de alimentos, conforme evidenciado por Silva (2011), exerce um impacto considerável nos recursos naturais, resultando na geração de resíduos que requerem cuidados específicos e uma destinação adequada.
Assim, o artigo aborda as principais fontes de resíduos sólidos, com destaque para as indústrias de laticínios, ressaltando a importância de reduzi-los. A conscientização sobre a origem e a magnitude desses resíduos é fundamental, não apenas em termos de responsabilidade social, mas também em resposta às pressões tanto governamentais quanto de mercado.
No setor lácteo, é fundamental que as empresas compreendam o valor das práticas sustentáveis. Além de fortalecerem sua posição no mercado, essas abordagens são importantes para aumentar a competitividade e as oportunidades de certificação. A minimização de resíduos, a adoção de práticas sustentáveis e a conformidade legal representam grandes desafios ambientais na indústria de laticínios.
Os resíduos sólidos provenientes da indústria de laticínios englobam principalmente aqueles gerados nos escritórios, no processo produtivo, instalações sanitárias e refeitórios da empresa. Notavelmente, o setor administrativo destaca-se pelo consumo significativo de papel, resultando em uma considerável produção de resíduos recicláveis. Por outro lado, os rejeitos, conforme definidos pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, (2010), compreendem os resíduos não recicláveis, principalmente constituídos por materiais provenientes de banheiros (como papel higiênico, absorventes) e outros resíduos de limpeza/produtos químicos.
A Associação brasileira de normas técnicas (ABNT-NBR 10004, 2004) categorizou os resíduos sólidos considerando os potenciais riscos ao meio ambiente e à saúde pública. Esta classificação distingue entre resíduos perigosos e não perigosos, sendo estes últimos subdivididos em inertes e não inertes. O processo de classificação envolve a identificação da atividade ou procedimento que originou o resíduo, seus constituintes e características.
O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA N° 275/2001) estabelece o código de cores padrão correspondente a cada tipo de resíduo (Figura 1). Essas cores são destinadas à identificação de coletores e transportadores, bem como para a implementação de iniciativas informativas visando uma coleta seletiva adequada. As cores designadas são as seguintes: AZUL para papel/papelão, VERMELHO para plástico, VERDE para vidro, AMARELO para metal, PRETO para madeira, LARANJA para resíduos perigosos, BRANCO para resíduos ambulatoriais e de serviços de saúde, ROXO para resíduos radioativos, MARROM para resíduos orgânicos, CINZA para resíduo geral não reciclável ou misturado, ou contaminado a ponto de não ser adequado para separação (CONAMA, 2001).
Figura 1. Código de cores padrão para cada tipo de resíduo
Fonte: Dos autores ,2024.
No contexto da indústria de laticínios, é importante ressaltar a importância da segregação adequada dos resíduos em cada lixeira (Figura 2). Essa prática facilita o gerenciamento eficiente dos resíduos. A classificação dos resíduos possibilita a implementação de estratégias de redução, como a modificação de produtos ou processos, a destinação apropriada de resíduos sólidos, a reutilização de resíduos como insumos, a reciclagem de materiais selecionados e a realização da disposição adequada dos rejeitos.
Figura 2. O que pode e não pode ser inserido nas lixeiras de acordo as características dos resíduos
Fonte: Dos autores, 2024.
Gerir esses resíduos não apenas reduz o impacto ambiental, mas também otimiza os custos fixos e variáveis da empresa. A falta de conscientização, treinamento insuficiente e escolhas inadequadas de equipamentos podem contribuir para o excesso de resíduos. Identificar esses gargalos e desenvolver soluções inovadoras é essencial.
A prática da reciclagem exerce um impacto direto no meio ambiente, reintegrando à cadeia produtiva itens que possuem potencial de reaproveitamento e que, de outra forma, seriam descartados. Esse processo confere uma nova utilidade aos resíduos, prevenindo o desperdício, mitigando os impactos ambientais e contribuindo para a preservação da saúde. Ao optar pela reciclagem, os materiais descartados nas lixeiras podem ser reutilizados para criar o mesmo produto ou serem transformados em algo útil para diferentes propósitos.
