Fator fundamental para assegurar a rentabilidade dos produtores, a competitividade da indústria e a segurança alimentar dos consumidores, a qualidade do leite depende de uma série de aspectos relacionados a manejo, sanidade e nutrição, entre outros. Porém, os resultados obtidos por centenas de fazendas em todo o Brasil indicam que, muito além das questões técnicas e operacionais, o que vem fazendo a diferença para elevar a qualidade do produto é a gestão das propriedades.
Consideremos como exemplo a ocorrência de mastite, uma das principais preocupações de produtores e indústrias do setor, dados os riscos e prejuízos que envolve. Um estudo recente desenvolvido na Clínica do Leite, tomando como base análises de amostras de 422 indústrias, apontou que não houve melhoria nos indicadores de CCS (Contagem de Células Somáticas) entre 2010 e 2016. Assim, é preciso reconhecer que esforços, isolados ou coletivos, visando à melhoria desse cenário não surtiram efeito nos últimos anos.
Qual o caminho, então, para reverter essa situação? A resposta está na gestão das fazendas! Nossa experiência na Clínica do Leite, acompanhando propriedades de todo o país, permite afirmar que as fazendas com pior desempenho em relação à qualidade sofrem com problemas típicos de gestão: falta de clareza quanto à saúde do negócio, empregados desengajados, dificuldades financeiras. No meio desse caos, normalmente há proprietários (ou gerentes) perdidos entre uma série de decisões a serem tomadas. Obviamente, em um ambiente assim será muito difícil obter bons resultados, como a melhoria da CCS.
Fazenda-empresa
Para que a gestão possa jogar a favor da qualidade, o primeiro passo é enxergar a fazenda como algo muito maior que um local de produção de leite. A propriedade deve ser vista como um empreendimento, um negócio que gera emprego, renda, impostos. Como em qualquer outra empresa, tornar esse negócio rentável, com futuro garantido, exige uma gestão com base em liderança, informação e conhecimento. E fazendas que reúnam essas características têm mais chances de sucesso na implantação de qualquer ação com foco na melhoria da qualidade do leite.
No caso da redução da CCS, fica muito mais fácil convencer os empregados a adotarem os procedimentos recomendados quando eles compreendem o impacto do problema na qualidade do leite e na rentabilidade do produto -- e, assim, em sua própria atividade. Tão importante quanto a atenção às pessoas é o cuidado com as informações relativas ao negócio. Infelizmente, ainda encontramos no Brasil uma série de fazendas que não registram de forma sistemática os principais dados sobre a produção. E vale lembrar que somente com base em informações confiáveis será possível tomar decisões com segurança e isso se aplica às ações corretivas para reduzir a CCS.
Para que a evolução do negócio seja contínua, cabe ao gestor buscar conhecimento em gestão. Em muitas fazendas que implantaram o Sistema MDA, modelo de gestão desenvolvido pela Clínica de Leite, temos acompanhado a melhoria gradual de indicadores de qualidade. São exemplos de que a partir de ações simples, focadas em organizar o fluxo de trabalho, utilizar corretamente as informações, resolver problemas de forma definitiva e engajar as pessoas, é possível conquistar ganhos significativos não apenas para os produtores, mas para toda a sociedade.
²Pesquisador e Gestor de Relacionamento da Clínica do Leite.