A endometrite é classificada pela presença de infecção uterina após 21 dias pós-parto, caracterizada por descarga uterina purulenta ou mucopurulenta, associada a infecção bacteriana. Diversos métodos para diagnóstico dessa patologia podem ser utilizados, sendo que nenhum deles é considerado padrão-ouro: coleta de conteúdo vaginal utilizando luvas, por meio de Metricheck, marcadores sanguíneos; e técnicas mais diretas, como citologia utilizando escova plástica cervical denominada Cytobrush, biopsia endometrial, esterase leucocitária e cultura bacteriana.
Um estudo realizado por McDougall et al. (2020) em fazendas neozelandesas buscou avaliar a sensibilidade e a especificidade dos testes mais utilizados: avaliação da descarga vaginal purulenta (DVP) e citologia. Muitos estudos sugerem que a citologia é mais precisa que a DVP, enquanto outros relatam maior associação entre DVP e problemas reprodutivos.
De acordo com Sheldon et al. (2009), a classificação de endometrite pode ser clínica ou subclínica, sendo que o diagnóstico por meio da DVP é mais associado à forma clínica e pode ser coletado com auxílio do Metricheck, por meio de coleta vaginal com luvas ou vaginoscopia. Por outro lado, o percentual de células polimorfonucleares (PMN) é mais comumente utilizado para diagnóstico de endometrite subclínica. A amostra é coletada por meio de lavagem uterina ou cytobrush e realizada a contagem de PMN, composta por células fagocitárias, características da presença de inflamação no útero.
O estudo de McDougal et al. (2020) contou com 1806 vacas de 100 rebanhos distintos da Nova Zelândia, objetivando analisar a prevalência de endometrite em sistemas baseados em pastagem e com reprodução sazonal. Os pontos de corte utilizados foram: ≥2% de PMN e escore ≥2 de DVP, que comumente é utilizado para tratamento.
Figura 1. Escore de Descarga Vaginal Purulenta (DVP), sendo ≥2 o ponto de corte utilizado para tratamento e estatisticamente mais relacionado a alterações de índices reprodutivos.
Fonte: imagem adaptada de Sheldon et al. (2006)
De acordo com McDougall et al. (2007), a descarga vaginal é classificada em: (0) muco cristalino, (1) muco limpo, (2) muco com estrias de pus, (3) descarga mucopurulenta, (4) descarga purulenta e (5) descarga fétida. No presente estudo, a partir do escore 2, que apresentou dados similares ao escore 3, já era observado impacto na reprodução. Nesses casos, já há menor concepção à primeira inseminação artificial (IA), taxa de prenhez inferior na 6ª semana da estação reprodutiva, como demonstrado na Tabela 1. Assim, 25,1% da população avaliada apresentava endometrite e impactos negativos na reprodução.
Tabela 1. Escore de Descarga Vaginal Purulenta para vacas avaliadas aproximadamente com 42 dias pós-parto e proporção de vacas em cada escore de DVP com %PMN ≥2 e avaliação de parâmetros de eficiência reprodutiva
Fonte: tabela adaptada de McDougall et al. (2020)
A %PMN limite foi determinada de acordo com as semanas em lactação, levando em consideração a melhor sensibilidade e especificidade, relacionada à taxa de concepção à primeira IA, fortemente associada à endometrite. Para a análise, foi observada que a contagem de 200 células nucleadas ao invés de 100 aumenta a precisão e repetibilidade
Foram considerados os seguintes pontos de corte: ≥6% até 4 semanas de DEL, ≥2% entre 4 e 6 semanas de DEL e ≥3% após 6 semanas de DEL. De forma geral, quando a %PMN for maior ou igual a 2% é atribuído diagnóstico de endometrite, que neste caso, afetou 27% da população avaliada.
O percentual de PMN igual ou maior a 2, segundo análises estatísticas que determinaram maior especificidade e sensibilidade, de modo geral, já impacta substancialmente nas taxas reprodutivas, com 8,7% menos prenhez à primeira IA, 5,6% menos inseminações na 3ª semana da estação reprodutiva, 11% menos prenhez na 3ª semana e 8,9% na 6ª semana (Tabela 2).
Tabela 2. Associação entre vacas com baixo (0 e 1) e alto (≥2%) percentual de PMN examinado aproximadamente 42 dias pós-parto e taxas reprodutivas com suas respectivas diferenças
Ao analisar em conjunto estes testes diagnósticos, os mesmos foram considerados independentes, embora ambos estejam correlacionados com endometrite. O presente estudo demonstrou que a sensibilidade e especificidade na avaliação da DVP foi superior à contagem de PMN, ou seja, teve maior confiabilidade em detectar os casos negativos e positivos para endometrite. Ainda, este método é de mais fácil execução, barato e rápido para o dia a dia de fazendas leiteiras. É importante ressaltar que embora a presença de DVP com escore igual ou superior a 2 esteja fortemente relacionado à endometrite, o escore maior ou igual a 3 impacta significativamente nas taxas reprodutivas, além disso, demais avaliações do animal devem ser realizadas para confirmação, como ultrassonografia uterina.
Alguns autores correlacionam a endometrite com a produção do animal, como Sheldon et al. (2009) associaram uma maior incidência de endometrite com vacas de produção acima de 35 litros/dia. No entanto, o presente estudo concluiu que esta não é uma doença de produção, uma vez que não houve diferença estatística na prevalência total de vacas com endometrite e prevalência dentro dos rebanhos avaliados. Assim, foi determinado que a endometrite não é uma doença de rebanho, pois está intimamente ligada a variações da própria vaca.
Deste modo, é sugerido que, para diminuir a prevalência de endometrite, as intervenções devem incluir diagnóstico e tratamento individual das vacas, ao invés de focar em intervenções a nível de rebanho. É preciso ressaltar que a endometrite de forma clínica ou subclínica, sugere diminuição de taxas reprodutivas.
Vale a pena ler também > Associação entre atraso na cura clínica de metrite e descarte em vacas leiteiras
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