Nessa mesma região, onde produtores tradicionais abandonam a atividade e arrendam suas terras férteis, outros produtores, direcionados pelo conhecimento técnico e pela busca de uma forma nova de produzir e de gerenciar a atividade, têm obtido sucesso, transformando a produção de leite em uma fonte de geração de riquezas que se traduz na melhoria da qualidade de vida dos envolvidos. Exemplo disso são os produtores de leite distribuídos nos diversos municípios da região, que com o auxílio de parceiros locais recebem o atendimento dos técnicos da Cooperideal. Municípios como Ribeirão Claro, Ibaiti e Tamarana são parceiros desse trabalho no norte paranaense e viabilizam o atendimento técnico a seus produtores de leite, demonstrando visão e sensibilidade em relação às necessidades das propriedades produtoras. O Laticínio Carolina, importante empresa captadora de leite da região, também é parceiro deste trabalho e viabiliza o trabalho técnico da Cooperideal a seus produtores fornecedores. Existem ainda os produtores que arcam sozinhos com os custos deste trabalho, como é o caso do Sítio Junqueira, localizado no município de Santo Antônio da Platina, na região do Paraná conhecida como Norte Pioneiro. A família Vitório sempre viveu no meio rural, os filhos cresceram ajudando os pais na execução das tarefas da fazenda, que teve por muito tempo o gado de corte como sua principal atividade. À medida que os filhos cresciam, a propriedade de área total de 75 hectares parecia diminuir de tamanho frente às necessidades crescentes da família. Com o passar dos anos os filhos foram se casando e mais pessoas dependiam da renda gerada na fazenda. A renda oriunda do gado de corte já não era suficiente e a família decidiu que era hora de investir em uma atividade capaz de aumentar os ganhos, de maneira que os filhos e suas respectivas famílias pudessem permanecer na propriedade, garantindo a continuidade do trabalho no Sítio Junqueira, e a profissionalização da atividade leiteira parecia uma boa opção. Em 2006, a propriedade produzia ao redor de 200 litros/dia a partir de um rebanho sem especialização: de um total de 51 vacas, apenas 25 produziam e não havia nenhum tipo de controle sobre a situação zootécnica e econômica da atividade. Nessa mesma época a família Vitório teve o primeiro contato com o Agrônomo Wilson Marques Povinha, na ocasião técnico da Cooperideal responsável pela região, que os convidou a conhecer o trabalho técnico realizado em outras propriedades do Estado. Foram visitadas propriedades nos municípios de São João do Caiuá e Colorado, ambas no norte do Paraná. Motivados pelos bons resultados vistos nas propriedades visitadas, a família decidiu por investir no leite, de maneira a transformar a atividade na principal fonte de renda da propriedade.
A família, composta pelo pai José Carlos, pela mãe Dona Léa e pelos filhos Pablo, Vitor e Thenili, nunca havia trabalhado com manejo de pastagens, base do sistema que seria implantado na fazenda, sendo que até então o rebanho andava livremente pela propriedade e buscava seu próprio alimento. Uma das primeiras ações foi o estabelecimento de um sistema de pastejo que deveria ser inicialmente pequeno, onde a família pudesse entender os conceitos sobre a produção e o manejo intensivo de pastagens, os custos, o desempenho animal e os resultados possíveis de serem obtidos na área trabalhada. Foi estabelecido então um pequeno sistema de pastejo de capim Tifton 85, esse módulo possuía área total de 0,4 ha, dividido em 19 piquetes de 200 m2 cada. Uma área minúscula diante de um rebanho total de mais de 50 vacas parecia uma incoerência, mas ainda assim a recomendação técnica foi acatada pela família e o sistema foi estabelecido.