Além disso, no âmbito social, a reciclagem desempenha um papel importante ao sustentar a subsistência de milhões de catadores. Esses trabalhadores dependem da venda desses itens recicláveis para assegurar não apenas a própria sobrevivência, mas também a de suas famílias.
A manutenção do equilíbrio ambiental é fundamental para preservar a saúde tanto do ambiente quanto da população. Nesse contexto, a adoção dos "5 Rs" concebidos através dos princípios de Reduzir, Recusar, Reciclar, Repensar e Reutilizar, configura-se como um instrumento para atingir os objetivos estabelecidos na Educação Ambiental (SOUZA et al., 2017). É fundamental destacar as iniciativas que complementam a prática da reciclagem no contexto da educação ambiental, referindo-se aos 5 Rs da reciclagem (Figura 3).
Figura 3. 5Rs da reciclagem.
Fonte: Dos autores, 2024.
- Repensar: Diminuir a produção de resíduos, consumindo de maneira mais consciente e evitando o excesso.
- Reutilizar: Utilizar produtos e embalagens mais de uma vez, prolongando sua vida útil.
- Reciclar: Encaminhar materiais descartados para processos de reciclagem, transformando-os em novos produtos.
- Reduzir: Minimizar a geração de resíduos e promover o uso eficiente de recursos.
- Recusar: Evitar produtos descartáveis e prejudiciais ao meio ambiente.
Os 5 Rs do meio ambiente, quando aplicados ao contexto de laticínios, destacam a importância de reduzir o desperdício na produção, reutilizar embalagens sempre que possível, reciclar materiais de embalagem específicos para laticínios, recuperar energia de resíduos do processo de produção e rejeitar práticas ambientalmente prejudiciais, promovendo assim uma abordagem mais sustentável.
Redução da geração de resíduos sólidos
Para diminuir a geração de resíduos sólidos, é essencial compreender o processo produtivo da empresa e analisar cada fase. Durante esse procedimento, é fundamental considerar diversos aspectos ambientais da empresa (Figura 4), tais como:
Figura 4. Aspectos ambientais da empresa
Fonte: Dos autores, 2024.
As indústrias de laticínios devem encaminhar os resíduos gerados, quando possível, para reuso, reutilização ou reciclagem observando o tipo de resíduo (Figura 5) e devem utilizar estratégias para minimização de resíduos na fabricação de produtos lácteos (Figura 6). Os resíduos só podem ser recolhidos e transportados por empresas licenciadas pelos órgãos ambientais, as quais estão autorizadas a receber e destinar adequadamente esses resíduos conforme as leis vigentes.
Figura 5. Tipo de resíduo e tratamento/destinação final dos resíduos de acordo com a classe (NBR 10.004/2004)
Fonte: Dos autores, 2024.
Figura 6. Estratégias para minimizar a produção de resíduos na fabricação de produtos lácteos
Fonte: Dos autores, 2024.
A gestão de resíduos sólidos é um dos aspectos importantes para a sustentabilidade ambiental da empresa. Contudo, sabe-se que o setor enfrenta desafios significativos nesse sentido, como a falta de infraestrutura adequada, tecnologias desatualizadas, falta de recursos financeiros e a necessidade de conscientização e treinamento. Superar esses desafios requer um esforço conjunto da indústria, governos e comunidades, visando implementar práticas sustentáveis e inovadoras para lidar com os resíduos sólidos de forma eficiente e responsável.
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Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10004:2004 (2004). Resíduos sólidos – Classificação. Coletânea de Normas. 2ª ed. Rio de Janeiro, 2004. 124p.
BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução CONAMA nº 275, de 25 de abril de 2001. Dispõe sobre a classificação de resíduos sólidos. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 abr. 2001. Seção 1, p. 84-86
BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 3 ago. 2010. Seção 1, p. 1.
SILVA, P. C. Controle ambiental em indústrias de laticínios. Brasil Alimentos, n. 7, mar/abr de 2011
SOUZA, L. L.; SILVA, S. S.; SOUZA, E. L. (2017). Um Caminho Melhor Para Os Resíduos Sólidos: Levando A Educação Ambiental Para As Escolas Públicas De Tefé (Amazonas). Extensão em Revista. 1(1), 84-94.