Foto com a família Vitório - Santo Antônio da Platina-PR:
Esse primeiro sistema de pastejo, apesar de pequeno, era suficiente para cerca de 5 ou 6 animais, e nele foram colocados os animais mais produtivos selecionados dentre aqueles que estavam em lactação no momento. Esses animais, a maior parte com parição recente, ao serem colocados nessa área com capim adubado e bem manejado responderam rapidamente com aumento de produção e animais com produções ao redor de 15 litros/dia foram mantidos nesse sistema sem que houvesse a necessidade de fornecimento de alimento concentrado. A tabela 1 é resultado da análise de uma amostra de capim Tifton 85 no ponto de pastejo coletado em uma das propriedades assistidas pela Cooperideal (na foto 2 é possível observar o momento em que a amostra foi coletada pelo técnico para envio ao laboratório). A alta qualidade do capim observada na análise é fruto de um bom manejo e de boa fertilidade do solo, princípios básicos para a boa qualidade da forragem e consequentemente para o bom desempenho dos animais mantidos nesse pasto.
Tabela 1: Resultado da análise bromatológica de amostra de capim Tifton 85 no ponto de pastejo.
Quadro 1: Resumo dos índices econômicos e zootécnicos do Sítio Junqueira - Comparação de dois períodos de trabalho
Pela análise dos índices do Sítio Junqueira, é possível perceber uma grande evolução no volume de leite produzido pela propriedade no período, saindo de uma produção diária média de 192 litros em 2006 até atingir a produção média de 1.267 litros em 2013. À medida que a propriedade investia na formação de áreas de pastejo intensificado, que permitiam às vacas do rebanho acesso a alimento de qualidade e em quantidade que atendessem suas necessidades, a produção aumentava. Porém, além da alimentação, a fazenda passou também por um processo de estruturação de rebanho, e assim, com o passar dos anos, foram sendo feitos ajustes que permitiram o aumento da participação de vacas em lactação na composição do rebanho. Com ajustes na estrutura do rebanho, foi dada atenção também à reprodução, com ações relacionadas ao conforto e ao manejo reprodutivo dos animais, além da aquisição e seleção de animais especializados, com boa persistência de lactação. Com uma porcentagem maior de vacas em relação ao total de animais do rebanho (melhorias na estrutura de rebanho) e com as vacas produzindo por mais tempo e reproduzindo melhor, a porcentagem de vacas em lactação em relação ao total de animais do rebanho cresceu significativamente (de 22% em 2006 para 48% em 2013). Esse maior número de vacas em lactação, aliado a ajustes de manejo e melhoria da qualidade individual dos animais (aumento da média de produção por animal), explica o aumento da produção da fazenda. Note-se que em 2006 a fazenda possuía um total de 51 vacas (25,5 em lactação e 25,6 secas) com uma produção média de apenas 192 litros/dia; em 2013 o total de vacas subiu para 86 (72,2 em lactação e 13,8 secas), aumento de 67% em relação ao número de vacas de 2006, porém com a produção crescendo mais de 660% em relação a 2006 (dos 192 para os 1.267 litros/dia). A divisão do número de vacas em lactação da fazenda pela área utilizada na atividade nos permite a obtenção do índice Vacas em Lactação por hectare (VL/ha), relacionando assim os fatores que impactam a quantidade de vacas em lactação na fazenda (estrutura do rebanho, reprodução e persistência de lactação) com a eficiência no uso da terra. No caso do Sítio Junqueira, o índice VL/ha nos ajuda explicar a evolução na produção da propriedade, conforme mostra o gráfico 1:
Gráfico 1: Relação entre o número de vacas em lactação por hectare (VL/ha) e o volume de leite produzido diariamente no Sítio Junqueira no Período 2006 - 2013.
Em 2006 o Sítio Junqueira tinha 25,5 vacas em lactação utilizando uma área de 24 hectares para a atividade, assim o número de vacas em lactação por hectare (VL/ha) obtido era de 1,06 (25,5 vacas / 24 hectares), com uma produção diária de 192 litros/dia. No decorrer dos anos, as ações voltadas para o aumento da participação de vacas em lactação em relação ao total de animais do rebanho, melhoria da qualidade dos animais e uso mais eficiente da terra, permitiram um crescimento constante do índice VL/ha, até atingir 3,01 (72,2 vacas / 24 hectares) em 2013, com produção de 1.267 litros/dia, demonstrando a importância desse índice na evolução da produção da fazenda e, consequentemente, na renda gerada pela atividade. Atualmente o Sítio Junqueira é assistido pelo agrônomo Carlos Santin, técnico da Cooperideal na região do Norte Pioneiro do Paraná.